Ex-morador da Maré cria livro e filme em plataformas digitais
Por Samara Oliveira em 16/05/2022 às 11h30. Editado por Daniele Moura.
Nascido no Parque União e criado na Vila dos Pinheiros, ambas favelas da Maré, Wellington Nunes, de 38 anos, relembra que teve uma infância feliz, cercada de amigos, saídas, vídeo games e outros brinquedos. Uma aptidão para gravar e editar vídeos também foi uma característica marcante de sua infância, além da convivência com os desafios enfrentados pelas populações de favela que recebem desatenção e políticas públicas ineficientes por parte do Estado.
Na juventude Wellington reencontra um antigo amigo da escola que aguçou nele a vontade de mudar sua realidade.
“Ele já estava na segunda faculdade, indo trabalhar e eu indo pra uma entrevista de emprego, ainda no último ano do segundo grau após reprovar dois anos na escola. Isso mexeu comigo.”
Após o despertar causado pelo encontro com o amigo, Wellington se dedicou a estudar para ingressar na faculdade. Conquistou bolsa integral através do programa PROUNI e se formou em Ciência Contábeis. No entanto, com um filho para cuidar, Wellington almejava mais.
Foi então que estudou e passou em dois concursos federais, tornando- se assim servidor público em Rondônia. Apesar de estabilizado e ter alcançado o objetivo de se mudar, Wellington deixou uma antiga paixão falar: o amor pela tecnologia, edição e criação de vídeos.
“Sempre que eu ia com amigos pra praia, e tinha câmera, eu queria filmar. Além de brincar, adorava ver filmes, e gravava em VHS, mas nas gravações eu já tentava por um trailer, fazer edições. Também baixava filmes usando o Nero Vision para fazer edições.”
Wellington Nunes
O ‘nascimento’ do livro
Já em Rondônia, o servidor público criou seu canal no Youtube intitulado Contralienados, atualmente com cinco mil inscritos, e passou a produzir pequenos vídeos e documentários. À medida em que produzia com base em outras histórias e mistérios que o interessava, Wellington já começava a pensar em criar seu próprio roteiro de ficção. Foi quando, em 2020, começou a escrever o livro “No Corredor dos Tornados – A vida por um click”, já disponível na Amazon desde julho de 2021.
Inspirado no livro, Wellington decidiu que faria um filme. Sem estúdio, sem recurso e sem uma grande produção.
“A história do livro é de ficção científica, onde conta uma história de dominação mundial pela Google. O personagem será ajudado por uma equipe vinda do futuro para ajudar a impedir essa dominação, para isso, ele precisa realizar missões dentro da própria internet. Então, justamente pela história se passar quase toda na internet, eu consegui fazer o filme.”
Wellington Nunes
Assim que disponibilizou o filme no seu canal, uma distribuidora se interessou pelo longa e adquiriu os direitos de exploração. Com isso, além da exibição no festival Guarufantástico em São Paulo, o filme já está disponível nas plataformas Now e Vivo Play desde o último dia 11.
“Eu sempre achei interessante usar o Google Earth, e sempre pensei que poderia fazer algo com isso. Como eu já sabia de alguns dos segredos da Google, eu pensei que poderia sim criar uma história de ficção científica, envolvendo a própria google, utilizando seus segredos reais e suas plataformas.”
Wellington Nunes
Inspirado na frase de Albert Einstein, o produtor reafirma na última página do seu livro que “algo só é impossível até que alguém duvide e acabe provando ao contrário”, Wellington também faz seu apelo para jovens mareenses.
“Nunca desistam dos seus sonhos, mesmo que pareçam impossíveis e tardios. Eu nunca pensei em fazer sequer faculdade, imagine passar em concursos, escrever livros e fazer o próprio filme. As coisas foram acontecendo com o tempo. Aconselho só dizer seus sonhos pra quem é muito próximo ou a quem acredita poder ajudar. Mas de nada adianta se não colocar em prática. Uma ideia pode parecer absurda até ela ser posta em prática.”
Wellington Nunes