Ensino de jogos eletrônicos se destaca nas favelas e na cidade

Data:

Na Maré, projeto AfroGames completa um ano e Zona Norte do Rio terá primeira arena de jogos eletrônicos no Engenho de Dentro

Thaís Cavalcante

Com a chegada do Projeto AfroGames na Maré, jogar no celular ou no computador deixou de ser apenas uma diversão com os amigos e passou a ser a carreira sonhada por muitos jovens: atleta de eSports. AfroGames é o primeiro centro de formação em esportes eletrônicos em favelas do mundo, com aulas gratuitas dos jogos Valorant, League of Legends e Free Fire, assim como Desenvolvimento de Jogos e inglês básico. O Projeto que comemora um ano em junho já alcançou 300 jovens nas unidades da Nova Holanda e Morro do Timbau. O tema interessa não só as favelas, a cidade também busca ser referência no tema ao nível global. 

Matheus Alberto, 16, jogava só por diversão, mas depois da indicação de colegas na escola, convenceu sua mãe a levá-lo três vezes na semana para as aulas de Free Fire, na Nova Holanda. “Aqui, eu aprendo a jogar com objetivo de me tornar um atleta de eSports. Me inspiro no Bruno ‘Nobru’, ele já ganhou o mundial de Free Fire.” As aulas têm o objetivo de ensinar estratégias básicas e avançadas, para que os alunos alcancem o modo competitivo e participem de campeonatos. O Free Fire, sendo um jogo gratuito e leve para o celular, sua fama é enorme entre as crianças.

Na última aula, Matheus escolheu como personagem o Dj Alok e tentou sobreviver em uma ilha, eliminando seus adversários. Além da orientação de um professor, ele e outros jovens jogadores têm sala climatizada, boa conexão com a internet, lanche após a aula e podem usar equipamentos como: headphone, celular, computadores e cadeira gamer. Na Maré, o patrocínio vem da empresa de torres de telecomunicações IHS Towers. O projeto tem outras unidades em Vigário Geral, Zona Norte e no Morro do Estado, em Niterói.

Ainda que a estrutura seja suficiente, a realidade ainda é muito desafiadora para os alunos. Para ser um atleta de eSports é preciso praticar e ter equipamentos em casa, como computador ou celular, além da conexão com a internet ou pacote de dados. Segundo o Instituto Locomotiva, 43% dos moradores de favelas não têm internet de qualidade. A violência também atrapalha. Só no mês de abril, a Maré teve 4 operações policiais em diferentes favelas do Complexo, fazendo as aulas do AfroGames e de todos os outros projetos serem canceladas. As operações policiais constantemente atrapalham o funcionamento das aulas, aumentam a insegurança e causam a evasão de muitos jogadores também.

eSports nas favelas, na cidade e no mundo

O Prefeito Eduardo Paes reforçou o desejo de transformar o Rio em um polo gamer e de esportes eletrônicos. Em fevereiro, iniciou a Coordenadoria de Games e eSports com Chandy Teixeira, que garante que a cidade já é uma candidata aos eventos internacionais de jogos. O que deve movimentar a economia, o turismo e gerar emprego e renda. “São várias as possibilidades: atração de grandes eventos, fomento das empresas cariocas que desenvolvem jogos e promover a democratização desta área.” 

A promessa também está no diálogo com projetos que já existem, como o próprio AfroGames e as Naves do Conhecimento, três delas localizadas em favelas. Em maio, foi lançada a primeira Arena Gamer, na Nave do Conhecimento do Engenhão, para ser palco de competições e torneios de pequeno porte.

A cidade busca um mercado de esportes eletrônicos que cresce em todo o mundo. Ele movimenta 150 bilhões de dólares anualmente, segundo a Consultoria Newzoo. Incentivar a formação qualificada de jogadores é o caminho que o Conjunto de Favelas da Maré segue há anos, com seu incentivo à educação e inclusão digital, com internet de qualidade em equipamentos culturais e instituições locais. 

Esse também foi um dos motivos que atraiu o aluno Matheus para sonhar com uma carreira na área. “Pesquisando, vi que os jogos são uma grande fonte de renda. Não só para quem joga, mas para os programadores de jogos também. E é uma área nova que, além dos gamers, quase ninguém conhece. Querendo ou não, tem bastante vaga de emprego nela.”, conta.

Os últimos 10 anos foram relevantes para os eSports, tanto para o jogador amador, competidor, ou até para quem só assiste e torce. É o que diz a Pesquisa Game Brasil de 2023, que traz o resultado das principais tendências e hábitos de consumo do gamer brasileiro. Além de ser uma opção para profissão, jogar continua sendo entretenimento: 82,1% afirmam que os jogos eletrônicos são uma das suas principais formas de diversão.

Aula de Free Fire mobile para jovens do projeto AfroGames na Nova Holanda | Foto: Thaís Cavalcante.

AfroGames incentiva novos jogadores no Rio2C

O eSports também foi destaque no Rio2C, o maior evento de criatividade e inovação da América Latina realizado em abril. Ele trouxe em um de seus painéis sobre periferias e inovações a Oficina “Como transformar ideias em Projetos de Jogos”, oferecida pelo Projeto AfroGames. Os inscritos aprenderam sobre jogos na teoria e prática, além de conferir de perto os games que, ajudam na criação de ideias, despertam a criatividade e solucionam problemas.

AfroGames oferece oficina “Como transformar ideias em Projetos de Jogos” no Rio2C. | Foto: Thaís Cavalcante.

Patrick Scoralick, 23, está no Projeto desde o começo e participou da Oficina no Rio2C. Hoje, é professor de Desenvolvimento de Jogos e Coordenador de Planejamento do AfroGames. “A ideia é democratizar o desenvolvimento de jogos e mostrar ferramentas para criar jogos interessantes. A gente sabe que, numa turma de 20 alunos, nem todos vão sair programadores ou atletas, mas alguns vão sair game designers e outros vão se entender como artistas”, garante. 

Ele explica que, além das aulas semanais, os alunos participam de maratonas de desenvolvimento de jogos guiados por seus professores. Às vezes, os jogos são até vendidos para empresas interessadas. Em seu portfólio online é possível jogar os games prontos, contribuir financeiramente para o desenvolvedor e entender qual a proposta de cada um deles. Eles levaram de dois dias há alguns meses para serem programados. Dê o start aqui: https://afrogamesdev.itch.io/ Sugestão: ‘embedar’ o site na matéria.

Seja aluno do Projeto AfroGames

As inscrições são presenciais e gratuitas. Para menores de 18 anos, é preciso o acompanhamento do responsável. Documentos necessários: RG e CPF do aluno; RG e CPF do responsável; comprovante de residência. Horário de atendimento: 10h às 16h. Cada curso tem duração de até 10 meses, com aulas 2x na semana e duração de 2 horas. Você também pode ser aluno nas unidades de Vigário Geral e Morro do Estado.

Unidade do AfroGames da Nova Holanda foi inaugurada em junho de 2022. | Foto: Thaís Cavalcante.

Unidade Nova Holanda – Rua Sargento Silva Nunes, 608 – Nova Holanda

Cursos da manhã: Valorant, League of Legends, Programação e Free Fire

Cursos da tarde: Programação e Free Fire

Unidade Morro do Timbau – Endereço: Rua dos Caetés, 131 – Morro do Timbau 

Prédio da Associação de Moradores do Morro do Timbau

Curso da manhã: Valorant

Cursos da tarde: Programação e Free Fire

Saiba mais: https://afrogames.com.br/

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Redução da escala 6×1: um impacto social urgente nas Favelas

O debate sobre a escala 6x1 ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, impulsionado pela apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe a eliminação desse regime de trabalho.

Ondas de calor como tema no G20 o que são e como enfrentá-las?

Este ano, todos os olhares estão voltados para o G20, evento que reúne os países com as maiores economias do mundo anualmente para discutir iniciativas econômicas, políticas e sociais.