Projeto desenvolvido pela Redes da Maré com o apoio do Itaú Cultural tem como objetivo enaltecer e resgatar a identidade e a cultura mareenses
Maré de Notícias #107 – Dezembro de 2019
Thaynara Santos
O que é um museu? Um espaço fechado que concentra muitas obras de arte ou as expressões artísticas de um povo que remetem à memória e à sua identidade? O “Maré a Céu Aberto” traz esse questionamento. O projeto, realizado pela Redes da Maré com o apoio do Itaú Cultural, busca resgatar e enaltecer a identidade e cultura mareenses, resultado de uma forte ligação com o Norte e Nordeste do País.
No projeto, foram definidas Estações de Memória (locais emblemáticos na Maré) onde serão construídas intervenções artísticas e painéis de azulejos nas fachadas das casas com referências à memória local. A escolha das Estações tem como objetivo conectar as três principais vias do Rio: as Linha Vermelha e Amarela e a Avenida Brasil. As intervenções artísticas do “Maré a Céu Aberto” integrarão os espaços escolhidos previamente e possibilitarão o resgate, pelos moradores da Maré, da sua memória territorial, evidenciarão a importância social e cultural mareense, além de combater preconceitos e estereótipos que criminalizam os moradores e a Maré.
Criação dos azulejos
As oficinas de azulejaria do “Maré a Céu Aberto” acontecem às terças e quintas-feiras, às 16h30, no prédio central da Redes da Maré, na Nova Holanda. E nas quartas-feiras, às 18h30, no Centro de Artes Calouste Gulbenkian, Rua Benedito Hipólito, 125, Centro. Jovens, crianças e idosos são bem-vindos às aulas. Alunos da Lona Cultural Herbert Vianna, alunos do pré-vestibular da Maré e as Griots (moradoras que, por meio de suas histórias pessoais, preservam e disseminam a história do território) da Nova Holanda já participaram da produção dos azulejos.
Leticia Felix, arquiteta e moradora do Rubens Vaz, conta a sua experiência como uma das artistas do projeto, a partir da perspectiva de “cria” da Maré: “A proposta do ‘Maré a Céu Aberto’ é riquíssima, principalmente por respeitar o olhar do morador antes de qualquer intervenção. O morador se sente parte do projeto, o que é justo, já que o espaço é do morador, para o morador e não do visitante, para o visitante (mas pode ser também para ele). Fui escolhida para ser a artista com a intervenção na Praça do Parque União. Tomei como inspiração uma das características mais expressivas da Praça, o nordestino. A Praça é tomada pelo forró nos fins de semana. Muitas pessoas vêm de fora do Complexo da Maré para prestigiar os shows, atrações e afins”, explica.
Você sabia?
Muitas experiências buscam resgatar a memória e a identidade com o auxílio da arte e da cultura pelo mundo afora. Dois exemplos são:
– Rock Garden of Chandigarh, na Índia: localizado em um espaço repleto de árvores, plantas e lagos, é um museu composto por peças totalmente recicladas. As obras foram construídas pelo artista indiano Nek Chand, a partir de entulhos das construções da cidade, o que inclui tijolos, telhas, pedaços de concreto, etc.
– Museo Casa de la Memoria, em Medellín, na Colômbia: é um espaço que oferece aos seus frequentadores uma imersão na memória, identidade e história do ser humano, por meio de obras que exploram o sistema sensorial. A Casa de la Memoria tem como missão contribuir para a transformação da lógica da guerra em direção a práticas mais civilizadas, pela realização de processos de construção e circulação das memórias dos conflitos armados e direitos humanos.