Ginecologia natural: Cuidados ancestrais promovem autoconhecimento e autonomia

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Ginecologia natural busca melhorar cenário sobre dado que aponta desconhecimento das mulheres sobre diferentes fases do ciclo menstrual

Maré de Notícias #151 – agosto de 2023

Por Teresa Santos e Rahzel Alec

Segundo uma pesquisa do site FAMIVITA feita em 2021 com mais de seis mil mulheres de todo o país, 55% das brasileiras não sabem identificar as diferentes fases do seu ciclo menstrual. A ginecologia natural busca melhorar este cenário a partir do resgate da autonomia sobre o próprio corpo, entendendo a pessoa que menstrua (em especial as mulheres) em sua complexidade física, emocional, energética e mental.

O ciclo menstrual é uma função fisiológica, assim como o ciclo digestivo ou urinário, e deveria ser encarado com naturalidade, e não permanecer um tabu. A cor, volume e consistência do sangue da menstruação é um dos indicadores do bem-estar geral das mulheres e pessoas que menstruam.

Resgate ancestral

Bel Saide é médica e especialista em ginecologia natural. Ela define o método como um resgate ancestral da forma como eram os cuidados ginecológicos. Segundo a ginecologista, este movimento compreende de forma mais integral o papel das emoções no adoecimento; ele busca a causa das doenças e não apenas remediar os sintomas. 

“Na ginecologia atual, há uma prevalência gigantesca de prescrição de medicamentos hormonais artificiais como pílulas, injeções, DIU, implantes, que bloqueiam o ciclo menstrual”, explica.

A ginecologia natural, por sua vez, preza pela manutenção do ciclo: “O objetivo é reequilibrar a saúde do útero através de diversos recursos, como alimentação, estilo de vida, terapias, plantas medicinais, óleos essenciais. Uma série de coisas que vão fazer com que a mulher se ‘rearmonize’”.

O método na Maré

Edneide da Silva Pereira atua com ginecologia natural na Maré. A pedagoga é formada em terapia menstrual, florais, fitoterapia e doulagem — este último, pela Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz). 

Ela começou a atender mareenses no Espaço Casulo, um lugar para práticas de fortalecimento, saúde e autogestão, feito prioritariamente para mulheres pretas e faveladas.

Atualmente, Edneida faz atendimentos individuais, e também participa de oficinas no Núcleo de Bem-Estar e Saúde (NUBES), sede do Instituto Yoga na Maré. Nas oficinas, ela aborda questões relacionadas ao autocuidado e autoconhecimento e à autonomia feminina. 

“Meu trabalho é muito de escuta, de orientar a mulher de alguma forma, de estar junto dela construindo essa busca”, destaca, acrescentando que a prática envolve a prevenção de problemas ginecológicos de forma natural.

Benefícios 

Marli Fonseca, moradora do bairro de Olaria, participa das oficinas promovidas por Edneide desde 2018. Ela conta que buscou a ginecologia natural após o diagnóstico de endometriose. 

“Todo o conhecimento adquirido com a ginecologia natural me trouxe muitos benefícios. Comecei a conhecer realmente meu ciclo menstrual, as cólicas terríveis passaram e não tive mais as TPMs”, conta.

Já a assistente social Amanda Mendonça, moradora da Vila dos Pinheiros, lembra se sentir distante do seu próprio corpo, não conhecia seu ciclo menstrual e que usou por mais de 15 anos contraceptivos hormonais. O cenário mudou depois que começou a participar de rodas de mulheres. 

“Antes minha menstruação só descia na forma de borrões escuros, mas logo no primeiro floral da lua, que é um tratamento natural com ervas, minha menstruação desceu normal, sangue vivo, sem cólicas. Esta foi minha primeira aproximação da terapia menstrual”, conta.

Sem reconhecimento

Iniciativas como a do Espaço Casulo e do NUBES surgem contrapondo as falhas no acompanhamento ginecológico recomendado pelo sistema de saúde, mas ainda carecem de reconhecimento. 

É o que pontua Caroline Amanda, educadora menstrual e criadora da comunidade Yoni das Pretas, uma plataforma virtual e presencial que compartilha saberes sobre saúde e bem-estar de mulheres e pessoas com vulva, útero e vagina, de forma afro-referenciada. 

Caroline diz que “o acesso à ginecologia em territórios que são historicamente marginalizados e criminalizados sofre com o reflexo do racismo no cuidado às pessoas com útero, vagina e vulva”. Ela defende que “as especificidades da população negra periférica e a leitura humanizada das suas experiências são essenciais para um bom atendimento médico”. 

Vale ressaltar que a ginecologia natural não pretende ser uma troca da medicina tradicional pela terapia. Ela é indicada para cuidados simples, não em casos de doenças graves ou crônicas, e para ajudar a mulher a ter autonomia sobre sua saúde e a fazer melhores escolhas.

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