Inclusão e personagens reais: equipe de EDI da Maré cria histórias infantis para educar com diversidade 

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Iniciativa no EDI Maria Amélia Castro e Silva Belfort partiu de Andrezza Nóbrega, diretora da unidade há dois anos

Na matéria produzida por Adriana Pavlova e Hélio Euclides, o Maré de Notícias mostrou que gênero, raça e inclusão vem ganhando força nas unidades de educação no Conjunto de Favelas da Maré. O Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Maria Amélia Castro e Silva Belfort é um desses espaços que tem no seu dia a dia a inclusão de maneira lúdica e recreativa com os alunos.

Neste fim de ano, responsáveis dos alunos foram convidados a conhecerem novas histórias através de livros e bonecos que foram entregues para levarem para casa. Os personagens dos livros eram Pietra, Willian, e Sophia, pessoas com deficiência física. Ângelo, com deficiência visual, Sophia com Síndrome de Down e Giovana com Transtorno do Espectro Autista. 

Para a surpresa de todos, na semana seguinte à atividade, descobriram que os personagens das histórias existiam, eram pessoas reais e que se apresentaram durante um evento promovido pelo EDI chamado “Conhecer Para Verdadeiramente Incluir!”

O Espaço de Desenvolvimento Infantil Maria Amélia Castro e Silva Belfort tem no seu dia a dia na escola a inclusão de maneira lúdica.
Ângelo Michel de 5 anos, criança com deficiência visual, também foi um dos personagens das histórias infantis | Foto: Acervo EDI Maria Amélia

A idealizadora da atividade nas salas de aula é a diretora Andrezza Nóbrega, de 32 anos. Seu trabalho mostra uma preocupação na inclusão e diversidade na educação do mundo.

“Os alunos ficaram encantados ao conhecer essas pessoas, fizeram perguntas e interagiram bastante. Uma das histórias é da minha filha, Giovana, ela tem 4 anos e é autista. Sempre fui uma professora preocupada com a inclusão, na minha primeira turma no município do Rio tive uma aluna autista e sempre fiz materiais adaptados, mas depois que me tornei mãe atípica abracei mais ainda a missão de conscientização e luta por uma sociedade verdadeiramente inclusiva”, afirma. 

A inclusão é um direito, não um favor

Andrezza Nóbrea, diretora do Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Maria Amélia Castro e Silva Belfort

Andrezza já contou que suas ações voltadas para inclusão acontecem antes mesmo dela ser mãe da pequena Giovana. Atualmente, enquanto diretora do EDI, ações como um café da manhã de acolhimento para pais de crianças atípicas, rodas de conversa, exposição de trabalhos sobre deficiências, transtornos e síndromes, além de estandes em feira de ciências sobre neurodiversidade e autismo, também fazem parte do Projeto Político Pedagógico pensado por ela durante todo o ano.

“A ideia é promover representatividade para nossas crianças incluídas e para que as crianças percebam que todos nós temos as nossas limitações e as nossas potencialidades. Que é na diferença que nos constituímos. Que todos somos diferentes e precisamos de apoio em nossas dificuldades. Envolvemos as famílias para que se conscientizem do seu papel na formação de um indivíduo respeitoso, empático e solidário”, conta Andrezza. 

O sonho da inclusão ampliada e efetiva

Com o objetivo de realizar um trabalho mais efetivo que auxilie na inclusão das crianças com deficiência, Andrezza teve a iniciativa de criar a sala sensorial. Um espaço adaptado dentro da secretaria do EDI com materiais sensoriais e jogos pedagógicos confeccionados com a ajuda dos responsáveis e dos próprios alunos.  

“O espaço traduz o nosso desejo por uma educação verdadeiramente inclusiva. Estou realizando o processo burocrático junto a CRE [Coordenadorias Regionais de Educação] para futuramente essa salinha virar oficialmente uma sala de recursos. É o nosso desejo!”, conta Andrezza.

Como mãe de uma criança com Transtorno do Espectro Autista (TEA), Andrezza conhece bem as dificuldades relacionadas à inclusão que vão além do âmbito educacional. Segundo ela, o desafio se inicia no sistema público de saúde, principalmente na busca pelo laudo. Os extensos meses de espera por consultas com neuropediatras e outros profissionais necessários para o diagnóstico e desenvolvimento têm repercussões significativas na capacidade de inclusão da criança no ambiente escolar.

“Por todos esses desafios eu, minha adjunta Camila das Graças e a profissional de apoio Sabrina, junto com a equipe dedicada do EDI Maria Amélia queremos ser rede de apoio para nossas famílias. É preciso uma aldeia inteira para educar uma criança, TODA criança. Queremos ser essa aldeia e essa rede.”

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