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Obras feitas em período de eleição trazem falsas promessas e pouca durabilidade

Maré de Notícias #149 – junho de 2023

Por Hélio Euclides

Parece um show de mágica em que políticos tiram da cartola uma série de obras. A magia geralmente acontece em ano de eleição e tem um território preferencial: as favelas. De repente, aparecem os caminhões de asfaltos e tapetes sintéticos para os campos. O problema é que as obras e ações nem sempre são feitas com material de qualidade, no tempo devido e não contam com manutenção adequada. Os “benfeitores” lançam a isca e esperam que os eleitores sejam fisgados pelo anzol. Uma característica dessas obras é a ausência de placas que esclareçam valores, nome da empresa responsável e prazo. Ao fim das obras, multiplicam-se faixas de agradecimentos.

Obras sem durabilidade

Em 2022, “caiu de paraquedas” a troca do revestimento da Rua Teixeira Ribeiro, no Parque Maré. O serviço de pavimentação foi realizado sem o recapeamento, criando locais em que a rua ficou mais alta do que a calçada. “Tinha que ter o mesmo nível das ruas transversais, só que ficou mais alta. Isso é obra de eleição”, reclama Antonio Carlos, de 50 anos, que trabalha como ambulante na via. 

A cobertura das ruas feita com asfalto é composta por cinco camadas: o reforço do subleito, sub-base, base, camada de regularização e revestimento. A manutenção sem o cuidado ideal e sem qualidade vai resultar em um pavimento de menor durabilidade.

Piso temporário

As crianças atendidas por projetos sociais esportivos não tiveram muito tempo para comemorar a reforma da quadra na Nova Holanda. Menos de um ano depois, o espaço teve o piso destruído e está sendo refeito. Gilmar Junior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda, explicou que o piso da quadra ficou oco. 

“A empreiteira não trabalhou corretamente. Agora é a empresa do governo estadual que está na concretização da obra. Se não fizerem corretamente, ficam sem verbas”, diz. 

Vânia Silva, vice-presidente da escola de samba Gato de Bonsucesso, critica o gasto em dobro do dinheiro público: “Tinha que investir em outra coisa, uma obra tendo que ser refeita em tão pouco tempo é desperdício. Esse material poderia ser muito bem usado na nossa quadra da escola, que é patrimônio cultural da Maré.” 

O vento levou

Na Praia de Ramos, nada foi feito para manter a lona cultural, apesar da sua visível deterioração. Os rasgos na cobertura levaram ao desgaste da estrutura e, por fim, a retirada de toda armação metálica. Com os campos de futebol sintéticos acontecem o mesmo: a ausência de manutenção. A prática tornou-se aparecer com a solução bem na época da eleição: trocar a grama.

Em 2015, com a promessa de oferecer um espaço seguro para os ciclistas, as principais ruas do território da Maré foram pintadas de azul, indicando a criação de ciclofaixas. Um investimento de R$ 5 milhões foi destinado para a construção de 18 quilômetros de vias para bicicletas, além da instalação de placas de sinalização. 

O projeto tinha como objetivo ligar a Maré à Cidade Universitária. No entanto, hoje restam apenas os bicicletários nas passarelas e um pequeno trecho de ciclovia sob a Linha Amarela.

Leandro Silva, de 27 anos, é assistente administrativo e morador da Vila dos Pinheiros. Ele tem uma visão crítica sobre essas interversões: “Para mim, essas ações não têm como visão primária a melhoria da qualidade de vida dos moradores. São obras feitas para angariar votos para quem não conhece a realidade da comunidade e suas reais necessidades. O completo esquecimento em que vive os habitantes da favela pela máquina pública é usado por esses políticos para autopromoção.” 

Na opinião de Silva, a solução está na conscientização política da população, que deve fazer uma avaliação criteriosa do histórico dos candidatos antes de votar, evitando assim ser enganada por falsas promessas. Ele ressalta a importância de uma melhor organização da associação de moradores para pressionar os políticos eleitos a cumprirem suas promessas e trazerem melhorias reais para a periferia.

Melhorias prometidas 

A Secretaria Municipal de Conservação informou que mandará uma equipe até a Rua Teixeira Ribeiro, no trecho perto da Rua Principal, a fim de fazer vistoria e analisar as necessidades da via.

Em relação à ciclovia, a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Clima informou que analisa a melhor forma de como retomar essa iniciativa.

A Empresa de Obras Públicas do Estado do Rio de Janeiro (EMOP-RJ) confirmou que o trabalho da quadra está sendo refeito e não tem custo para a companhia. Segundo o órgão, o que motivou a reforma foi a desobediência da empreiteira contratada ao padrão imposto para esse tipo de obra, o que resultou no piso irregular da quadra; o custo previsto para a correção é de R$ 180 mil.

Menos de um ano depois da reforma, piso da quadra da Nova Holanda precisou ser refeito – Foto: Affonso Dalua

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