Por: Jéssica Pires
A rotina dos moradores da Maré, na tarde desta quarta-feira, seguia como de costume. Crianças na escola, comércios funcionando e pessoas circulando em seu território e desfrutando do simples direito de ir e vir. Até que, por volta de 13h, o cotidiano de algumas das favelas da Maré mais uma vez é brutalmente interrompido.
Nesta tarde, o som do helicóptero, que fazia voos rasantes e disparava tiros entre as favelas do Parque União e Nova Holanda, foi ouvido pelos moradores que alertaram a Redes da Maré, e dos próprios tecedores da organização que puderam ouvir de perto o som. Foram identificadas marcas de tiro na Praça do Parque União, onde as quartas-feiras acontece uma grande feira livre de frutas e verduras e também é um ponto conhecido pela variedade de bares e restaurantes, sempre com muita circulação de pessoas; na Rua Bittencout Sampaio, que recebe importantes espaços culturais da Maré – o Galpão Bela Maré e o Centro de Artes da Maré; e na Rua Teixeira Ribeiro, que além de ser um importante centro comercial da região, abriga ONGs, uma Clínica da Família e um núcleo de escolas. Momentos antes, o Centro de Artes da Maré recebia, inclusive, o Ministério Público Federal, órgãos de justiça e representantes de movimentos sociais para uma visita a pontos importantes da Maré. Moradores e comerciantes também relataram a presença de um carro blindado na Rua Bittencourt Sampaio.
De acordo ainda com os relatos de moradores, as escolas foram fechadas, colocando em risco não apenas mais um dia de ensino, mas a vida dessas crianças, jovens e dos profissionais da rede de ensino que se veem sem opção a não ser enfrentar esse cenário para buscar segurança. Os equipamentos da Redes da Maré (o prédio central, o Espaço Normal e a Casa das Mulheres da Maré) acolheram cerca de duzentas pessoas que procuravam abrigo no momento mais tenso da operação. Além disso, recebemos informações sobre carros, ar condicionados, entre outros bens de moradores e comerciantes depredados por tiros.
Segundo a assessoria da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, a operação resultou em dois mortos, um preso e um policial militar ferido. A PCERJ informou ainda, em nota, que a operação foi comandada pela Delegacia de Roubos e Furtos de Automóveis (DRFA). Segundo eles, agentes que passavam pela Avenida Brasil, na altura de Bonsucesso, foram informados sobre um roubo na região e seguiram para a Maré para a incursão. A Delegacia de Homicídios está responsável pelo fato e segue em investigação. A pergunta que fica é: até quando a política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro vai seguir desconsiderando os direitos das vidas nas favelas?