Espaços de cultura na Maré seguem a todo vapor mesmo com pandemia

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Lona Cultural, Centro de Artes e Yoga na Maré não deixam peteca cair durante período de isolamento

Por Hélio Euclides, em 11/08/2021 às 8h20
Editado por Edu Carvalho

No início de 2020 não era possível pensar que o mundo iria ‘’parar’’. Uma pandemia interrompeu as atividades presenciais, mas não freou o desejo de continuar de alguma forma os exercícios para o corpo e a mente. Uma luz ao fim do túnel apareceu com a opção do uso da internet, como incentivo para a mente e o corpo continuarem em movimento. A Lona Cultural Municipal Herbert Vianna, o Centro de Artes da Maré (CAM) e o Yoga da Maré incentivaram os seus alunos a não desanimarem e seguirem em frente às oficinas de modo on-line.

Com a vacinação da segunda dose contra a covid-19 e os protocolos de segurança, como distanciamento, número reduzido de pessoas e uso de máscara e álcool em gel, já é possível pensar no retorno às atividades culturais de forma presencial. No CAM, Gabriel Lima, coordenador da Escola Livre de Dança da Maré (ELDM) explica que os impactos da pandemia foram muito significativos nas atividades. “A Escola, que anualmente recebia por volta de 300 alunos e alunas ao longo do ano, viu o número de estudantes ser reduzido drasticamente devido às limitações do ensino via plataformas digitais”, diz. Os motivos são a falta de espaço em casa, a ausência de aparelhos adequados e a péssima qualidade de internet na Maré e no Rio de Janeiro.

Outros empecilhos são as próprias limitações do ensino de dança via celulares e computadores. “Por exemplo, as aulas de balé clássico antes da pandemia tinham uma fila de mais de 100 pessoas no aguardo de uma vaga, hoje seguem muito esvaziadas. Acredito que por conta dos problemas de conexão com a internet, pelo fato das crianças não terem acesso a celular ou computador sozinhas e também pelas dificuldades de se ter aulas em casa com todo o peso da pandemia que se instalou nos lares brasileiros”, conta.

Apesar das circunstâncias nada favoráveis, a ELDM não parou de funcionar em nenhum momento, e com muito esforço produziu alguns resultados positivos em meio a tantas adversidades. O filme “A Escrita é o Corpo” é um deles. Fruto de uma residência artística da coreógrafa Cristina Moura com o Núcleo de Formação Intensiva em Dança da ELDM, o filme, que inicialmente seria uma performance ao vivo a ser apresentada no CAM, teve seus trabalhos iniciados ao vivo e, após a interrupção das atividades presenciais, contou com uma mudança de estratégia e se transformou na primeira experiência online da Escola. O filme está disponível no canal do Youtube da Redes da Maré.

O grupo já tem perspectivas para o fim do ano, com a continuidade das atividades de forma remota e um estudo sobre a possibilidade de um retorno gradativo de pelo menos o Núcleo de Formação Intensiva em Dança para o CAM com uma carga mínima de trabalho. “Um possível retorno será acompanhado das ações da Redes da Maré para prevenção de infecções pelo covid-19, como já tem sido feito com os artistas da Lia Rodrigues Companhia de Danças, que atualmente ensaia no CAM seguindo rígidos protocolos de segurança e realizando testagem do tipo RT-PCR periodicamente no Conexão Saúde”, explica.

O Núcleo de Formação Intensiva segue de forma on-line com os cursos de balé clássico, dança de salão, dança urbana e consciência corporal. As inscrição seguem abertas no link.

Uma lona aberta também na internet

A Lona da Maré no primeiro semestre de 2021 manteve suas atividades, todas remotas, em formato de vídeos pílulas, ou seja, com filmes curtos, que foram compartilhados nas redes sociais como Instagram e Facebook. “Conseguimos atingir mais de 10 mil visualizações nas nossas oficinas on-line e o espaço físico da Lona estava aberto para servir a comunidade como apoio logístico da campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus, com distribuição de cestas básicas aos moradores da Nova Maré e realizamos também a testagem gratuita contra a covid-19 uma vez por semana”, detalha Lucas Ferreira, coordenador da Lona.

Na avaliação dele a internet ajudou para que mais pessoas conhecessem e se aproximassem do equipamento. Outro ponto positivo é que os professores, conhecidos como ‘’oficineiros’’ inovaram nas formas de ensinar as oficinas no ambiente virtual. “Para esse segundo semestre, com o avanço da vacinação, nós retomamos parte das atividades de forma presencial”, comenta.

As atividades que estão de forma presencial são: skate para adolescentes de 13 anos em diante, uma parceria com o coletivo Marelongboard, que além de ensinar técnicas também realiza discussões sobre mobilidade urbana, acesso a cidade e território. O Maré de Skate acontece às quintas-feiras, das 14h às 16h. Outra oficina é Capoeira para crianças entre quatro e 12 anos, que ensina os movimentos e busca expandir o potencial cognitivo, social, criativo e musical dos que frequentam a atividade. Sempre às segundas-feiras, das 15h30 às 17h.

Um espaço diferenciado da Lona da Maré é a Sala de Leitura Jorge Amado, que retoma o atendimento ao público às quintas-feiras para empréstimo de livros. Já oficinas pé de livro e percussão, estão ainda on-line para esse segundo semestre, no Instagram da Lona da Maré, entendendo que um novo público se formou para as redes sociais. Também às quintas-feiras ocorre o Atendimento Sóciojurídico com a presença de advogada e assistente social da Redes da Maré para a população.

Mente e corpo em alinhamento na internet

Antes da pandemia era impossível pensar em uma aula de yoga pela internet. Mas Ana Olivia, professora do Instituto Yoga na Maré, fez algumas adaptações e entrou na web com intuito de continuar incentivando as alunas e alunos a praticarem yoga, destinando tempo para o autocuidado. “Os principais desafios são a conexão de internet dos alunos e a falta de um espaço próprio em suas casas para poderem praticar. Também o fato de ficarem com as crianças em casa, de terem que cuidar de familiares doentes, ou de terem sido obrigados a trabalhar em outras coisas para pagar as contas e, por isso, têm menos tempo para a prática da yoga”, expõe.

Professora Ana Olivia faz live para alunos do Yoga na Maré — Foto: Arquivo Pessoal

Com muita paciência, dedicação, e o contato praticamente diário através do WhatsApp, a professora monitora a continuidade das aulas. “Iremos celebrar agora em agosto o nosso sexto aniversário, com um aulão virtual no próximo domingo (15/08), às 9h, e no final de agosto iniciaremos o Curso de Formação de Professores do Yoga na Maré”, diz.

Ela lembra que a formação estava prevista para abril de 2020, presencialmente no espaço Núcleo de Bem-Estar e Saúde (NUBES), mas por conta da pandemia, será no formato semi-presencial. A duração da formação é de 15 meses, com as primeiras aulas no ano de 2021, de forma on-line. Olívia tem a expectativa que em 2022 ocorra a reabertura do espaço NUBES, com atendimento de massagem, oficinas e eventos.

O NUBES fica na Rua Santa Rita, 52 – Nova Holanda. Para mais informações, clique aqui.

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