Chacina também é sinônimo de barbárie

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Por: Camille Ramos

No dicionário, o significado original da palavra chacina é abate ou esquartejamento de porcos e bois para consumo. No entendimento popular, chacinas são assassinatos que acontecem em massa. Os dois significados se aproximam pelo ato de tirar vidas em série e por também ter pré-definido o alvo a ser morto. De acordo com o Atlas da Violência de 2018, produzido pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), em 2016 foram cometidos 62.517 assassinatos no país, colocando o Brasil em um patamar 30 vezes maior do que o da Europa. Dessas mortes, 71,5% das pessoas eram pretas ou pardas.

A chacina de São Gonçalo e Itaboraí, que aconteceu na madrugada do último dia 20, traz à tona uma série de assassinatos coletivos que ficaram na memória da cidade. E em comum, eles têm o mesmo alvo: negros, jovens e periféricos. Dados de 2018 apontam que 189 pessoas foram mortas em chacinas no Rio de Janeiro, destas, 105 aconteceram durante confrontos com policiais. 

Foram nove assassinatos em São Gonçalo, como houve sete na Maré em junho do ano passado, incluindo um adolescente que estava a caminho da escola. No mesmo ano aconteceram mais cinco mortes na Maré, em uma operação que durou mais de 17 horas. É difícil imaginar doze mortes no mesmo ano em um bairro com cerca de 140 mil pessoas, como na Barra da Tijuca. Da mesma forma que é difícil lidar com cinco jovens mortos em Maricá, dentro do condomínio que davam aulas e, ainda, com 111 tiros disparados em um carro com cinco jovens negros em Costa Barros, como aconteceu em 2015.

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