Mães das vítimas de violência armada na Maré pedem fim do “combate aos corpos pretos e favelados”

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A programação faz parte do 14M, um conjunto de ações que manifestam por justiça à Marielle, Anderson e à população das favelas

Por Andrezza Paulo

As mães das vítimas de violência armada da Maré e do Manguinhos se reuniram nesta terça-feira (14) no Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) para o segundo dia de lançamento do 7° Boletim de Segurança Pública na Maré. Na ocasião, as mães e familiares das vítimas pediram por justiça e confirmaram os dados que o Boletim mostra por mais um ano: jovens pretos estão sendo executados. O encontro faz parte da agenda do 14M, evento que aborda justiça pelos 5 anos do assassinato de Marielle Franco e Anderson Gomes.

Combate aos corpos pretos e favelados

O coletivo Mães do Manguinhos e Mães da Maré levantaram forças para denunciar as violações das ações policiais e estenderam ao chão, um mural com fotos de dezenas de vítimas da política de (in)segurança aplicada nas favelas. “Não tem investimento em cultura, em saúde ou em educação. Nossos impostos são revertidos em um projeto político de extermínio da população preta, pobre e favelada”, conta Ana Paula, mãe de Johnatha, morto aos 19 anos com um tiro nas costas.

De acordo com dados do Boletim de Segurança Pública na Maré, das 27 mortes no território por operações policiais,  19 eram homens negros e pardos, em sua maioria com até 29 anos de idade. Além das vítimas fatais, o boletim detectou 30 ações de cárcere privado e 27 torturas, além de violência física, psicológica e danos ao patrimônio.

Por trás de cada número, uma vida, uma história.

“Nunca mais vou abraçar meu filho, nunca mais eu vou ver meu filho, nunca mais eu vou ouvir meu filho. Eles não investigam nada. Decidem quem é traficante e matam”, diz Dona Fátima sem conter as lágrimas ao lembrar do filho de apenas 18 anos morto sufocado, por asfixia mecânica no Manguinhos.

Rafaela Vilar é irmã de Guilherme, assassinado aos 19 anos com mais de 10 perfurações no corpo, 5 de arma de fogo e 5 de objeto cortante. “Enrolaram 2 meses para entregar o laudo que fica pronto em 30 dias e quando peguei, me deparei com 10 perfurações no corpo dele”. Ela relata o quão importante é a produção de dados sobre a violência armada e suas vítimas nos territórios de favela. “O que fizemos aqui hoje foi muito importante para mostrar para outras pessoas que elas têm direito de falar, de expor o que estão sentindo e de buscar justiça por suas famílias”. Rafaela representa irmãs, mães e tantos outros familiares que não tiveram direito ao luto e que seguem na busca incansável por justiça.

As intervenções sobre a segurança e o contexto de violência armada na Maré continuaram através de outras manifestações: a exposição artística de pintura do Encontro das Artes e com slam de Stacy Ferreira e Mat que emocionaram o público.

Até quando eu vou ter que aceitar a violência armada? É sempre uma voz silenciada e uma arma na cabeça apontada. Eles me olham e me julgam como indigente, mas não vale minha escuta quando grito que sou inocente. 

  • Stacy e Mat

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