Ao todo, 44 escolas foram fechadas impactando mais de 15 mil alunos, além de quatro unidades de saúde fechadas
Quatro pessoas foram mortas e duas ficaram feridas durante a 42ª operação policial que aconteceu nesta segunda-feira (9) no Conjunto de Favelas da Maré. A operação de grande porte surpreendeu os moradores que por volta das 5h, já relataram helicópteros sobrevoando a área, veículos blindados (caveirões) e policiais a pé principalmente no Conjunto Pinheiros, Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Nova Holanda e Parque União.
Por volta das 7h da manhã, a equipe do eixo de Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Maré recebeu relatos de que uma pessoa havia sido morta em um beco no Morro do Timbau. A equipe da Redes da Maré acionou o Ministério Público e o Corpo de Bombeiros, que não haviam sido notificados da morte pelas polícias que atuavam no território. Após o diálogo da Redes da Maré com os agentes, policiais militares fizeram o aviso à Delegacia de Homicídios e realizaram a preservação do local do crime. O corpo de Matheus Gama, de 27 anos, permaneceu no local até às 10h, quando o Corpo de Bombeiros chegou ao local para atestar a morte. A perícia da Delegacia de Homicídios chegou ao local por volta das 12h.
Além da morte de Matheus Gama, foram identificadas outras três mortes: Wendell Pereira, de 21 anos; Alessa Vitorino, de 30 anos, e um homem ainda não identificado que se encontra no Hospital Geral de Bonsucesso.
Alessa saía de um comércio na Vila do João e seguia para sua casa no Encantado, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Ela estava acompanhada por Evelyn Tainara, que também foi atingida por disparos. Ambas receberam atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Vila do João, mas, infelizmente, Alessa não resistiu aos ferimentos. Matheus Ramos também foi baleado e, embora tenha sido identificado pela família, seus familiares ficaram horas sem informações sobre seu estado.
Segundo a Polícia Militar, o Comando de Operações Especiais, Batalhão de Policiamento em Vias Expressas e do 22° BPM (Maré) atuaram nas comunidades da Vila do João, Timbau, Vila Pinheiros e Baixa do Sapateiro com o objetivo reprimir o roubo de cargas e veículos na região. A Polícia Civil também participou da ação por meio da Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA) e da Delegacia de Roubos e Furtos de Cargas (DRFC).
Ameaças
A equipe da Redes da Maré foi abordada por policiais que em tom de ameaça afirmaram que se identificassem os rostos dos profissionais iriam “caçar as redes sociais” e irem atrás. Logo depois, um policial se aproximou e pediu dados pessoais dos profissionais da Redes da Maré. Essa não é a primeira vez que trabalhadores da Redes da Maré sofrem ameaça por parte dos agentes de segurança do Estado.
Outros impactos
A Redes da Maré, desde 2016, através do Projeto De Olho na Maré, monitora os impactos de operações policiais na Maré. A equipe da instituição realiza atendimento no território nos dias de operação policial para acolher vítimas de violências e violações, buscando facilitar o acesso a direitos.
Nos últimos oito anos, foram registradas 148 mortes das quais em apenas nove foram realizadas perícias.
A operação desta segunda-feira (9) impactou 44 escolas que foram fechadas, sendo 42 municipais e duas estaduais, o que representa 15141 alunos sem aula pela 37ª vez este ano. Quatro unidades de saúde, sendo elas as clínicas da família Augusto Boal, Adib Jatene, Jeremias Moraes da Silva e o Centro Municipal de Saúde Vila do João também precisaram ser fechadas. Além da Clínica da Família Diniz Batista dos Santos que apesar de manter o atendimento à população suspendeu as atividades externas realizadas no território, como as visitas domiciliares.
“Parece que a casa vai cair com esse helicóptero baixo”; “Muitos tiros, é assustador isso”, esses são outros relatos de moradores que viveram a operação policial no território, presos em suas próprias casas, privados dos direitos de ir e vir e dominados pelo medo.
O Maré de Direitos, projeto do eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça, da Redes da Maré, acolhe situações de violações de direitos no WhatsApp (21) 99924-6462. O Ministério Público (MP) realiza um plantão especial para atender a população. O atendimento gratuito é feito no telefone (21) 2215-7003, que também é WhatsApp, ou no e-mail [email protected].