Família de Marielle agradece resistência e luta da população em ato no Centro do Rio

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Foram dois dias de julgamento dos réus confessos da morte da vereadora Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes. O júri popular deu o veredicto de condenação na noite da última quinta (31), no Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro (TJ-RJ). Logo depois, os familiares de Marielle seguiram para o Buraco do Lume, onde centenas de pessoas esperavam para uma aula pública sobre Direitos Humanos.

O ato foi marcado por diversos cartazes, placas e bandeiras, que pediam justiça, mas também por lenços amarelos e girassóis, que representavam a presença de Marielle e Anderson na memória e na luta do povo. Além disso, as frases que uniam os movimentos presentes em uma só voz “Marielle fez por nós. Faremos por Marielle e Anderson”, “Pisa ligeiro, quem mexeu com Marielle atiçou o formigueiro” eram repetidas durante o ato. 

Entre os presentes estava o Movimento das Mães e Familiares Vítimas da Violência Letal do Estado e Desaparecidos Forçados. “Hoje consigo ter um pouco de esperança de que a justiça possa chegar também a todos. É um alívio, ao mesmo tempo o começo de resposta e um combustível para continuar. A Marielle é essa mulher que correu por justiça e inspirada nela não vou silenciar pelo que aconteceu com meu filho. O povo da favela é resiliente, continua sem desanimar jamais. Estamos no caminho certo”, diz Bruna Silva, mãe de Marcos Vinícius, morto em 2018, durante operação policial na Vila dos Pinheiros e mobilizadora do Eixo de Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré. 

Nos discursos, muitos políticos que são “sementes”, ou seja, pessoas que se inspiraram na vereadora falaram sobre a importância dessa condenação. “Primeiro lugar veio a luta por justiça. Segundo, é preciso continuar lutando em memória de Marielle e outras mães que perderam seus filhos, para que sejam condenados os culpados. Hoje não é uma comemoração, mas é o sentimento de sede por justiça. Os acusados de mandantes continuam nos seus cargos, coisa do Brasil”, comenta Chico Alencar, deputado federal.

Um desabafo após júri popular

Na chegada da família ao ato, muita solidariedade e emoção. “Não dá para normatizar. Precisamos lembrar desse dia histórico para o Brasil e o mundo. Não é uma comemoração e sim um sentimento de dor de todas as mães que perderam seus filhos. Agradeço a todos que estão nessa luta”, expôs Marinete da Silva, mãe de Marielle. 

Anielle Franco, irmã de Marielle e ministra da Igualdade Racial, fez questão de agradecer a todos que estão na caminhada com a família. “A Mari morreu defendendo as mulheres, então não podemos aceitar a banalização dos nossos corpos. Estamos aqui com força para ecoar a voz e enquanto tivermos sangue estamos na luta. A dor de perder um familiar não tem preço e não se pode naturalizar os corpos caídos. É preciso que os envolvidos sejam penalizados. Somos crias da favela e por isso não podemos esquecer que a favela ainda não venceu. Ainda passaremos por provocação e discriminação, mas está para nascer a pessoa que vai me calar”, desabafa. 

O pai Antônio Francisco de Marielle, falou sobre a importância das famílias de outras vítimas também conseguirem justiça. “No dia 14 de março de 2018, nossa filha foi assassinada. Hoje, 31 de outubro de 2024, os assassinos confessos foram condenados. Hoje é uma vitória de todos que caminham conosco. Essa vitória tem que ser estendida para todas as famílias que perderam algum ente querido. Quantos ainda terão que perder a vida por ser preto ou favelado? A favela tem muita gente boa. Quantas mães que estão na luta vão ter que ouvir que o representante do Estado não teve a intenção de matar? É inadmissível que o Estado não proteja o cidadão”, relata.

Luyara Franco, filha de Marielle e diretora de Legado do Instituto Marielle Franco, explica que o momento é dos sentimentos contraditórios. “Estou feliz com essa vitória, mas triste em ver a frieza dos acusados confessos. O dia de hoje é a vitória, pois o povo não abandonou a luta. Vamos continuar preservando o legado de Anderson e Marielle. Foi só o início, agora vamos lutar pela solução dos mandantes e as reparações. Ainda estamos com um vazio”, conta.

Lígia Batista, diretora executiva do Instituto Marielle Franco, acrescentou que o sistema de justiça deu uma resposta, de que a violência política não pode ficar impune. “Ainda tem muita gente matando por aí. O instituto não recuará. Não podemos aceitar a perda de vida de mais ninguém. É preciso responsabilizar quem atravessa a nossa vida”, conclui.

Ronnie Lessa e Elcio Queiroz, réus confessos do assassinato de Marielle e Anderson receberam as penas de 78 e 59 anos de prisão respectivamente, os criminosos também deverão pagar pensão ao filho de Anderson e uma indenização por danos morais às famílias das vítimas.

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