“Garotas da Maré”, página de comunicação tocada por duas mulheres da Maré e direcionada principalmente para o público feminino, aborda temas da atualidade com muita informação e clareza
Maré de Notícias #110 – março de 2020
Flávia Veloso
Política, feminismo, cultura, entretenimento, atualidades, história… O perfil no Instagram das “Garotas da Maré” tem como objetivo atingir o público – principalmente o feminino – com informação, embasamento, clareza e leveza na escrita: um papo de mulher para mulher. Com cerca de quatro meses de atividade, suas criadoras e administradoras, as irmãs Simone Lauar e Anna Cláudia Neves, moradoras do Salsa & Merengue, na Maré, selecionam diariamente conteúdos informativos que conversam com a atualidade e colocam leitores e leitoras para pensar e refletir sobre os acontecimentos e a sociedade.
Simone viu que faltava algo na comunicação que retratasse a Maré além das questões da segurança pública: “As coisas que eu mais vejo sobre a Maré nos veículos de comunicação sobre tiroteio e morte, e acabam associando a gente a só isso. Eu queria fazer algo que fugisse disso e ainda assim que falasse do território, porque aqui dentro tem cultura, informação e outros assuntos que não a violência. E o conteúdo da gente não deixa de ser jornalístico, mas é feito de uma forma mais branda, mais leve e mais objetiva.”
Um novo olhar para o território
Mesmo morando na Maré há 20 anos, Simone Lauar, que é quem escreve e faz as publicações, não se sentia parte da favela. Anos depois, terminando o ensino médio no Colégio Estadual César Pernetta, localizado no Parque União, assistiu a uma palestra da jornalista Gizele Martins no colégio, que despertou em Simone interesse pela comunicação. E foi essa ferramenta que abriu seus olhos para a importância e a riqueza do lugar onde já morava há anos.
Foi voluntária de um jornal comunitário da Maré durante quatro anos, mas sentia que precisava de um espaço onde pudesse falar de outros assuntos que considerava relevante para o público. Foi quando resolveu criar o “Garotas da Maré”, que é, como diz em sua página: “notícias pelos olhos de garotas mareenses”.
Marielle plantou semente
“Foi lá [no jornal em que trabalhei] que eu conheci a Marielle. Não falo que sou semente dela à toa, só para parecer bonito. Ela realmente ampliou minha visão para muitas coisas, em relação à política, à favela. Eu achava que morar aqui era um castigo, mas ela me fez perceber que a favela, na verdade, me enriquecia muito. Ela é minha maior inspiração, eu aprendi com ela muito do que sei”, disse Simone.
As donas do blog fazem questão de sempre incentivar a leitura e a busca por conhecimento: “Se nós temos o país que temos hoje, é porque as pessoas não estão sintonizadas principalmente com a história, com o passado. Um exemplo disso é quando as pessoas exaltam a ditadura e pedem sua volta. Meu avô foi perseguido na época da ditadura militar, ele era sambista, e ser sambista naquela época era sinônimo de ser vagabundo.”
Lauar pretende estudar comunicação e fazer cursos na área, pois tudo o que aprendeu até então foi praticando a profissão. Entretanto, os planos de estudo não param por aí. A comunicadora pretende cursar Ciência Política, o que também pode servir como embasamento para seus conteúdos de opinião. Descendente de família mineira e de mulheres cozinheiras, Simone quer ainda se aperfeiçoar na culinária, com uma faculdade de gastronomia, área em que já trabalha fazendo quentinhas vegetarianas e veganas que entrega dentro e fora da Maré a preços acessíveis.
E, aos poucos, o objetivo de informar – especialmente o público feminino – das Garotas da Maré vem se cumprindo. Mulheres da família, amigas e vizinhas já comentam com Simone e Anna que suas publicações as levaram a questionar, pesquisar e buscar respostas. Daqui pra frente, é fazer o público crescer ainda mais.
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Twitter: @GarotasdaMare
Siga o serviço de culinária vegetariana da Simone Lauar no Instagram: @lauarhome