Presidente da Rioluz detalha como funciona o Programa Luz Maravilha, que consiste na modernização da iluminação pública. Na Maré postes já estão sendo trocados.
Por Hélio Euclides em 02/03/2022 às 7h. Editado por Dani Moura
Do século XVIII, quando as noites da cidade do Rio de Janeiro deixaram de ser iluminadas pelos oratórios ou com velas de cera – passando pela primeira experiência elétrica na estação férrea Dom Pedro II, em 1879, onde hoje é a Central do Brasil – até as atuais moderníssimas lâmpadas de LED, a iluminação pública sofreu muitas transformações ao longo dos anos. A mais recente delas é o Programa da Prefeitura do Rio Luz Maravilha, que tem como meta a modernização das luminárias antigas por novas de LED.
A história mostra que na periferia a iluminação demorou a se modernizar. Em 1878, nos subúrbios cariocas, a fonte de luz ainda vinha do azeite. Em alguns pontos da Maré ainda é possível achar postes feitos de madeiras, o que retrata o passado ainda presente pelas ruas das favelas. Com a energia elétrica, os postes receberam luminárias de lâmpadas incandescentes, depois às fluorescentes, passando pelo vapor de mercúrio, pelo vapor de sódio de alta pressão, pelos multivapores, até as de LED. A presença do LED começou na vida dos cariocas pela presença dos aparelhos de tevês, que ajudaram na substituição nos modelos de tubo.
Com o Programa Luz Maravilha, a Maré recebeu novos pontos de instalação e a troca das lâmpadas de multivapores amarelas pelas brancas de LED – Light Emitting Diode, sigla em inglês que significa “diodo emissor de luz”. “Achei um excelente trabalho. Há séculos que não se via um resultado de trabalho dentro da comunidade. A minha rua ficou super iluminada. O Pablo Ronaldo (gestor executivo local) consegue ouvir com exatidão o que os moradores realmente precisam e investe no certo”, diz Marcelo Costa, morador da Nova Holanda. Já Vilmar Gomes, mais conhecido como Magá, presidente da Associação de Moradores do Rubens Vaz, avalia que outro benefício é precisar de menos manutenção.
Até o momento, na Maré, são 2.012 pontos de luz modernizados com tecnologia LED. A meta é alcançar todas as 16 favelas. Uma das que estão com o serviço mais avançado é a Nova Holanda. “Nos novos pontos de luz não tem o cano (braço) que chega até o meio da rua e ilumina mais. Por esse motivo as novas precisaram ser instaladas numa altura mais baixa, o que ilumina uma área menor. Na minha opinião ficou mais escuro. Faltou uma consulta à população, pois pode economizar no futuro, mas agora gastaram para troca e ainda tiveram que ter mais pontos de iluminação”, reclama David Nascimento. Outro morador da favela conta como foi a adaptação à mudança. “Achei estranho no início, foi um impacto, até reclamei. Agora já me acostumei, percebo que ajuda na leitura ao ar livre e nas festas de rua”, comenta Alexandre Carvalho.
Para explicar em que consiste o Programa Luz Maravilha, o Maré de Notícias entrevistou Pierre Alex Domiciano Batista, presidente da Companhia Municipal de Energia e Iluminação – Rioluz – empresa pública com atribuições de gerir, planejar, manter e modernizar o sistema de iluminação pública da cidade, ligada a Secretaria Municipal de Conservação e Meio Ambiente.
- Como se desenvolve o Programa Luz Maravilha?
Nosso objetivo é modernizar toda a iluminação pública da cidade pela nova tecnologia, ainda este ano, proporcionando ao cidadão carioca mais segurança e beleza. Toda a cidade também ganha com a tecnologia, que permite a economia de, no mínimo, 50% da conta com iluminação pública. Neste ano, por exemplo, pretendemos economizar 100 milhões de reais em gastos com energia, que serão devolvidos aos cariocas em forma de serviços prestados pela Prefeitura.
- Quantos pontos de luz serão renovados pelo Programa?
Acabamos de ultrapassar a marca de 225 mil pontos de luz modernizados. Isso representa metade da iluminação pública de toda a cidade, que tem, aproximadamente, 450 mil pontos de luz, e todos receberão a nova tecnologia de LED.
- O que o morador da Maré ganha com essa mudança?
Além dos serviços devolvidos à cidade: como a economia proporcionada pela tecnologia LED, o cidadão ganha maior luminosidade, o que garante mais segurança e dignidade. Além de oferecer maior conforto na vida noturna da região, impacta diretamente no comércio local e na qualidade de vida do morador, que poderá praticar esportes e desenvolver atividades culturais no período noturno.
- Todas as ruas da Maré irão ser beneficiadas?
Sim. O Luz Maravilha estará presente em todos os pontos de iluminação pública do Rio. Inclusive, é importante ressaltar que o equipamento utilizado em bairros como Leblon e Barra da Tijuca é o mesmo que utilizamos na Maré e em outras comunidades da cidade.
- Qual o prazo para a execução desse trabalho na Maré?
A Rioluz atua em toda a cidade simultaneamente. Hoje, todos os bairros do Rio de Janeiro já receberam o Programa. Sobre a Maré, especificamente, ainda não podemos definir com precisão uma data exata de finalização do Luz Maravilha. Mas podemos afirmar que toda a comunidade estará modernizada ainda este ano.
- Moradores reclamam que o braço da luminária nova é pequeno, o que diminui o espaço iluminado, isso procede?
Na verdade, o que define a área de iluminação é a altura da luminária e ajustes no equipamento. Todos os projetos que são aprovados na Rioluz têm simulação em software da iluminação do local. Sempre que realizamos a modernização em uma área, direcionamos nosso corpo técnico para uma vistoria posterior, onde é verificada a qualidade do projeto executado e também a existência de anormalidades. Contamos com a ajuda dos moradores para que nos informem sobre problemas encontrados na iluminação pública, através da Central 1746, da Prefeitura do Rio.
- Andando pelas ruas da Maré à noite já é possível encontrar alguns novos pontos de luz apagados. Como será feita a manutenção?
A Rioluz realiza vistorias constantes para identificar e normalizar essas anormalidades, além de contarmos com a ajuda da população para nos informar sobre problemas na iluminação pública, através da Central 1746.
- O Programa Luz Maravilha chegará a outras favelas?
Com certeza. No início do Programa Luz Maravilha, o prefeito Eduardo Paes ressaltou a importância de priorizar áreas com alto índice de violência urbana, e também regiões de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Um bom exemplo disso é que o Luz Maravilha já está presente nas comunidades de Rio das Pedras e Antares, ambas na Zona Oeste do Rio. Outro marco importante que simboliza esse compromisso é o Complexo do Alemão, que atualmente está 100% modernizado pelo Programa. Hoje, a Rioluz intensifica sua atuação nas comunidades da nossa cidade. Somente neste mês, moradores do Complexo da Penha, Morro dos Macacos, Pavão-Pavãozinho, Turano e Taboinha receberam ações do Programa Luz Maravilha.
- O que é feito com o material retirado?
Parte do material é enviada a leilão. Os elementos agressores do meio ambiente são descartados, seguindo todas as normas e recomendações da legislação ambiental.
- Qual a vida útil dessa nova iluminação?
As luminárias de LED possuem duração média de dez anos. Período superior às lâmpadas de vapores metálicos utilizadas em nosso parque, ou seja, a cidade ganha com a economia de equipamentos utilizados e também com a redução de material descartado.
- Quanto foi gasto nessa operação?
O Programa Luz Maravilha foi viabilizado através de uma Parceria-Público-Privada (PPP). A empresa vencedora, da licitação, absorve os custos da operação durante o período de 20 anos, sendo responsável pela modernização e manutenção do parque de iluminação pública da cidade. Em contrapartida, a empresa recebe 54,5% do valor líquido da taxa de iluminação pública do município pelo período contratual, o que soma um investimento de, em média, 1,5 bilhões de reais. A meta da PPP é reduzir a conta de iluminação pública do município em, no mínimo, 50%. Em janeiro de 2021, o valor foi de R$ 22,3 milhões. Em dezembro, quase 200 mil luminárias já tinham sido trocadas e a conta passou para R$ 17,8 milhões, ou seja, uma redução de R$ 4,5 milhões. A economia acumulada durante o ano de 2021 na conta de energia foi de R$ 22,5 milhões. E com a finalização do Luz Maravilha será de R$ 100 milhões até o final de 2022.