Justiça expede mandado de prisão para DJ Rennan da Penha

Data:

Criador do Baile da Gaiola é condenado a mais de 6 anos; fãs e artistas protestam contra decisão judicial

Por: Camille Ramos

No último dia 20, a internet quebrou com a expedição do mandado de prisão para o criador do Baile da Gaiola, o DJ Rennan da Penha. Realizador de um baile na Vila Cruzeiro para mais de 250 mil pessoas e precursor do funk 150 BPM que acelerou (e muito) o ritmo, Rennan Santos da Silva, foi condenado a 6 anos e 8 meses em regime fechado, juntamente com mais 10 pessoas, por associação ao tráfico de drogas.

O DJ já tinha sido inocentado em primeira instância da acusação, mas, após recurso do Ministério Público do Rio de Janeiro, foi condenado em segunda instância. No processo, o desembargador responsável pelo caso afirma que o DJ Rennan atuava como “olheiro” do tráfico, relatando “a movimentação dos policiais por meio de redes sociais e contatos no aplicativo WhatsApp”.

Em nota de esclarecimento divulgada no Instagram, a defesa de Rennan afirma que”Tal acusação é tão estapafúrdia que beira a inocência, eis que tal função demandaria discrição”, e os advogado concluem: “Rennan da Penha representa a cultura negra da periferia do Rio de Janeiro, e justamente por isso sofre amplo preconceito fora do ambiente onde nasceu e foi criado.

Encontra-se pendente de análise perante o STF, o pedido de habeas corpus para que Rennan aguarde em liberdade a apreciação de seus recursos nos tribunais superiores. “O mandado será expedido oficialmente esta semana e a defesa estuda apresentar o Rennan de maneira menos danosa possível”, contou Nilsomaro Rodrigues em entrevista ao jornal O Dia: “Ele não vai ficar foragido. Vamos apresentá-lo e buscar que o caso seja julgado rapidamente”.

Não é a primeira vez que um músico de favela é associado ao tráfico. Mc Smith, também da Vila Cruzeiro, chegou a ser preso em 2010 e depois foi liberado por falta de provas. “Nós perturbamos o ouvido de muita gente com as nossas músicas porque elas tinham o teor de revolta, de desabafo, de reivindicação. O que é crime? Roubar dinheiro público ou cantar proibidão? O proibidão é reflexo do que acontece aqui na favela. Se nosso país tivesse uma economia boa, saúde e educação perfeitas, eu não cantaria o proibidão. O proibidão nem existiria”, desabafou o cantor anos depois, em entrevista ao jornal Voz das Comunidades. Ontem, em duas redes, Smith se pronunciou novamente em defesa de funk e de Rennan. “Eu passei por isso em 2010, mas consegui sair ileso, mas sei que o DJ Rennan é um cara forte e vai superar. É isso, estamos com você, irmão!”, desabafou em seu Instagram.

Para reduzir questões de preconceito que são acentuadas pela desigualdade racial e social presentes em nosso país, foi criada uma plataforma de sustentabilidade social independente chamada O Nosso Legado, que atua por meio de criação de conteúdo audiovisual. Inúmeros artistas e ativistas ‘compraram’ a ideia e estão dando forma ao projeto.  “A ideia é um manifesto pensando pelo Junior Vieira e a Larissa Lopes que busca dar voz aos invisibilizados pela sociedade, que é um problema grande no nosso país”, conta Rene Silva, criador do Voz das Comunidades e ativista convidado a integrar o projeto. Ele ainda acrescenta “O caso do DJ Rennan se enquadra na proposta do projeto porque ele é um artista negro, favelado, que chegou no topo. As duas músicas mais ouvidas do carnaval eram do Baile da Gaiola. Então, a criminalização do favelado, do negro e do pobre, é muito grande.  Mesmo o funk sendo reconhecido como patrimônio cultural do Estado, ainda assim sofre um preconceito muito grande, principalmente por parte da polícia”, explica. Para conhecer melhor o trabalho da plataforma, acesse o site nossolegado.org.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Saiba quem são os ganhadores do Comida de Favela

Além dos ganhadores do Comida de Favela três comerciantes ganharam uma menção honrosa pelo trabalho que realizam em seus estabelecimentos

Semana dos Direitos Humanos na Maré começa nesta segunda (4), confira programação

Segundo ano Semana dos Direitos Humanos terá 6 dias de atividades

Encerramento do Festival Comida de Favela acontece neste sábado (2)

Entre maio e junho de 2023, 110 bares e restaurantes se inscreveram para a primeira fase do festival que selecionou 17

Pesquisa Respira Maré avalia urgência de políticas públicas para redução de riscos climáticos

Pesquisa Respira Maré apresenta diagnóstico do ar e a presença de ilhas de calor no território.