Violações e 300 horas de operações policiais marcam lançamento de dados sobre violência armada na Maré em 2019
Jéssica Pires
O lançamento da 4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré reuniu cerca de 100 pessoas na tarde dessa sexta-feira no Centro de Artes da Maré para apresentação e análise dos dados sobre violência armada na região em 2019.
Estiveram presentes Aline Maia, coordenadora do eixo de Direito à vida e Segurança Pública do Observatório de Favelas; Pedro Abramovay, diretor regional da Fundação Open Society para a América Latina e Caribe; Vitor Santiago, morador da Maré alvejado por agentes das Forças Armadas em fevereiro de 2015, moradores, ativistas dos direitos humanos, comunicadores e organizações locais.
Os dados coletados e apresentados pelo projeto “De Olho na Maré”, do Eixo Direito à Segurança Pública e Acesso à Justiça da Redes da Maré, revelou violações de direitos fundamentais e o impacto da violência armada, tendo como principal referência a percepção e o cotidiano vividos pelos mais de 140 mil moradores da Maré.
Em 2019, a Maré foi cenário de uma operação a cada 9 dias. Foram 49 mortes, num aumento de mais 100% em relação a 2018 (34 em decorrência de ação policial e 15 por ação dos grupos armados), e 45 feridos por arma de fogo na região em 2019. O caráter racista das mortes foi evidenciado na fala dos participantes.
A saúde e a educação dos que residem e trabalham na Maré também foram diretamente afetadas pela violência armada. Houve 24 dias de atividades suspensas nas escolas da região, totalizando até 12% dos dias letivos perdidos e 25 dias de atividades suspensas em unidades básicas de saúde.
Camila Barros incluiu um ponto muito importante na reflexão sobre os dados. “Falar da mulher, sobretudo da mãe favelada, é muito emblemático. Os dados quantitativos falam sobre os jovens negros que mais morrem, mas os qualitativos evidenciam a presença das mulheres que estão próximas nesse momento de luto”, observou a coordenadora do projeto durante a sua fala.
Além da apresentação de dados, foram discutidas propostas sobre o cenário de violações e impactos da política de segurança pública na Maré. “A favela é parte da cidade e as políticas de segurança pública tem que ter como foco a vida”, comentou Aline Maia.
Confira a íntegra da 4ª edição do Boletim Direito à Segurança Pública na Maré com os dados completos: www.redesdamare.org.br