De volta ao passado

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Hélio Euclides

“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci, é, e poder me orgulhar, e ter a consciência que o pobre tem seu lugar”. Muitos se lembram com saudosismo dessa letra do Rap da Felicidade, de 1994, e, provavelmente, se recordam de tantas outras músicas que marcaram época. Esses raps estavam nos bailes das antigas, que reuniam canções brasileiras e funk melody internacional, como It’s Automatic, que todos cantavam “É tchô tchô méri”, Spring Love e Whoop! There it is, que virou “Uh, tererê”. Esse espírito irreverente está de volta com as Festas Flashback.

A diferença encontrada é que os bailes das antigas são compostos por músicas mais melódicas e temas mais românticos, seguindo mais fielmente a linha musical do freestyle americano. Alguns desses funks traziam em suas letras temas de protestos, humildade e paz. O motivo era que, na época, ocorriam os chamados “corredores”, quando dois grupos rivais, chamados de “lado A e lado B”, se enfrentavam, com direito a espancamentos no “corredor polonês”. Então, “os antigos sempre pediam paz, pois o povo brigava e aconteciam confusões. Queriam com isso acabar com as rivalidades. Hoje é só paz, temos maturidade e formamos famílias”, destaca Clayton Pereira, de 37 anos.

Uma dessas festas flashback acontece na Nova Holanda, que além de Clayton na organização, reúne os amigos Roy Buiu, de 41 anos, Thiago Goati, de 33 anos, e Neno D2, de 37 anos. “Em 2008, começamos na laje e depois com equipe de som. Antes não tinha essa organização, nem a pretensão de realizar outras. Já na rua, a primeira festa aconteceu no dia 15 de abril, com os mais velhos querendo a segunda edição. Queriam ouvir este ritmo, que os acompanha sempre, mas que não está presente com frequência nas baladas atuais. Então, fizemos outra no dia 12 de agosto, que reuniu de mil a 1.500 pessoas. A ideia é produzir quatro eventos por ano”, exalta Roy Buiu.

“O desejo de fazer esse baile na nossa comunidade surgiu quando vimos outros eventos em outras localidades. O objetivo é resgatar o antigo funk, uma época, numa festa sem violência e sem apologia. Desejamos uma unificação pelo funk”, destaca Thiago Goati. Hoje, acontecem muitas dessas festas pela cidade, nas quais os participantes vão uniformizados e com bandeiras. “O objetivo é concentrar o máximo de participantes, com uniforme e bandeira; tem baile que esse conjunto ganha troféu ou balde de cerveja. Cada equipe leva, em média, 70 pessoas. É uma concentração de amigos de Duque de Caxias, Bangu, Jacarepaguá, Pechincha, Cidade de Deus, Alemão, Jacaré, entre outros. Esses eventos servem para aproximar amigos que não se viam há muito tempo”, diz Thiago.

Neno D2 relembra que começou a ir ao baile quando tinha 14 anos. “Nós frequentávamos o baile ainda na adolescência, pedíamos para a mãe, e pegávamos a matinê no Bonsucesso Futebol Clube, no domingo, que acabava às 22h. Já na Maré, por volta dos anos 1990, participávamos do baile no CIEP Samora Machel, que só terminava quando a ‘poliçada’ chegava. Esse baile durou cerca de dez anos”, conta. Hoje há um roteiro de “funk das antigas”. As datas são combinadas para não baterem. Além da Nova Holanda, há festas nesse estilo na Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Vila dos Pinheiros e Vila do João. “O pessoal vem para cá e vice-versa, quebramos a barreira. Compartilhamos o carinho e retribuímos visitando o outro. Nas festas, percebemos três gerações que se criaram ouvindo esse funk. O morador traz a sua cadeirinha e vem. Nos eventos há pula-pula para a criançada e tira-gostos para todos”, fala Roy. Tiramos do bolso cerca de três mil reais, com gasto de equipe, bolo e fogos, mas estamos contentes. Os comerciantes estão chegando junto, e somos agradecidos. Qualquer ajuda é bem-vinda”, conclui Roy.

A próxima edição da festa flashback será no dia 11 de novembro, na Rua Sargento Silva Nunes, Nova Holanda. Antes, no dia 04, terá uma festa no Pontilhão, entre a Vila dos Pinheiros e o Morro do Timbau, com Mc Marcinho. Imperdível!

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