O jovem paraibano veio para Maré realizar sonho de ser operador de som
A sétima operação policial em 2024 na Maré, realizada na última quarta-feira (6), deixou mais uma vítima: o padeiro Michael Schumacher, de apenas 29 anos. Oriundo da Paraíba, o jovem veio para Maré aos 15 anos, com a perspectiva de conseguir melhores condições de trabalho e realizar o sonho de se tornar operador de som automotivo. Michael saiu como de costume às 4:20h da manhã do Salsa, uma das favelas do Conjunto de Favelas da Maré, para trabalhar. Ele cruzava o Rio de Janeiro para chegar até a padaria na Zona Sul, emprego que ele mantinha desde que chegou no estado. Infelizmente, naquela madrugada, Michael foi atingido por disparo de arma de fogo, se tornando mais um trabalhador que perde a vida de forma violenta durante ações policiais no território.
Como se já não bastasse ter o maior dos direitos ceifados, o corpo do padeiro ficou estirado ao chão, sem socorro, sem reconhecimento e sem perícia:
“A pior parte foi a polícia não ter prestado socorro. Deixaram ele no chão, jogado e os próprios moradores tiveram que levar ele pro UPA. Se tivessem prestado socorro, será que ele teria morrido?” questiona Luciana, cunhada da vítima.
Emocionada, Núbia, a irmã de Michael conta que os pais, que moram na Paraíba, estão muito abalados: “Meu pai está muito doente, minha mãe está à base de medicamentos e estão muito abalados. Eles não têm condições de vir pra cá. Vamos dar um jeito de levar pra lá, juntar os amigos, os familiares e cada um dá um pouquinho pra ele descansar onde nasceu”, diz.
Em relato exclusivo ao Maré de Notícias, a família do jovem informa que a única evidência do ocorrido é a mochila do rapaz com a perfuração que a bala deixou. O material foi entregue à família em uma sacola pela Unidade de Pronto Atendimento da Vila do João.
Para identificar o rapaz, a família precisou abrir a mochila coberta de sangue e pegar os documentos que ele carregava ao lado da carteira de trabalho: “Só entregaram. Disseram que eram os pertences que estavam com ele e que não acharam os documentos. Tivemos que revirar a mochila e achamos a carteira encharcada de sangue e com a identidade”, conta Luciana. O corpo de Michael ficou cerca de sete horas na UPA aguardando a remoção pela Defesa Civil.
Inicialmente, a Polícia Militar declarou que não havia registro de óbito durante a referida operação. No entanto, ao ser questionada novamente no dia seguinte, a resposta foi que “as investigações sobre o fato estão sob responsabilidade da Polícia Civil, e a SEPM [Secretaria de Estado da Polícia Militar] está colaborando integralmente com os procedimentos.” Sobre a omissão de socorro, o órgão não respondeu.
O eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré e o Maré de Notícias seguem acompanhando o caso de Michael Schumacher.