‘Fui vacinado e agora?’: epidemiologista tira dúvidas e desmente boatos

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Imunização na Maré avançou, mas máscaras e distanciamento social ainda devem permanecer na rotina dos mareenses (e do resto do país) por algum tempo

Por Amanda Pinheiro em 16/08/2021 às 07h 

Editado por Tamyres Matos

Desde o início da vacinação, muitas dúvidas surgiram e até informações falsas ou distorcidas começaram a circular. Além disso, as pessoas têm mudado os comportamentos e relaxado na manutenção dos cuidados com a justificativa de que já estão vacinadas. No entanto, é necessário continuar em alerta, principalmente com as fake news em torno do tema.

Gulnar Azevedo, epidemiologista, pesquisadora e professora do Instituto de Medicina Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) alertou para a importância do uso de máscara após a imunização, mesmo que seja a segunda dose.

“Tem que continuar mantendo os cuidados. As pessoas vacinadas podem transmitir a doença e se infectar. Nós temos que nos cuidar, manter o distanciamento social até o momento que o Brasil declarar que a pandemia está controlada”, afirmou Gulnar.

A especialista explicou as cautelas necessárias para a utilização adequada dos EPIs (Equipamento de Proteção Individual): “As máscaras de pano precisam de camada dupla e precisam ser lavadas. Muita gente tem o costume de deixá-las abaixo do nariz, com a reclamação de que não têm como respirar direito. Mas é importante utilizar o equipamento sobre o nariz e a boca para se proteger, principalmente em ambientes fechados onde o risco de contaminação é maior. O mais importante: não dá para abrir mão dela [máscara] agora, porque ainda vamos precisar usar por muito tempo”. 

Importância da vacinação

Uma outra dúvida que ainda circula é sobre a eficácia da vacina, seja ela qual for.  Segundo pesquisas realizadas em cada imunizante contra a covid-19, a vacina diminui as chances de casos graves, como internação e a morte, mas não impede a contaminação.

“Se a pessoa esperar a doença, terá um risco de pegar covid e de forma grave, porque nunca se sabe a forma como a doença vai atingir. Ninguém tem bola de cristal. Então, é importante se vacinar, porque o imunizante diminui a forma grave, o risco de internação, UTI e a morte, até porque a letalidade não é baixa. A vacinação é a medida mais efetiva de conter a pandemia”, disse Gulnar.

A especialista relembrou que as formas mais graves da doença podem deixar sequelas: “As pessoas que pegam covid podem sobreviver e ter alta. Mas ainda é preciso lidar com as consequências como, cansaço e problemas neurológicos, que ainda estão sendo estudados”. 

Resultados #VacinaMaré

A 40ª edição do Boletim Conexão Saúde: de olho no Corona, divulgada na última sexta-feira (13/08), trouxe informações animadoras sobre o combate à covid-19 no conjunto de favelas da Maré. Segundo a publicação, 96% da população adulta da Maré (com 18 anos ou mais) está vacinada com pelo menos uma dose.

Com quase 36 mil vacinados ao longo de 6 dias, a campanha #VacinaMaré representa a força da mobilização no território para combater a pandemia | Foto: Matheus Affonso

Além da imunização em massa, a campanha #VacinaMaré auxiliou no mapeamento de moradores sem acesso às Unidades de Atenção Básica da Maré. O boletim é uma publicação do projeto Conexão Saúde, uma iniciativa da Redes da Maré, Fiocruz, Dados do Bem, SAS Brasil, Conselho Comunitário de Manguinhos e União Rio.

No entanto, mesmo quando a imunização estiver completa (com as duas doses), as precauções devem ser mantidas.

Vai ser preciso continuar usando máscara por um bom tempo após a vacinação. Isso porque a vacina se mostrou muito eficaz na redução das formas graves da doença – das internações e das mortes -, mas uma pessoa vacinada ainda pode se infectar pelo vírus sem apresentar sintomas e ser capaz de transmiti-lo.

Andrey Moreira Cardoso, pesquisador da Fiocruz, em um vídeo publicado no site da Fundação e no YouTube

Reação da vacina e testagem em massa

“Vacina boa é vacina no braço”. Essa frase tem sido repetida pelos cientistas e divulgadores científicos como mantra por conta dos relatos de reações mais intensas após a imunização. Além disso, passaram a ser divulgadas notícias falsas dando conta de que o tipo sanguíneo ou estilo de vida poderiam ter alguma relação com a reação. No entanto, segundo Gulnar Azevedo, nenhum estudo científico comprovou nenhuma dessas informações. A especialista reforçou que é comum o corpo reagir a uma substância nova.

“Não tem nenhum estudo que mostra que o tipo sanguíneo evita a reação da vacina. É muito comum o corpo reagir e cada pessoa vai ter uma forma. Tem gente que fica apenas com dores no braço, outras ficam mais cansadas, têm febre. Mas ninguém deve deixar de se vacinar por conta da reação. O importante é se imunizar e se proteger”, declarou ela, que explicou a diferença entre os testes e o porquê alguns testes dão “falso negativo”:

“O falso negativo acontece porque às vezes, os anticorpos não foram detectados. Outra coisa que pode comprometer o resultado é a qualidade do exame. Muitos laboratórios têm feito e, a princípio, as unidades do SUS são as mais seguras para a realização dos testes. Nesse momento, é preciso ampliar a oferta de testes para termos certeza de quem está infectado ou não e, assim, tentar controlar a pandemia”, concluiu.

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