Por Redação, em 24/09/2021 às 07h
Uma boa notícia para a cultura carioca: o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, na região central do Rio, reabrirá em 5 de novembro – Dia Nacional da Cultura – com obras inéditas de Hélio Oiticica (1937-1980), entre elas, duas instalações (penetráveis) criadas pelo artista, mas nunca executadas.
Esse é um dos frutos da parceria entre a Secretaria Municipal de Cultura e César Oiticica Filho (sobrinho de Hélio e gestor do seu legado).
“É um novo modelo de parceria com o poder público e também de apresentação da obra de Hélio Oiticica. Não se trata apenas de uma exposição, mas uma nova proposta, principalmente o diálogo entre o trabalho do Hélio e o Rio”, ressalta César, à frente do instituto “Projeto Hélio Oiticica”, responsável por conservar e divulgar o acervo, mantido na casa onde morou o artista no Jardim Botânico.
Os dois penetráveis inéditos serão expostos nos arredores do equipamento cultural (Rua Imperatriz Leopoldinense e Praça Tiradentes). Ambos estarão abertos a intervenções artísticas das mais diversas áreas, de grafite a espetáculo de dança.
“A obra de Hélio Oiticica, além de referência artística na história do Brasil, é necessária para os tempos de retomada da cultura por ser um convite à interação. Precisamos criar condições para a arte chegar bem perto das pessoas. Esse é o grande lema do novo tempo da cultura no pós-pandemia”, diz o secretário municipal de Cultura, Marcus Faustini.
No imóvel, são três andares (somente os dois primeiros serão reabertos por enquanto), sendo seis espaços de exposição, dois mezaninos, duas salas multiuso, sala de leitura, auditório com cem lugares e um café/restaurante.
A ideia é ocupar o primeiro andar com processos artísticos de Oiticica, entre croquis, desenhos e maquetes – uma delas referente a uma obra de 1960, do gigantesco projeto “Cães de Caça”, no qual incluiu referências ao poema “Enterrado”, de Ferreira Gullar, e ao teatro integral de Reynaldo Jardim. Ali também estará o primeiro penetrável do artista, o “PN1”, criado em 1960 (1,5mx1,2X2,20m); com paredes que se movem, iniciando a participação direta do espectador.
No segundo andar, algumas obras do artista pertencentes à família. O penetrável “Nas quebradas”, de 1978, foi feito em São Paulo, um processo criativo ao qual o artista denominava “delírio ambulatório”.
A partir de 2022, o auditório receberá cursos, encontros e debates sobre artes no Rio. Dali em diante, haverá exposições temporárias de artistas e obras que dialogam com a obra de Oiticica, via curadorias temporárias.
“É importante manter uma agenda constante de obras do Hélio para devolver o sentido de um espaço que leva seu nome”, comenta Vera Saboya, a gerente de equipamentos culturais da Secretaria de Cultura.
O edifício do Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica foi construído em 1872 para sediar o Conservatório Nacional de Música, ampliado em 1890, sob a orientação do arquiteto italiano Sante Bucciarelli. Fundado como tal em 1996, o imóvel abrigou até 2009 parte do acervo de Oiticica por meio de convênio com o “Projeto Hélio Oiticica”.
Informações: 2976-1246.
Algumas considerações de César Oiticica Filho:
Ao mesmo tempo que você está vendo a obra do Hélio Oiticica dentro do espaço expositivo, curadores e artistas irão criar obras que dialoguem com esses penetráveis inéditos do lado de fora. Segundo César Oiticica Filho, eles serão trocados por outros inéditos, conforme o desenrolar do projeto.
“Este conceito do penetrável passa por incitar a participação do espectador”, resume César.
De acordo com ele, há ao menos dez penetráveis de grande porte com a assinatura de Hélio espalhados pelo mundo. Todos com amplas referências ao movimento que culminou na Semana de Arte Moderna no Brasil em 1922, em vias de completar 100 anos.
“Hélio vem do movimento concreto, mas é ligado ao construtivismo, com influências de nomes como Mondrian, Malevich e Paul Klee”, explica César. “A coisa da antropofagia está muito presente em sua obra, o penetrável te devora.”
Penetráveis de Hélio Oiticica no Brasil e no mundo
Cosmococa
Cc5 – Walker Art Center Minneapolis
Cc1 – Carnegie Art Center Pittsburg
Cc3 – MACBA Barcelona
Cc 1,2,3,4,5 – Inhotim MG
Tropicália
Reina Sofia, Madri
Tate Modern, Londres
Guggenheim, Abu Dhabi
Magic Square #5
Inhotim MG
Museu do Açude RJ
Magic Square #3
Coleção Luis Antonio Almeida Braga, Itaipava
Nas Quebradas
LACMA Los Angeles