Colégio Santa Mônica sai da Maré

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Hélio Euclides

Em 2002, o Colégio Santa Mônica abriu uma Unidade no 2º andar da Paróquia Jesus de Nazaré, na Baixa do Sapateiro. Durante esses 16 anos, crianças e adolescentes foram alunos dessa escola particular, que oferecia também bolsa de ensino, do 1º ao 5º ano, com possibilidade de continuidade do segundo segmento na Unidade Bonsucesso. Mas no fim do ano passado, os pais foram avisados de que o colégio encerraria suas atividades, pegando todos de surpresa.

Cícero Leite, morador da Maré, hoje diretor do Centro Educacional Universo do Saber, foi funcionário do Colégio Santa Mônica, conta: “lembro que cogitou-se realizar um trabalho social, e conversei para que o projeto viesse para cá. Numa parceria com a Igreja Católica, que na época era dirigida pelo Padre Francisco Ribeiro, começaram os trabalhos”. Na Unidade Maré, Cícero foi coordenador. “Sou feliz por ter feito parte desse projeto, e o que aprendi implantei na minha atual instituição”.

 “Fiquei muito triste quando soube do fechamento. Contudo, é válido lembrar que, mesmo com isso, a escola continua dando assistência em outras filiais”, afirma a mãe de uma estudante que foi para a Unidade Bonsucesso. Os alunos do Colégio Santa Mônica Assistencial Maré foram encaminhados para as unidades Bonsucesso e Caxambi, para cursarem o ano letivo de 2018.

 

Construindo a história da Maré

Rosimar da Silva, mais conhecida como Pedrita, é mãe do ex-aluno Victor Renan, de 19 anos. “Nós pais nos integramos ao trabalho. O ensino era ótimo”, destaca. Em alguns casos, toda a família fez parte do Colégio, como é o caso de Luís Andrade, que estudou lá com outros dois irmãos. “O ensino me ajudou a ganhar uma bolsa em um outro projeto, que estou até hoje. Com o encerramento das atividades, muitas crianças vão ficar prejudicadas por terem de ir e vir de Bonsucesso. Sorte que a Maré ganhou muitas escolas públicas novas”.

Uma mãe, que preferiu não se identificar, disse acreditar que a escola tenha algum problema financeiro. Ela explica: “o que deu sinal de que algo não vinha correto foi o término da doação de material escolar e uniforme, em 2016. E no ano passado a redução de bolsas integrais, alguns alunos ficaram com 50% na Unidade de Bonsucesso”.

Surpresa maior tiveram as famílias que já tinham inscrito suas crianças para fazer a prova de admissão. Elas foram avisadas, por telefone, que o processo seletivo seria cancelado. “Faltando dois dias para a prova, ligaram avisando que o exame estava cancelado. A explicação foi de que o ano eletivo de 2017 foi ruim, com poucas aulas e que faltava patrocínio. Fiquei triste pela perda da oportunidade”, conta Alessandra Santana.

 

O encerramento repentino

Na Unidade Maré eram matriculados 220 alunos, atendidos por 20 funcionários. “Acho que a violência foi a gota d’água. Mas não foi só isso. Profissionais com muitos anos de serviço foram dispensados, então a questão financeira também pesou”, declara um ex-funcionário.

O Padre Jorge Lutz Mazzini lamentou a mudança: “embora triste com o encerramento desse convênio, ficamos gratos por tantos alunos que atualmente vivem com dignidade e trabalham honestamente, muitos tendo um grau Superior. Tenho a esperança de que um dia essa instituição possa voltar e servir à Maré”.

A informação que os diretores do colégio repassaram para os pais é que, com pesar, devido à situação de crise que se vive no País, depois de um longo discernimento, decidiram não dar continuidade ao funcionamento da Unidade.

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