Especial por Laís Lopes, em Barra/Pituba – Bahia
Desde o início da pandemia a comunidade no nordeste de Amaralina, bairro da região sul de Salvador, encontra-se dividida: de um lado, temos números crescentes de casos de infectados e de mortes por covid-19; do outro, os pequenos comércios que estão de portas fechadas.
Recentemente foi instaurado o lockdown onde somente os serviços essenciais podem funcionar e a preocupação dos comerciantes é, sem dúvidas, um dos maiores problemas.A educação também sofreu alteração e os colégios estaduais deram o ano letivo como perdido. Milhares de adolescentes do último ano do ensino médio que já se preparavam para prestar vestibular tiveram seus anseios interrompidos por mais um ano. Este foi o caso da estudante Bianca Santana, do 3° ano do ensino médio, que pretendia entrar na faculdade de nutrição em 2021, mas infelizmente terá que repetir o último ano. As escolas não têm se pronunciado sobre a não oferta de aulas ou atividades complementares para ajudar na formação acadêmica.
A fiscalização policial também foi reforçada, mas a sensação de segurança é quase inexistente, já que houve um aumento significativo de casos de violência policial no bairro. Aos finais de semana a ronda é mais intensa, e quase sempre termina com tiroteios em vários cantos do bairro. O uso da brutalidade por parte de policiais também é muito comum na tentativa de dispersar as pessoas que se encontram na rua após às 20h da noite, quando começa o ” toque de recolher”.
Entre um caso e outro de infecção por coronavírus, é possível sentir um clima pesado no ar e é perceptível a sensação de que o vírus não é o nosso único problema. Temos o reflexo de uma comunidade abalada sem ter como prover o sustento de casa e, ao mesmo tempo, tentando sobreviver ao inimigo invisível.
As festas de paredões foram apontadas como o estopim para o número de casos crescer rapidamente e as restrições no bairro se tornarem mais duras, restrições essas que inclusive foram motivos de protesto no início da pandemia, porque para os moradores, não fazia o menor sentido sacrificar toda a comunidade por culpa de um grupo específico.
No início, as lojas foram obrigadas a fechar por cerca de um mês, causando desespero em quem precisava levar comida para casa. Alguns se arriscaram, e usaram as redes sociais para se comunicar com clientes e avisar que estariam funcionando, mesmo com as portas fechadas. A Sorveteria El Shadday, no Vale das Pedrinhas, investiu no delivery como aliado para enfrentar a pandemia, o que funcionou muito bem e ajudou no aumento das venda, sendo permitidas até a meia noite, com a retirada de produtos em lojas alimentícias, somente até às 20h.
Hoje, as aflições de moradores e lojistas seguem crescendo. As portas de muitos comércios continuam fechadas e outras abertas com restrições, o número de clientes continua caindo e o número de infectados continua aumentando, e no bairro mais festivo de Salvador, dono do maior carnaval de rua, o desejo de todos é poder voltar à normalidade o quanto antes.
Laís Lopes tem 21 anos, é estudante de Jornalismo e correspondente da Agência Mural no distrito Barra/Pituba em Salvador-BA.