Carta para a Educação na Maré

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Engajamento, propostas e esperança para a qualidade do ensino nas 16 favelas

Por Andréia Martins

Andréia Martins é diretora da Redes da Maré e integrante da Rede de Ativistas pela Educação do Fundo Malala no Brasil.

Quando cheguei à Maré, em fevereiro de 2001, para trabalhar num projeto de atividades extracurriculares nas escolas públicas, logo me encantei pela força de mobilização e pela capacidade de realização das pessoas. Tamanho foi meu encantamento que não saí mais e, em junho de 2023, pude presenciar um momento histórico: cerca de 200 pessoas discutindo o texto final da Carta para a Educação na Maré

Foi uma imagem de engajamento, mobilização e protagonismo de moradores e profissionais comprometidos com a educação nesse território. Foi também a concretização da missão da Redes da Maré de tecer redes pela ampliação de direitos de quem vive aqui, a partir da execução de ações estruturantes nas 16 favelas, com mobilização comunitária e produção de conhecimento. 

A Carta para a Educação na Maré é um documento com 42 propostas e recomendações para o poder público para a melhoria do ensino e ampliação da aprendizagem dos estudantes das escolas públicas da Maré. Ela foi  construída de forma colaborativa, durante os dois dias do 4º Seminário de Educação da Maré: Diálogos e possibilidades para garantia do direito à educação, realizado no Centro de Artes da Maré, nos dias 14 e 15 de junho. 

Esse documento foi elaborado por 358 participantes do evento, engajados na garantia do direito à educação pública. Seus signatários são pessoas que desejam que todas as crianças e os adolescentes da Maré não precisem sair daqui para ter um ensino de qualidade; que não sofram as consequências das constantes operações policiais no território; que consigam vagas nas escolas que desejarem e que tenham uma educação inclusiva, antirracista, antimachista e sem descriminação de pessoas LGBTQIAP+. 

Por último, eles querem que crianças e adolescentes tenham condições para estudar numa escola acolhedora e bem estruturada, com professores que consigam exercer da melhor forma o seu ofício.

Em 2001, existiam apenas 19 escolas públicas no território: 16 da rede municipal e 3 da rede estadual. Hoje, elas são mais do que o dobro, comprovando que o trabalho de mobilização territorial é efetivo e inspirador. Em 2012, o coletivo A Maré que Queremos entregou, para o então prefeito Eduardo Paes, um documento que sistematizava os resultados das discussões e reflexões da Redes da Maré com os dirigentes das associações de moradores que, naquele momento, já se reuniam há quase um ano para discutir uma proposta conjunta de um projeto estrutural para a região.

O documento apresentou sugestões para várias áreas, inclusive para educação, cuja demanda era o aumento do número de unidades escolares para Educação Infantil e para Educação de Jovens e Adultos.

A ampliação do número de escolas municipais aconteceu entre 2011 e 2018, com a construção das 25 das atuais 46 escolas, ou seja, 54% do total. O grande aumento se deu entre 2014 e 2016, com a criação dos dois campi de escolas: Campus Maré I, na Nova Holanda, e Campus Maré II, na Salsa e Merengue. 

Em 2018, o grupo entregou um segundo documento com propostas atualizadas para os gestores municipal e estadual. Em relação à educação, a demanda naquele momento para a rede municipal continuava sendo a construção de escolas em algumas favelas não atendidas por determinados segmentos de ensino e a ampliação de vagas para Educação Especial e Educação de Jovens e Adultos. 

Para a rede estadual, que atende ao Ensino Médio, a demanda era a construção de mais escolas. Em 2018, também fruto de mobilização comunitária, foi inaugurada a quarta escola dessa rede de ensino, na Nova Holanda.

Até dezembro, o Maré de Notícias vai mergulhar nas questões e nos problemas expostos detalhadamente na Carta para a Educação na Maré, numa série de quatro reportagens sobre o tema, com o objetivo de engajar a sociedade civil e cobrar dos governantes ações mais eficazes para uma educação mais justa na Maré. A Carta para a Educação na Maré é de todos, todas e todes. É nossa. Sigamos!


Você pode ler a Carta para a Educação na Maré completa acessando o link abaixo:

https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/CartaEducacaoMare_2023.pdf

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