Conferência livre é marcada por debate da retomada ao direito à saúde

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Organizações e lideranças da Maré marcaram presença no evento que discutiu o direito à saúde em favelas e periferias 

Com protagonismo negro, feminino e periférico, aconteceu no último sábado (3) a Conferência Livre das Favelas e Periferias da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Campus Maracanã. O evento abordou o tema “Favelas e Periferias pelo Direito à Vida e em Defesa do SUS”, e contou com lideranças sociais do Estado do Rio de Janeiro debatendo e potencializando articulações em torno do direito humano à vida e saúde, a partir das vivências em seus territórios. 

Uma apresentação artística cultural do coletivo As MariAmas para reverenciar ancestrais e levar mensagens de paz aos presentes marcou o início do evento. Com o apoio musical de um atabaque e as palmas das mãos, o grupo chamou o público para cantar junto o trecho “Chama a favela para lutar, a periferia para somar…”. Seguindo a programação artística, a poeta e autora Celeste Estrela recitou alguns dos seus poemas, entre eles, “Sem faculdade” que conta a história da sua vida como mulher negra, mãe, avó, empregada doméstica e os aprendizados em torno dessas vivências.

Ao final da apresentação, o grupo As MariAmas distribuíram doces com palavras de amor, cuidado e, coletividade e celebração | Foto: Gabi Lino

A primeira mesa do evento contou com a participação de Lúcia Souto do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde, Bianca Mantovani do Pré Vestibular do Sindicato dos Trabalhadores das Universidades Públicas do Estado do Rio de Janeiro (Sintuperj), Day Medeiros do Instituto Casa e do Movimento Mulheres Vivas Zona Oeste,  Larissa do Levante Popular da Juventude, Paulo Garrido da Associação dos Servidores da Fundação Oswaldo Cruz  e Carlos Tukano, Presidente do Conselho Estadual de Direitos Indígenas.

Reverenciado por representar os povos originários no espaço, Tukano falou sobre a diversidade indígena no Brasil, quebra de estereótipos e criticou a retirada de demarcação de terras do Ministério dos Povos Indígenas para o Ministério da Justiça. 

“Estou aqui para desconstruir a imagem do índio perigoso, canibal e selvagem. Somos pessoas capazes e temos nossos costumes, línguas e ciência com olhar cosmológico. Fiquei triste que o governo passou a demarcação para o Ministério da Justiça. Somos mais de um milhão e meio de indígenas no país e estamos tentando cuidar das terras que destruíram”, disse. 

A segunda mesa contou com a presença de Rafaela França, fundadora do Núcleo de Estimulação Estrela de Maria (NEEM) que trata sobre o direito à saúde e o acesso à Cannabis Medicinal pelos moradores de favelas e periferias. Além dela, Itamar Silva, Sarah Rúbia, Mônica Francisco e Mauro Ferreira, induziram a reflexão e o debate sobre racismo ambiental, mudanças climáticas, mobilidade urbana, entre outros. Todos os temas foram debatidos com recorte racial e periférico.    

“Um encontro como este marca a retomada de uma luta coletiva pelo direito à vida. O tema da saúde é fundamental porque saúde não é só ausência de doença e sim garantir que todas as políticas de saúde, mobilidade, segurança pública, moradia, habitação, saneamento, sejam efetivas e aconteçam de verdade. Hoje é mais um marco desse novo momento que o Brasil atravessa depois dessa tentativa de destruição e um grande desmonte do Sistema Único de Saúde e não poderia ser diferente: povo organizado para a luta!”, afirma ao Maré de Notícias a ex-deputada e cientista social Mônica Francisco. 

Mônica Francisco ressaltou durante sua fala sobre a importância de viver para além de sobreviver como é imposto sobre as pessoas que vivem nas periferias | Foto: Gabi Lino

Maré, presente!

A organização da conferência nasce da mobilização de diversas organizações em torno do tema da promoção da saúde nas favelas e periferias, entre elas a Redes da Maré que marcou presença com moradores do Conjunto de Favelas da Maré e a equipe do Espaço Normal, equipamento de referência sobre drogas no território que trabalha com a perspectiva de redução de danos.

“Estar aqui falando sobre saúde no território de favela é muito importante. Isso faz com que a gente pense e repense cada dia a importância do SUS para que a gente consiga se cuidar e cuidar do outro. É sobre lutar pela dignidade e direito não só da gente enquanto moradores de favelas, mas também enquanto pessoas que estão ali trabalhando dentro das próprias Clínicas da Família e de outros equipamentos do SUS”, afirma Vanda Canuto, coordenadora do Espaço Normal. 

Vanda Canuto discursou sobre o trabalho no Espaço Normal a partir da perspectiva de redução de danos | Foto: Gabi Lino

Everton Pereira, coordenador do Eixo de Saúde da Redes da Maré reforçou a importância dos moradores da Maré e de outros territórios favelados no evento: “É importante estarmos aqui primeiro para marcar nosso lugar de fala porque é necessário ter gente da favela falando sobre a favela. Também é importante por conta dos ataques sofridos nos últimos anos. A pandemia escancarou a necessidade da defesa do SUS. Vimos durante essa crise que em outros lugares como nos Estados Unidos onde não tem um sistema público de saúde foi muito mais grave. Nossa questão não foi não ter acesso a um sistema universal gratuito de saúde, foi uma questão de política de governo que naquele momento escolheu negar a ciência, os cuidados e orientações que estavam sendo adotadas em vários lugares do mundo”. 

O encerramento contou com a fala de Patrícia Evangelista da Organização Mulheres de Atitude Manguinhos e de Lúcia do Espaço Democrático de União, Convivência, Aprendizagem e Prevenção (Educap). Ambas falaram sobre a importância do SUS e da força das mulheres faveladas pela luta ao acesso à saúde com equidade. 

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