Favela e autoestima acadêmica: você já ouviu falar sobre isso?

Data:

Por Amanda Baroni*

Por vezes me senti inferiorizada na faculdade, pelo ritmo veloz, por não conseguir absorver tão bem e de não estar tão perto do assunto. Por nem sempre conseguir distinguir a cobrança (minha ou dos professores) pelos exageros do sistema acadêmico, como: até que ponto o docente quer que eu melhore e seja uma profissional de excelência e até onde ele(a) entende que minha realidade e ritmos são diferentes e estão apenas tentando dificultar as coisas? Será que a Faculdade busca realmente desenvolver aperfeiçoar a habilidade, inteligência emocional e o bem estar dos alunos?

Às vezes, sinto que esse lugar até abre portas às periferias, mas, assim como uma visita inesperada, não deseja demoremos muito. E sinto que fico criando soluções e motivos para concluir a formação, principalmente quando penso nas pessoas da favela que vieram antes de mim. Desistir seria um desrespeito com elas.  A verdade é que lugar nenhum foi pensado para quem é pobre, com destaque aos lugares de poder, de decisões e de intelectuais. E a favela fica aqui sendo aquele galhinho que teima em sair do asfalto.

Muitas vezes o sistema faz a gente duvidar da nossa capacidade de se formar e de ser bom em alguma coisa. Eu mesma entrei na faculdade porque não conseguia mais emprego e quando vi que ia ter que fazer um esforço totalmente distante da minha realidade na educação fiquei me sentindo muito insegura. Já na faculdade, fiquei reprovada numa matéria porque desacreditei de mim e isso foi péssimo. Não recebi nenhum sinal da faculdade sobre o que poderia estar acontecendo comigo, do professor ou do acompanhamento psicológico que existe lá. Senti muitas vezes medo de errar na frente dos outros, de ser repreendida e isso bloqueou meu aprendizado, me reprovou e senti vontade de desistir. 

Precisava que alguém entendesse que eu já me pressionava bastante, que a sociedade pressionava muito o universitário também e que eu, simplesmente, queria tirar dúvidas básicas sem julgamentos. Eu quero evoluir, mas sou só um ser humano que já está dando o máximo por ter percebido que começou a corrida 10 passos atrás. E descobri também que quero muito me formar para melhorar a minha vida e da minha família, ser uma inspiração positiva. São esses pequenos passos que vão diminuindo as desigualdades num sistema que controla as pessoas através do abandono. Como favelada, eu não aceito isso. Me apego à minha fé, aos meus erros (mesmo que me condenem) e aos meus sentimentos ruins porque são eles que me mostram o que eu não quero mais: que algo faça eu me sentir pequena.

*Comunicadora da primeira turma do Laboratório Maré de Notícias

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por um Natal solidário na Maré

Instituições realizam as tradicionais campanhas de Natal. Uma das mais conhecidas no território é a da Associação Especiais da Maré, organização que atende 500 famílias cadastradas, contendo pessoas com deficiência (PcD)

A comunicação comunitária como ferramenta de desenvolvimento e mobilização

Das impressões de mimeógrafo aos grupos de WhatsApp a comunicação comunitária funciona como um importante registro das memórias coletivas das favelas

Baía de Guanabara sobrevive pela defesa de ativistas e ambientalistas

Quarenta anos após sua fundação, o Movimento Baía Viva ainda luta contra a privatização da água, na promoção da educação ambiental, no apoio às populações tradicionais, como pescadores e quilombolas.

Idosos procuram se exercitar em busca de saúde e qualidade de vida

A cidade do Rio de Janeiro tem à disposição alguns projetos com intuito de promover exercícios, como o Vida Ativa, Rio Em Forma, Esporte ao Ar Livre, Academia da Terceira Idade (ATI) e Programa Academia Carioca