As férias acabaram; um novo ano letivo se inicia e, com ele, os desafios de implementar uma rotina de estudos, orientar e acompanhar a vida escolar dos filhos
Maré de Notícias #97 – fevereiro de 2019
Por: Hélio Euclides
Fevereiro chegou e, com ele, muito calor, o fim do Horário de Verão e o início do ano letivo. Para crianças, adolescentes e jovens é momento de arrumar a mochila, vestir o uniforme e retornar às salas de aula. Para alguns, será o primeiro dia de aula numa nova escola. Neste momento, é importante destacar que as Redes estadual e municipal de ensino estão em fase final de inscrição para os que ainda não foram alocados.
Para os pais, não existe uma bula ou manual que ensine o que fazer nesse início de ano escolar. Denise da Silva, professora do CIEP Hélio Smidt, esclarece que a principal dica é caminhar junto à vida escolar do filho. “Primeiro, é procurar estabelecer uma rotina que o auxilie na adaptação ou readaptação ao horário e às atividades escolares. Atenção ao uso do uniforme e ao fornecimento de materiais escolares básicos. Orientar os filhos sobre a necessidade de respeitar os colegas, professores, funcionários, espaço e regras escolares e estabelecer o diálogo e um bom relacionamento entre responsáveis e escola”, recomenda.
Esse é o mesmo pensamento de Adelaide Rezende de Souza, psicóloga e doutoranda no Instituto de Psicologia da UFRJ. Para ela, na etapa da Educação Infantil, os pais devem acompanhar, de perto, as primeiras semanas. “Conversar com as crianças quando voltarem para casa, para saber como foi o dia, como está a interação com os amigos, o que elas acham da escola; buscar esse acompanhamento dos primeiros dias, principalmente, e dar continuidade no decorrer do período”, ressalta.
Segundo Adelaide, o acompanhamento da vida escolar de adolescentes e jovens também é importante. “Eles têm muitos deveres de casa e, para não se perderem no acúmulo de exercícios e trabalhos, é importante, nesse início, fazer um planejamento diário do gasto do seu horário. Os pais devem, no dia a dia, perguntar sobre a matéria que se está trabalhando e, sempre que possível, conversar com os professores”.
A psicóloga acrescenta que a escola também é um espaço de amizades, que podem vir com conflitos e divergências. “É importante que os pais estejam juntos, acompanhando essa vida social. Resumindo: o diálogo é fundamental!”
Atenção à fase final das matriculas escolares
A Secretaria Municipal de Educação recomenda que os responsáveis compareçam na Unidade escolar escolhida, para a confirmação da matrícula. Para sanar qualquer dúvida, os pais ou responsáveis devem consultar, novamente, o site <http://www.matricula.rio>.
A Secretaria Estadual de Educação informa que foram realizadas cerca de 234 mil inscrições para o ano letivo de 2019 e que a consulta dos nomes dos alunos alocados está disponível no site <www.matriculafacil.rj.gov.br> e no portal <www.rj.gov.br/web/seeduc>. Qualquer pendência, matrícula nova ou transferência podem ser resolvidas na Unidade escolhida no ato da inscrição. As aulas na Rede pública estadual de ensino começam no dia 6 de fevereiro.
Quando ano letivo significa preocupação
Em Marcílio Dias, só há uma Unidade pública de ensino, a Escola Municipal Cantor Compositor Gonzaguinha. A Unidade só atua até o 5º ano do Ensino Fundamental, o que leva os alunos a estudarem em escolas distantes de suas casas. “Acho que nossa escola precisa crescer, para que o aluno possa dar continuidade ao ensino, aqui, e, quem sabe, fazer cursos na Unidade. Quando o aluno deixa a escola, vai estudar fora da comunidade, traz gasto com transporte. Aqui, precisamos também de creche pública e escola de Ensino Médio”, desabafa Maria Vanessa, moradora de Marcílio Dias.
“Meu filho vai para o 6º ano e precisará estudar fora da comunidade. O trajeto será atravessar a Avenida Brasil, algo que é perigoso para um adolescente de 13 anos. Se estudasse, aqui dentro, ficaria resguardado”, reclama Adriana Martins. Os próprios funcionários, que preferem não se identificar, dizem apoiar as reivindicações dos moradores.
Um reforço à vida escolar
Alguns alunos precisam de uma explicação extra para melhorar o aprendizado e as avaliações. No início do ano, os pais procuram as explicadoras, que trabalham em residências ou locais próprios. Para Denise, há estudantes com mais dificuldades que outros e as aulas de reforço são válidas. Ela explica que a existência de explicadores vem da dificuldade de os professores atenderem à demanda específica de cada aluno, uma vez que é elevado o número de estudantes por turma.
Andrea de Campos Marinho é uma das muitas explicadoras da Maré. Ela atua nessa atividade de ensino há 24 anos, numa sala na Nova Holanda. “Pensei em ficar um tempo como explicadora e agradei. São, em média, 50 a 60 alunos por ano. Já chegou adolescente de 13 anos que não sabia ler e nem Matemática. Nesse momento, deixo o lado explicadora, para ensinar o que não sabem, assim, adianto a vida escolar deles”, conta.
Andrea diz que ser professor é uma vocação. “Recebo para duas horas diárias de revisão escolar, que, às vezes, chegam a três vezes mais de tempo, pois abraço a causa. Ensino crianças da 1ª série até jovens do Ensino Médio. Já dei aulas para crianças e, hoje, trabalho com seus filhos, são gerações que estão comigo. Estimulo o aluno a pensar no futuro, que é preciso sempre estudar”, diz. Para Andrea, o papel do responsável é fundamental. “Recomendo que os pais coloquem os filhos para lerem. Que peguem o jornal, como o Maré de Notícias, e reflitam sobre a atualidade, fugir da decoreba”, conclui.
Nenhum a Menos: inclusão na educação
Com cinco anos de funcionamento nessa segunda fase, o projeto Nenhum a Menos, da Redes da Maré, é destinado a crianças que estão fora das salas de aula, fazendo a ponte para o retorno regular às escolas. O projeto oferece, para a criança, apoio pedagógico na leitura e na escrita e orientação à convivência na escola. “O objetivo do projeto é ajudar a criança, sua família e a escola, com orientações sociais amplas e oficinas de arte e educação. São duas turmas, com 25 crianças cada, que participam de contação de história, jogos divertidos, brincadeiras populares, construções lúdicas, robótica e oficinas de música, onde elas compõem, cantam e tocam”, explica Inês Cristina Di Mare Salles, coordenadora do projeto.
O projeto reúne crianças a partir dos 5 anos de idade. “Não rejeitamos a história das crianças, acolhemos as suas questões e somamos”, diz Inês. O Nenhum a Menos tem apoio da Kindermissionswerk, Ireso, ActionAid, Fischertechnik, Gaia Education e pessoas físicas. O Nenhum a Menos funciona de segunda a sexta, das 13h30 às 18h30, na Lona Cultural Herbert Vianna.