Geração de renda em meio à crise de emprego

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Moradoras e moradores da Maré conseguem manter renda familiar prestando serviços para a Campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus

Maré de Notícias #114 – julho de 2020

Flávia Veloso

Na chegada da pandemia ao Brasil, as organizações sociais e coletivos de favelas já se preocupavam e começavam a se articular para quando a doença se espalhasse por territórios periféricos, historicamente esquecidos pelo poder público. E a crise no emprego veio alarmante. Com a falência de pequenos e médios negócios e empresas que estão cortando suas folhas de funcionários, o brasileiro vem perdendo postos de trabalho a cada mês. Além da fome, pauta urgente para muitos que ficaram sem renda nesse momento, o desemprego levou a equipe administradora da campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus a pensar e discutir como a crise tiraria o sustento de muitas famílias e o que poderia ser feito para garantir renda para essas pessoas.

Nós por nós

A campanha vem conseguindo mobilizar centenas de pessoas, entre parceiros e moradores, que diariamente trabalham para tentar diminuir os impactos da COVID-19 no Conjunto de Favelas da Maré. Desta forma, além de prestar serviços, essas pessoas garantem renda para suas famílias durante a campanha Maré Diz NÃO ao Coronavírus e fortalecem a economia local, uma vez que os moradores compram e consomem dos comerciantes e produtores da Maré.

São mais de 120 moradores da Maré prestando serviços remunerados, como as costureiras, que estão confeccionando a meta de 235 mil máscaras, e cozinheiras que fazem 300 “quentinhas” diárias, de domingo a domingo. Entre eles também têm os motoristas que transportam cestas básicas e itens de higiene e limpeza e pessoas que vão às ruas, becos e vielas para desinfectar os espaços com produtos de sanitização.

Tecendo Máscaras e Cuidados é uma iniciativa criada recentemente, que veio para fortalecer a rede de apoio e acolhimento de mulheres da Maré, um dos grandes pilares da Casa das Mulheres e da Redes da Maré, que é a geração de renda como processo de autonomia e empoderamento feminino”, diz Andreza Jorge, coordenadora da Casa das Mulheres e da frente Tecendo Máscaras e Cuidados, que conta com costureiras para a confecção de máscaras faciais de pano reutilizáveis.

Há mais de 20 anos, a Redes da Maré promove cursos, formações, conversas, geração de renda, eventos culturais e informações que têm como objetivo impactar positivamente os mareenses e, assim, desenvolver o território. E graças a essa rede de desenvolvimento, que vem crescendo há duas décadas, é possível mobilizar e buscar soluções para toda a favela.

PESSOAS QUE FAZEM A CAMPANHA

“Eu sou imigrante de Gana e trabalho no buffet do Maré de Sabores há três anos. A pandemia tem sido difícil para a gente que é imigrante, em relação à saúde e ao dinheiro. Esse projeto está ajudando a gente a ganhar dinheiro, conseguir pagar as contas e proteger nossa saúde. A iniciativa não ajuda só a nós, que estamos trabalhando, mas também quem está recebendo as ‘quentinhas’, e isso melhora o nosso relacionamento de amor com toda a comunidade”, Sandra, moradora do Parque União e cozinheira da frente Sabores e Cuidados.

“Eu trabalho com costura, faço uniformes para lojas de rua e shoppings. Durante a pandemia, o serviço caiu muito. A renda tem sido de grande ajuda para a família, eu até gostaria que continuasse depois da pandemia. Eu sinto que estou ajudando as pessoas e eu fico alegre em saber que as pessoas estão usando as máscaras que eu faço”, Ana Paula, moradora da Praia de Inhaúma e costureira do Tecendo Máscaras e Cuidados.

“Tenho uma mercearia pequena na Maré, e durante a campanha estou fazendo transporte e entrega de cestas. Sempre chego cedo, ajudo também a carregar os carros, descarregar os caminhões que chegam… É importante ajudar a comunidade, eu me sinto satisfeito em poder colaborar”, Djalma, morador da Nova Holanda e motorista.

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