O grande problema de vírus como o COVID-19 é a comunicação.
Em 23 de março de 2020 às 9h24.
Jorge Melo
O Coronavírus provocou uma pandemia mundial, que não respeita fronteiras e se espalha pelo mundo numa velocidade assustadora. Teve origem na China na cidade Wuhan, capital da província de Hubei. E quando detectado, em dezembro de 2019, foi chamado de a doença de Wuhan, o que não é correto e muito menos justo. Uma pandemia não tem pátria, poderia ter surgido em qualquer país do mundo. A China agiu rapidamente, convocou médicos e profissionais de saúde, montou em duas semanas um hospital com mil leitos e decretou uma quarentena severa, 56 milhões de pessoas só em Hubei.
O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom, considerou a cidade chinesa, onde foi comunicado o primeiro caso do novo coronavírus (SARS-CoV-2), um exemplo de esperança para todo o mundo. Epicentro da epidemia na China, com quase 50.000 enfermos e mais de 2.000 mortos antes do início de março, Wuhan conseguiu controlar a doença e não registrou nenhum novo caso de contaminação local por três dias, da quinta feira, 19 de março ao sábado, 22 de março.
O grande problema de vírus como o COVID-19 é a comunicação. Num mundo globalizado pessoas e mercadorias circulam o tempo todo. O celular vem da China, a camiseta das Filipinas, o tênis da Malásia e a camisa de algodão de Bangladesh. E comércio significa deslocamentos contínuos de pessoas.
O coronavírus foi isolado e identificado pela a primeira vez, em 1937. Mas só em 1965, com o surgimento de microscópios mais potentes, foi descrito como coronavírus, por causa de sua aparência de coroa.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) vivemos uma pandemia de um novo coronavírus, chamado de Sars-Cov-2. Nas duas primeiras semanas de março o número de casos de Coronavírus [doença provocada pelo vírus COVID-19] fora da China aumentou 13 vezes e a quantidade de países afetados triplicou, alcançando 118 mil infecções em 114 nações.
Europa e Estados Unidos
A definição de pandemia, de acordo com a OMS, não depende de um número específico de casos. Considera-se que uma doença infecciosa atingiu esse patamar quando afeta um grande número de pessoas espalhadas pelo mundo. A OMS evita usar o termo com frequência para não causar pânico ou uma sensação de que nada pode ser feito para controlar a enfermidade.
Circulando o coronavírus chegou os Estados Unidos e à Europa. Nos EUA, entre os dias 22 e 23 de março, segundo dados da Universidade John Hopkins, usados como referência, morreram cem pessoas, elevando o número de vítimas fatais para 389. O número de casos confirmados chegou a 26.900 na manhã do domingo (22), colocando o país em terceiro lugar no mundo, atrás de China (81.054) e Itália (53.578). Em 24 horas, os EUA registraram 2.693 novos casos de contaminação, mais que o dobro de todos os casos brasileiros até agora.
Na Europa, o coronavírus atingiu a Itália de forma devastadora. Entre os dias 22 e 23 de março, quando fechamos essa edição, foram 793 mortos, totalizando 4800.. Na Espanha a situação também é preocupante. Até o dia 23 de março, mil e trezentas pessoas tinham morrido e 25 mil estavam infectadas. E esses números estão crescendo em progressão geométrica.
A jornalista brasileira Beatriz Falleiros vive um verdadeiro drama. Partiu para Madrid, no início de março. Pretendia viajar pela Europa de carro com o filho, Ulisses Frare, arquiteto que vive e trabalha na capital espanhola, mas foi apanhada pela quarenta e a suspensão dos vôos para o Brasil. Não sabe quando volta mas procura enfrentar a situação com tranquilidade. “A quarentena estimula a criatividade para preencher o vazio de gente, de rua, e atenuado o tédio que se instala, eu e meu filho achamos até um bar virtual que reúne pessoas em isolamento mundo afora que se conectam para conversar e fazer tim-tim.”
Beatriz conta que a quarentena em Madrid é rigorosa, “sair, só uma pessoa de cada família, para ir ao supermercado ou à farmácia. A polícia exige as notas fiscais e quem não se explicar pode pagar uma multa alta e até ser preso, mesmo assim é o maior prazer da cidade-fantasma ir ao mercado rapidinho, com máscara e sacola. Os policiais te param para saber onde você vai, pedem endereço. A gente pode sair rapidamente também para depositar o lixo”.
Mas nem tudo é ruim, segundo Beatriz, a solidariedade e o espírito comunitário ajudam a seguir em frente ”todas as noite, nas sacadas e varandas dos prédios a gente conversa com os vizinhos, tem sempre gente cantando e regularmente nós aplaudimos médicos, enfermeiros e agentes de saúde que estão cuidando da população”. Ao mesmo tempo as autoridades vão tornando o controle mais rígido, “medidas mais duras vão limitando a rotina já tão restrita da vida em isolamento, a medida mais recente foi o fechamento dos hotéis”, diz ela.
Portugal
Assustado com a situação na Espanha, o governo português procurou se antecipar e desde de 16 de março tomou uma série de medidas para evitar que o coronavírus se espalhe pelo país com a velocidade que atacou a Itália e Espanha. Em Portugal, até o dia 23 de março foram registrados 1600 casos e 14 vítimas fatais do coronavírus. A quarentena e a redução das atividades foram as mais importantes. Portugal e Espanha são praticamente um país só com um intenso intercâmbio econômico, social e cultural.
Flora Costa Nogueira é cidadã portuguesa, mas nasceu e viveu a maior parte da vida no Brasil. No fim de 2018 decidiu ir morar em Portugal, em busca de uma vida mais tranquila. Escolheu uma pequena vila, a 40 quilômetros de Lisboa, Aveiras de Cima. Segundo ela, estamos lutando contra um inimigo invisível. Em Portugal, reuniões em família, cultos em igrejas, eventos passeios, exercícios em grupo estão proibidos,
nos bancos é atendida uma pessoa por vez, sem máscara para poder ser identificada. “As filas se formam do lado de fora, com espaço de um metro e meio entre cada uma delas; os hospitais criaram entradas separadas para quem tem suspeita de contaminação e o sistema de saúde pede aos cidadãos que não busquem os postos de saúde nem hospitais; foi liberado um número de telefone para o primeiro contato. O vírus não faz distinção de religião, classe social ou situação. Mas como é mais mortal para aqueles que já tem algum problema de saúde como asma, bronquite, diabetes. É preciso que todos contribuam para a evitar a propagação da doença”.
Segundo a diretora-geral assistente para Acesso a Medicamentos, Vacinas e Produtos Farmacêuticos da Organização Mundial da Saúde, a brasileira Mariângela Simão, não existe no momento nenhuma vacina apta para combater o coronavírus mas 20 estudos estão em curso “ essas pesquisas demandam tempo, em torno de um ano. Por isso as medidas preventivas como o isolamento são tão importantes”, diz ela.