Por Samara Oliveira
Quando o assunto é representatividade, a Escola Municipal Tenente General Napion, em Ramos, sabe fazer isso bem e a prova é o muro que cerca a unidade de educação. Rostos de pessoas como Marielle Franco, Conceição Evaristo, Elza Soares, Dandara dos Palmares, Frida Khalo, Carolina Maria de Jesus, Zumbi dos Palmares, Emicida, Luiz Gama, Nelson Mandela, Luiz Gonzaga, estão grafitadas na parte externa e interna ao redor do colégio.
Cada uma dessas personalidades de diferentes gerações tiveram lutas que mudaram o rumo comportamental da sociedade e jogaram luz a temas importantes como os direitos civis das pessoas negras, nordestinas e a liberdade da mulher. Aline Botelho, 42, diretora da unidade garante: “O tema é trabalhado diariamente, os alunos estão por dentro. Não foi só uma pintura jogada no muro” e ressalta “Várias pessoas que estão passando por ali, param para tirar fotos. Além da comunidade escolar, chama atenção das pessoas de fora também”.
A iniciativa para tornar a escola além de colorida mas também um lugar de reflexão e debate sobre a importância dessas figuras veio a partir de um desenho de um aluno. Segundo a diretora, o estudante se referiu a escola no desenho como uma prisão cinza. Desde então, Aline e a equipe escolar começaram com o movimento de colorir a unidade de dentro para fora, incluindo a ação no projeto político pedagógico (PPP) com o objetivo de trazer mais vida para o espaço e tornar o ambiente agradável.
“Dentro da escola temos a figura de uma asa com a frase que intitula nosso PPP: ‘encorajar voos para que o amanhã não seja só um ontem’. Estamos nessa construção diária na questão étnico racial entendendo que uma educação antirracista não é só uma educação que combate o racismo mas que mostra todas essas personalidades e possibilidades que a educação tem”, afirma Aline. O trecho do documento norteador para as atividades escolares é parte da música AmarElo de Emicida com participação de Majur e Pabllo Vittar.
Quem assina os desenhos das personalidades estampadas no muro da unidade é o grafiteiro Thiago Luiz, de 34 anos. Trabalhando com grafite há 18 anos, o artista afirma que “foi muito gratificante fazer esse trabalho e saber que está sendo referência. São referências de luta e muito da liberdade que temos hoje devemos a eles”.
Feira cultural, inspirações e releituras
Mostrando que realmente é além de arte no muro, a escola promoveu a 1ª Feira Cultural “Tudo Que Nóis Tem É Nóis”, o nome da iniciativa também é trecho de outra música do Emicida, dessa vez “Principia”, com participação do Pastor Henrique Vieira.
A feira que foi aberta aos responsáveis dos alunos contou com oficina de grafite, capoeira, apresentação de jongo- dança de origem africana oriundo de Angola-, campeonato de Shisima- jogo de tabuleiro do Quênia, país do leste africano- e diversas exposições de livros voltados para uma educação antirracistas. Além disso, os alunos tinham estandes com releituras das obras de Conceição Evaristo, Carolina Maria de Jesus e outras personalidades.
Inspirados no livro “Quarto de despejo – Diário de uma favelada”, da autora Carolina Maria de Jesus, os alunos do 6º ano produziram sua própria obra “Do Canindé à Maré: diário de escrevivências de estudantes do 6º ano de uma escola pública”.