Entenda como a luta coletiva conseguiu impedir um aumento de 25% da passagem do trem

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Por Luize Sampaio, da Casa Fluminense

Após pressão da sociedade civil organizada, o aumento da passagem previsto pela Supervia para este ano foi cancelado e reajustado. A previsão da empresa era aumentar a tarifa de R$4,70 para R$5,90 mas, depois da articulação proposta pelo Movimento Contra o Aumento da Passagem, um novo valor de R$5,00 foi negociado junto ao estado. Essa mudança do preço da passagem, que passou a valer a partir do dia 23/02, é marcada por uma intensa atuação da Casa e de outras organizações espalhadas por toda a metrópole, o Meu Rio, sindicatos, movimentos estudantis e mandatos parlamentares. Entenda mais sobre os principais pontos dessa história. 

A indignação sobre a proposta inicial de reajuste pressionou a Supervia e Governo do Estado a recuar e adiar o aumento por 20 dias.

O Movimento Contra o Aumento da Passagem foi formado no início de janeiro após o anúncio do reajuste. Com o lema “R$5,90 é a covardia”, o grupo passou a buscar ações junto ao Governo do Estado e Defensoria Pública para cancelar a medida da Supervia. O principal argumento da movimentação era a própria análise do contexto atual do estado. O Rio de Janeiro é a região do país que mais perdeu postos de empregos formais entre 2014 e 2020, além de possuir uma das cestas básicas mais caras do Brasil. Sem auxílio emergencial ou novas oportunidades de emprego, como o cidadão fluminense conseguiria arcar com uma passagem de R$5,90? O presidente da Associação dos Estudantes Secundaristas do Estado do Rio de Janeiro (AERJ), Ruan Vidal, levantou esse quadro. Para ele, o papel estratégico que o transporte possui nesse momento de crise foi colocado de lado pelos interesses econômicos da Supervia. 

“Ao nosso ver, nesse momento de pandemia em que justamente tudo está ficando mais caro, a passagem deveria ter sido reduzida. O preço da tarifa para o bolso do trabalhador, em especial dos estudantes, é muito alto, mas a empresa está preocupada apenas com o lucro. Nos movimentamos para conseguir barrar esse absurdo e tivemos uma vitória importante, mas ainda não é o suficiente. Nossa luta ainda não acabou”, enfatizou Vidal.

Dois atos públicos foram realizados na Central do Brasil com panfletagem para informar a população usuária sobre o aumento abusivo.

Observando esse cenário, o movimento então atuou por diferentes frentes para impedir o aumento da tarifa. A primeira ação foi a campanha online “Supervia Aumenta Não”, comandada pela ONG Meu Rio, que tinha como objetivo pressionar os principais atores capazes de impedir o reajuste. Através da plataforma da campanha, as pessoas poderiam se cadastrar para enviar um e-mail ao governador do Rio, secretário de transporte, representantes da Supervia e para a agência reguladora Agetransp reivindicando uma ação contra o reajuste. Depois de mais de 6 mil assinaturas, o movimento conseguiu a sua primeira vitória. A pressão conjunta fez com que o reajuste fosse adiado por 20 dias com a promessa de um novo acordo entre a Secretaria de Estado de Transporte e a Supervia. O ouvidor geral da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, Guilherme Pimentel, que também participou da articulação para um novo acordo de valor da tarifa, afirmou que o trabalho do Movimento Contra o Aumento da Passagem foi estratégico durante a negociação. 

“O movimento foi decisivo para diminuir o valor do aumento que era extremamente abusivo e desconsiderava todo o drama econômico da população do Rio. Essa conquista mostra a importância de se continuar atuando para discutir um novo modelo de transporte para o Rio. Meu desejo é que o grupo permaneça gerando impacto para que a gente possa sonhar, inclusive, com o passe livre. Se um dia a gente quiser chegar a esse ponto, é necessário valorizar vitórias como essa” explicou Pimentel. 

O Movimento Contra o Aumento da Passagem articulou ato em diversas estações de trem na metrópole do Rio.

Para aproximar o debate dos passageiros, o movimento realizou também uma série de panfletagens nas estações de trem na Zona Oeste, Zona Norte e Baixada Fluminense, além de dois atos na Central do Brasil. Toda essa articulação fez com que a Supervia recuasse. Junto ao governo, a empresa precisou entrar em um acordo para que a nova tarifa tivesse um reajuste menor e mais compatível com a realidade dos passageiros. Na última sexta-feira (19/02), foi então anunciado que a passagem de R$ 4,70 passaria para R$5,00, e não para R$5,90 como era previsto anteriormente. Frente aos desafios enfrentados, esse novo valor, 75% menor do que era previsto, foi visto como uma vitória e reconhecimento da luta coletiva pela gerente de política institucional da Casa da Cultura da Baixada Fluminense e membro do movimento, Letícia Florêncio. 

“A gente não alcançou nosso objetivo que era cancelar o reajuste, dada a conjuntura extremamente adversa e difícil que afetou a vida do povo trabalhador, mas para nós da organização já foi uma grande vitória conseguir que Supervia recuasse. A luta coletiva gera grandes mudanças, agora vamos continuar lutando para que esse aumento garanta uma melhora na qualidade do serviço da Supervia que hoje é bastante precário”, afirmou Letícia. 

O transporte público sempre foi pauta prioritária para a Casa Fluminense desde a sua fundação, mas, segundo o coordenador geral da Casa, Henrique Silveira, faltava no Rio um grupo articulado para cobrar mudanças, como faz o Movimento Passe Livre em São Paulo. O coordenador reforçou também a necessidade do setor repensar suas formas de financiamento. 

“Logo que ficamos sabendo sobre o reajuste abusivo proposto pela Supervia, sabíamos que era necessário provocar a mobilização popular que articulasse diferentes setores sociais para conter o aumento da tarifa. Conversamos inicialmente com um grupo pequeno de 12 pessoas, e mesmo com os limites impostos pelo contexto de pandemia, novos articuladores chegaram e o Movimento Contra o Aumento da Passagem se constituiu. Para nós da Casa, a luta pelo transporte público e de qualidade certamente continuará, buscando aprofundar o debate sobre o modelo de financiamento e ampliação da transparência na gestão dos modais. Do contrário, seguiremos enxugando gelo todo início do ano quando as novas tarifas são anunciadas”, concluiu Henrique. 

**As opiniões expressas no texto são de autoria da Casa Fluminense, uma nota oficial do Movimento Contra o Aumento da Passagem sobre o reajuste dos trens será publicada ainda esta semana. 

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