Dia Nacional de Combate ao Fumo: por que evitar o cigarro (inclusive o eletrônico) é a melhor opção

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Confira entrevista com Ana Helena Rissin, técnica do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS)

Por Hélio Euclides, em 29/08/2022 às 10h37

Na década de 1980 era comum nos filmes e novelas pessoas aparecerem em cenas com um cigarro na mão e espalhando fumaça no ambiente. O cigarro era considerado símbolo de sedução, modernidade e de glamour. Um estudo lançado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2015 mostrou que pessoas que assistiram a trechos de filmes que incluíam fumantes destros sofreram um estímulo cerebral nas regiões associadas ao desejo e ao movimento da mão direita.  

Em 1986, para modificar esse cenário no país, foi criado o Dia Nacional de Combate ao Fumo, a data de 29 de agosto tem como objetivo reforçar as ações de incentivo à diminuição do número de fumantes. As ações relacionadas ao dia estimulam que evitar o tabaco é a melhor escolha. No início dos anos 1990, foi incentivada uma maior presença de legislação contra o tabaco por todo o mundo, para uma conscientização sobre os danos à saúde, sociais e ambientais. No Brasil, para ajudar no combate ao fumo, as leis foram associadas às estratégicas como a propaganda sendo banida, imposto alto e os maços trazendo alertas de saúde. 

Na culminância da data, a Fundação do Câncer, em parceria com a Associação Nacional das Universidades Particulares (ANUP), lançou uma campanha de alerta sobre os perigos do cigarro eletrônico, mostrando que os dispositivos fazem mal à saúde. Segundo pesquisa encomendada pelo Ministério da Saúde, um a cada cinco jovens, na faixa de 18 a 24 anos, usa cigarro eletrônico. O cigarro comum tem em média um grama de nicotina, enquanto o dispositivo eletrônico pode ter sete vezes mais. Segundo a Sociedade Brasileira de Cardiologia, os jovens que fumam cigarro eletrônico têm mais chance de sofrerem infarto e AVC. Segundo agência reguladora dos Estados Unidos, dos 2.711 casos de lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico, 68 casos chegaram a óbito (https://globoplay.globo.com/v/10884780/).

Leis e ações de tratamento

A Secretaria de Estado de Saúde (SES) realizou este ano a capacitação de 386 profissionais da saúde e da educação de 50 municípios fluminenses em um curso de prevenção à iniciação ao tabagismo. Entre os assuntos abordados na capacitação, os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs), ou cigarros eletrônicos, foram destaque em função da projeção que ganharam principalmente entre os mais jovens. A capacitação tem como objetivo orientar e sensibilizar equipes para atuar na promoção da saúde junto às escolas e às unidades da rede estadual. A ação da SES foi articulada em parceria com o Ministério da Saúde (MS) e o Instituto Nacional de Câncer (INCA), dentro do Programa Nacional de Controle do Tabagismo (PNCTO).

Para limitar a venda, propaganda e o uso foram criadas diversas leis, no âmbito municipal, estadual e federal. Um exemplo é o artigo 49 da Lei nº 12.546/2011 e o Decreto nº 8.262/2014, que a regulamenta. Segundo eles, desde 3 de dezembro de 2014 está proibido fumar cigarros, charutos, cachimbos, narguilés e outros produtos derivados do tabaco em locais de uso coletivo, públicos ou privados, de todo o país. Na cidade do Rio de Janeiro, a Prefeitura realiza fiscalização para o cumprimento das regras de convívio de fumantes e não-fumantes. Além disso, oferece tratamento gratuito a quem deseja parar de fumar nas unidades de Atenção Primária. Para falar sobre isso, o Maré de Notícias entrevistou Ana Helena Rissin, técnica do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).

Ana Helena Rissin é técnica do Programa de Controle de Tabagismo da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do Rio e concedeu entrevista ao Maré de Notícias | Foto: Arquivo pessoal
  1. Quando começou a mudança no pensamento sobre o tabagismo?

No final da década de 1980, o Ministério da Saúde começou a trabalhar a questão como problema de saúde pública. Foram três linhas de ação: as leis, o tratamento e a prevenção. Ao longo dos anos se pensou no tratamento, que aqui na cidade demos início no final dos anos 1990 com o treinamento. Nós nos aprimoramos e nos capacitamos para treinar outros. Em 2004 começamos o trabalho nas unidades.

  1. Como sensibilizar os fumantes?

Na faculdade não se aprende sobre o assunto. Por isso são necessários dois dias de treinamento para os profissionais interessados. O cigarro é uma dependência química e não é só falar que faz mal. O primeiro passo é entender o fumante, até se será necessário o uso de medicamentos. São três tipos de dependências: física, comportamental e emocional. Na entrevista tentamos perceber qual a ligação do paciente com o cigarro. Pode ser algo psicológico, fumar após o café ou a bebida alcoólica.

  1. O que faz uma pessoa procurar os profissionais?

Quando nos procura é porque necessita de ajuda e se reconhece como fumante. A interrupção não é mágica. Mostramos o lado positivo e o ganho, os avanços na vida. Um exemplo é pedir que coloque o dinheiro utilizado para comprar o cigarro num cofrinho em casa, ou final do mês o indivíduo vai ver o quanto ganhou com o não uso do cigarro. Não é só mostrar os males e doenças, é preciso demonstrar com a vida dele. Um caso que sempre conto era de um pai que vivia na varanda, pois era o seu cantinho para o fumo. Quando interrompeu essa rotina, ficou mais tempo na sala e acabou se aproximando mais do filho. Percebeu o benefício de parar de fumar. Além de ter maior tempo de sobra para fazer algo construtivo.

  1. Há instrumentos que incentivam os fumantes?

Um é o cigarro eletrônico, um artifício da indústria que tenta disfarçar e dizer que não faz mal. Essa geração precisa perceber que não é um vapor d’água, mas que traz um dano muito maior do que o cigarro comum. A indústria quer mostrar que é algo moderno. Os estabelecimentos que vendem não sabem que o cigarro eletrônico é proibido no Brasil. Em 2009 a Anvisa o proibiu por não existir estudos. Por pressão, ocorreu uma consulta pública com estudos e os levantamentos, confirmaram os malefícios que a utilização desse utensílio causa. O jovem precisa saber que é proibido o comércio, dessa forma o que chega aqui é contrabando, algo ilegal.

  1. Qual o procedimento do tratamento?

Quem desejar parar de fumar deve procurar a unidade de saúde mais próxima de casa ou do trabalho, para ingressar no programa. A pessoa vai passar por uma entrevista individual, para saber o nível de dependência da nicotina. Alguns nos procuram e mencionam os dentes amarelos, querem uma estética melhor. O tratamento é em grupo ou individual, como a pessoa preferir. A vantagem do tratamento em grupo é que um motiva o outro. Começa com um mês, sendo uma vez por semana. Mas o paciente fica sendo acompanhado por um ano para estudos, no início duas vezes ao mês e ao decorrer do tratamento para uma vez a cada 30 dias.

  1. Quem são as pessoas que procuram o programa?

A maioria que nos procura está na faixa dos 35 a 40 anos, tendo fumando por volta de 20 anos. Destes, 90% começaram a fumar cedo, antes de completar 19 anos de idade. Percebemos também que os que estudam mais, menos fumam. A indústria do tabaco se aproveita de quem tem menos poder aquisitivo. No programa, entre 40% a 50% param de fumar no primeiro mês, e outros vão diminuindo ao decorrer do tratamento. A cada passo o paciente fica mais feliz.

  1. Qual o sentimento nessa trajetória de parar de fumar?

Muitos têm medo de engordar, explicamos que isso acontece quando se pára de fumar, pois se sente mais cheiro, ou seja, aprecia mais a comida, fica até mais gostosa. Ensinamos no programa estratégias e estímulos para facilitar o tratamento. Há um incentivo para que o cérebro domine a dependência, ou seja, que ocorra uma distração nos neurônios. A pessoa escolhe a data que pretende parar de fumar. Só assim saberemos se precisará de alguma medicação, para diminuir a ansiedade. No final do tratamento há casos de pessoas que reformaram a casa com o dinheiro que usavam para comprar os maços de cigarros. 

  1. É um cabo de guerra permanente com a indústria do cigarro? 

Sim, conseguimos acabar com a propaganda em meios de comunicação, ficando restrito aos locais de venda. A indústria respondeu abrindo mais pontos de vendas, como as bancas de jornais e vendendo cigarros com sabores. Em 2018, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determinou que não pode ter luz, desenho ou propaganda onde fica o cigarro. Em 2020 veio a recomendação de produtos de tabacos ficarem distantes de balas e doces. Hoje há rondas de fiscalização para notificações aos estabelecimentos que utilizam artifícios para venda do cigarro. Nas caixas de cigarros já vem advertências sobre doenças, mas o ideal era os marços ficarem escondidos nas lojas. Na pandemia, as indústrias se aproveitaram e colocaram até promotores de vendas nos estabelecimentos. No Metrô foram colocados até máquinas que vendiam bebidas alcoólicas e cigarros. Muitas vezes o comerciante que está errado não sabe que quem paga a multa é ele.

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