Cria da Maré lança livro sobre feminismo nas favelas

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O livro é resultado das lutas coletivas e individuais que atravessaram a autora ao longo da sua trajetória enquanto mulher, negra e favelada

Andrezza Paulo

Andreza Jorge, de 35 anos, é mãe, ativista, moradora e cria da Nova Holanda, doutoranda de Estudos Culturais e autora do livro “Feminismos Favelados”. Sua trajetória iniciou cedo, ainda na adolescência, com participação em movimentos sociais, projetos e organizações em favor da população da favela. Seu vínculo começou com a influência das mobilizações comunitárias que aconteciam no território quando tinha apenas 15 anos de idade. 

O livro “Feminismos Favelados” nasce a partir da relação estabelecida com o movimento feminista e o entendimento de que a mulher de favela tem especificidades que ultrapassam as discussões do feminismo tradicional. A autora revela que “a vida das mulheres de favela transcende a compreensão das categorias de classe, de raça e de gênero. Estamos falando de um território e de mulheres que têm ações que incidem diretamente nelas, então se temos opressões específicas, temos resistências especificas”, conta.

De acordo com Andreza Jorge, as lutas das mulheres de favela são constantemente apagadas e o livro representa uma tentativa de lançar luz sobre essas resistências específicas a partir da produção de conhecimento qualificado.

A autora enfatiza que o conceito por trás do livro parte de vivências coletivas, ancestrais e familiares: “Eu sou a pessoa que escreve o livro, mas ele é um resultado do acumulado de experiências vividas que não são só minhas. Ele traz a experiência coletiva familiar, matriarcal e de todas as mulheres que vem exercendo espaço de liderança. Então é uma tentativa de representar essas mulheres que estão vivendo uma realidade muito específica e forjando essas soluções coletivas e individuais “, ressalta.

Para o futuro, Andreza planeja continuar sua incidência nas lutas coletivas com foco em internacionalizar as questões locais para além da perspectiva dos problemas, visibilizando principalmente, as soluções e análises produzidas nas periferias. Atualmente, a escritora e ativista está cursando doutorado em Estudos Culturais na Universidade Virginia Tech, nos Estados Unidos, e espera seguir na vida acadêmica. Para ela, esse é um passo importante para consolidar as práticas faveladas como conhecimento relevante tendo como primordial a melhoria de vida das mulheres. Andreza diz que internacionalizar as soluções periféricas é essencial para “obter apoio para essa população que é afetada pela racialidade, gênero e classe e que estão a todo tempo criando uma identidade específica sobre o que é viver em um território preto e favelado”, conta.

Ao refletir sobre as motivações que a fazem continuar nesse caminho, ela afirma: “Eu acho que não é mais que minha obrigação reconhecer esse lugar que me formou como sujeito político e social. O meu papel é alimentar isso e trazer outras mulheres para pensar em construções políticas e institucionais que vão produzir melhorias concretas e específicas para elas”. 

Para a autora, o empoderamento feminino e favelado vem da herança ancestral e das mulheres desse território, que é alimentado por um ciclo de conhecimento: “Dentro das filosofias plurais de ler o mundo, a gente entende como um ciclo no qual ao ensinar eu aprendo e ao aprender, eu vou ensinando. A gente precisa fortalecer esse ciclo que estamos sistematizando através dessa relação de confiança ancestral caracterizada nas favelas. É preciso reconhecer essa produção de conhecimento que vai contra a prática impositiva e hierarquizada que somos forjadas, é isso que me motiva”. 

Andreza Jorge ressalta, ainda, o histórico de luta na Maré e agradece às mulheres que construíram essa estrada para que ela e tantas outras pudessem atuar e faz um apelo à juventude feminina das periferias: “Olhem dentro de suas casas, pesquisem as referências nas suas famílias, nas suas vizinhas e vejam quem pavimentou esse caminho, como a gente visibiliza a nossa própria história. Reconheça e enalteça as mulheres faveladas como produção de conhecimento para mudar paradigmas”,  finaliza. 

Há um lançamento previsto para acontecer na Maré em julho. Em breve o Maré de Notícias irá divulgar mais informações sobre. 

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