“Crônicas Cariocas”: MAR inaugura principal exposição de 2021 no próximo dia 25 de setembro

Data:

Historiador Luiz Antônio Simas e a escritora Conceição Evaristo participam da curadoria

Por Redação, 20/09/2021 às 10h25

O Museu de Arte do Rio (MAR) estreia no dia 25 de setembro sua maior mostra do ano. Chamada de “Crônicas Cariocas”, a exposição foi pensada para escutar e discutir o Rio de Janeiro que não está nos livros, mas que figura no imaginário coletivo daqueles que vivem e respiram a cidade em toda sua complexidade. A montagem dá vida às histórias cotidianas; relações com a vizinhança; festas; encontros dos ônibus lotados e calçadas. Por trás daquilo que é exportado ao mundo, propõe-se narrar o Rio que se embeleza e finge não ver os subúrbios.

Para Amanda Bonan, uma das curadoras da exposição, o cenário pandêmico em que vivemos foi preponderante para a concepção da exposição. “Pensamos a partir da frase impactante e fundamental de Ailton Krenak: ‘É preciso adiar o fim do mundo para contar mais uma história’. Mas que histórias seriam essas que valeriam a pena continuar contando hoje? Vamos falar dessa cidade partida”, afirma.

Segundo o diretor da Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) — instituição gestora do MAR —, Raphael Callou, por meio da mostra, “deixamos de lado esse ‘novo normal’ para relembrar o mundo de antes, ainda que nos pareça um pouco distante”. A exposição é a primeira a ocupar o terceiro andar do museu sob a gestão da OEI.

Ao todo, quase 600 obras de arte — nos mais diversos suportes, como vídeos, objetos, instalações, fotografias e pinturas — vão ocupar três galerias do museu, cuja arrumação confere ares labirínticos ao local. Cada pedaço de parede revela momentos do Rio. Do orgulho negro as noites eróticas. Desse total de peças, 79 já faziam parte do acervo museológico do MAR. Visando incentivar a produção artística e fortalecer o papel social do museu, a exposição também vai contar com obras comissionadas, criadas especificamente para a mostra.

Entre os cerca de 110 artistas que participam da montagem, destacam-se Sônia Gomes, Lucia Laguna, Rosana Paulino, Brígida Baltar, Denilson Baniwa, Alexandre Vogler, Bispo do Rosário, Laerte e Bastardo. Nomes contemporâneos, a exemplo de Guignard, Di Cavalcanti, Lasar Segall e Mestre Didi, também compõem a coletiva. Além de Bonan, assinam a curadoria o curador-chefe do museu, Marcelo Campos, o historiador Luiz Antônio Simas e a escritora Conceição Evaristo.

Segundo Campos, “Crônicas Cariocas” trata de um Rio que apesar dos pesares revive diariamente. “Ela fala da cidade suburbana, cujo afeto é o amálgama das relações e histórias miúdas. Um Rio que reza e dança, que inventa seus próprios deuses, enquanto se organiza no trabalho informal e na poesia dos trens e das praças. Um Rio que viu seus cinemas fecharem, suas linhas de ônibus deixarem de ligar as zonas Sul e Norte, mas que, ainda assim, nasce e renasce todos os dias”, salienta.

Simas destaca que a crônica é um gênero literário carioca por excelência. “Machado de Assis fala disso, que a crônica começa quando duas vizinhas falam do calor e a história se desenrola. Mas ela não se limita à literatura. A crônica está presente na música popular, nas conversas cotidianas, nas sociabilidades construídas nos botequins, nas esquinas, no convívio com as rezadeiras, enfim. É disso que se trata”, afirma.

Uma conversa entre vizinhos

Já no início da exposição o visitante será surpreendido por um burburinho vindo do túnel que dá acesso às galerias. Trata-se do áudio de uma conversa entre Luiz Antônio Simas, Conceição Evaristo e a cantora Teresa Cristina. Ao fim da passagem, na chegada ao primeiro espaço expositivo, uma televisão exibe o vídeo do bate-papo. A ideia é brincar e fazer referência às conversas de janela entre vizinhos, que em razão da pandemia de covid-19 passaram a acontecer virtualmente.

Novidade na vida da escritora Conceição Evaristo, a tecnologia tem se mostrado uma aliada importante nesse período de distanciamento social. “A pandemia oferece dificuldades, mas ela oferece essa possibilidade de invenção de local, de encontro. A solidão já fica marcada por esse isolamento físico, mas a gente sempre encontra brechas de encontrar com o outro. Essas conversas virtuais são muito novas para mim. Prefiro o real, sem comparação. Tô com uma saudade do real”, brinca.

Isso é a cara do Rio!

Em paralelo à exposição, o MAR vai lançar semanalmente, nas redes sociais do museu, a série “Isso é a cara do Rio!”. Composta por dez vídeos, a sequência vai abordar o cotidiano do carioca em situações do dia a dia, comumente observadas pelas ruas do município. Todo o conteúdo dialoga com a proposta da mostra.

O Museu de Arte do Rio

Iniciativa da Prefeitura do Rio em parceria com a Fundação Roberto Marinho, o Museu de Arte do Rio passou a ser gerido pela Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) desde janeiro deste ano, apoiando as programações expositivas e educativas do MAR a partir de um conjunto amplo de atividades para os próximos anos. “A OEI é um organismo internacional de cooperação que tem na cultura, na educação e na ciência os seus mandatos institucionais, desde sua fundação em 1949.

O Museu de Arte do Rio, para a OEI, representa um instrumento de fortalecimento do acesso à cultura, intimamente relacionado com o território, além de contribuir para a formação nas artes, tendo no Rio de Janeiro, por meio da sua história e suas expressões, a matéria-prima para o nosso trabalho”, comenta Raphael Callou, diretor e chefe da representação da OEI no Brasil.

Após o início das atividades em 2021, a OEI e o Instituto Odeon celebraram parceria com o intuito de fortalecer as ações desenvolvidas no museu, conjugando esforços e revigorando o impacto cultural e educativo do MAR, onde o Odeon passa a auxiliar na correalização da programação.

O Museu de Arte do Rio tem o Instituto Cultural Vale como mantenedor, a Equinor como patrocinadora master e a Bradesco Seguros como patrocinadora, todos por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura. A Escola do Olhar conta com o apoio do Itaú, da Machado Meyer Advogados e da Icatu Seguros via Lei Federal de Incentivo à Cultura. Por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura – Lei do ISS, é também patrocinada pelo Grupo GPS, RIOgaleão, ICTSI Rio Brasil, ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico) e HIG Capital. O Instituto Olga Kos patrocina os recursos de acessibilidade do MAR.

O MAR conta ainda com o apoio do Governo do Estado do Rio de Janeiro e realização da Secretaria Especial de Cultura, Ministério do Turismo e do Governo Federal do Brasil, por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.

Mais informações em www.museudeartedorio.org.br

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por que a ADPF DAS favelas não pode acabar

A ADPF 635, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), é um importante instrumento jurídico para garantir os direitos previstos na Constituição e tem como principal objetivo a redução da letalidade policial.

Redução da escala 6×1: um impacto social urgente nas Favelas

O debate sobre a escala 6x1 ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, impulsionado pela apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe a eliminação desse regime de trabalho.