Crianças e Adolescentes participam de Congresso de Segurança Pública na Maré

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Alunos de escolas e projetos falam de uma Maré que desejam

Por: Ana Beatriz Pires (*) e Hélio Euclides em 10/08/22 às 11h12. Editado por: Jéssica Pires

“Muito tiro, pouca aula e muita operação. E sem aula e muitas pessoas mortas. Fim.”

Esse é o relato de uma criança das 1,5 mil que fizeram as cartas entregues ao Tribunal de Justiça (TJ-RJ). Nelas as crianças pediam a volta da Ação Civil Pública, que contempla direitos e o reconhece a importância das vidas das pessoas que moram na Maré.

Algumas dessas cartas estavam expostas no 1º Congresso Falando sobre Segurança Pública com Crianças e Adolescentes da Maré, realizado na tarde de ontem (09/08), com oficinas e atividades, na Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, na Nova Maré. O congressinho com as crianças e adolescentes faz parte do 1º Congresso Internacional Falando sobre Segurança Pública na Maré, organizado pelo Eixo de Segurança Pública da Redes da Maré, com programação de quatro dias.

O evento foi aberto com a exibição do filme “Peixes não se Afogam”, de Anna Azevedo. Alunos da Escola Municipal Primário Erpídio Cabral de Souza (Índio da Maré) saíram da Nova Holanda em direção a Lona da Maré. No caminho, professores perguntaram o que as crianças almejavam para o território e a resposta foi “justiça”, aos gritos. Esse gesto é valioso para Liliane Santos, coordenadora do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré.

“Sempre é importante fazer com que os moradores incorporem a ideia da segurança pública. Na criança é muito bom fomentar isso, uma leitura da situação do território e promover um debate de como os governos veem a favela.”

Liliane Santos, coordenadora do Eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré.
Foto: Gabi Lino | Equipe interdisciplinar que produziu e conduziu atividades do congresso

As crianças puderam acompanhar também a exposição das Cartas da Maré e dos trabalhos feitos pelas crianças e adolescentes da Maré. Lidiane Malanquini, coordenadora da Lona da Maré, exaltou a importância das cartas e dos trabalhos realizados pela busca dos direitos, como o congresso. “Primeiro a lona é o lugar das crianças. A escolha da abertura do congresso nesse espaço é estratégica, por ser um território complicado, com tiros e mortes. A atuação da lona é de intervenção no território, tendo essa ação de hoje como ferramenta de mobilização de crianças e adolescentes nesse sentido.” 

Na parte da tarde, diversas crianças de projetos e instituições da Maré participaram da dinâmica da confecção de cartazes sobre a temática da Segurança Pública na Maré. “Acho importante falar de segurança pública. Temos o desejo de confiar em quem trabalha com segurança”, diz Regina Lúcia dos Santos, mãe de uma das crianças do Projeto Primeira Infância na Maré.

O desejo de um pleito eleitoral que tenha um olhar para a favela no campo da segurança pública foi unanimidade entre os participantes do evento. ‘’No abraço da minha mãe é o lugar onde eu mais me sinto segura, porque aqui na Maré não temos segurança para nada’’, resume Vitória Machado, aluna do Preparatório da Redes da Maré.

As crianças da Biblioteca Popular Escritor Lima Barreto pintaram em tecido os desejos e sonhos para Maré. Elas também participaram da plenária da cidadania com votação de uma proposta para Segurança Pública na Maré.

“É preciso tornar a sociedade melhor com valorização da educação, com reconhecimento do respeito ao próximo, como o fim do racismo. Há a necessidade de que o governo resolva os problemas da favela, não enviando uma polícia que agrida e sim que cuide das crianças, adolescentes, jovens, mulheres e a comunidade LGBTQIA+. Quem deveria combater a violência e implementar uma cidadania não faz”.

Wandressa Rakelly, de 14 anos, aluna do Preparatório da Redes da Maré.

“As crianças e adolescentes estão abertos à discussão sobre segurança pública. Percebo que hoje estão transitando pela Maré, fazendo mais pontes entre eles, ruas e espaços”, comenta Fernanda França, coordenadora de liderança juvenil e desenvolvimento pessoal da Luta pela Paz.

As propostas que surgiram indicavam a garantia da qualidade de vida e a cidadania. O evento foi finalizado com a apresentação artística dos alunos do projeto Nenhum a Menos e cortejo com as crianças e adolescentes pelas ruas da Nova Maré.

Foto: Gabi Lino

Construção de propostas para Segurança Pública na Maré

Após plenária, adolescentes de diversos projetos se dividiram em cinco grupos para discutir cidadania e por fim votaram oito propostas para Segurança Pública na Maré. Veja abaixo os temas que foram destaques:

  1. O uso de câmeras e sistema de posicionamento global (GPS) nas operações policiais das favelas.
  2. Que o Estado arca com algum prejuízo que moradores tenham em virtude de operações policiais. 
  3. Que a corporação policial não tenha o poder de juiz nas favelas.
  4. Um treinamento humanizado para os policiais, para um respeito ao morador.
  5. Um trabalho que fiscalize a entrada de armas nas fronteiras.
  6. Campanhas, ações, programas, projetos que sejam alternativas para que os jovens rompam com o ciclo de violência.
  7. Construção de um plano de redução da letalidade nas operações policiais.
  8. A descriminalização das drogas.

Algumas dessas propostas vão ser apresentadas por cinco adolescentes moradores da Maré, para candidatos ao governo estadual que vão participar de um debate no 1º Congresso Internacional Falando Sobre Segurança Pública na Maré, que será na sexta-feira (12/08), no Centro de Artes da Maré, na Nova Holanda. 

(*) Ana Beatriz é aluna da primeira turma do Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias

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