Vítima de ação policial na Maré tem alta

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Após 40 dias internada, Maiara da Silva voltou para casa. A jovem de 19 anos perdeu o bebê após ser atingida por tiros numa operação policial na Maré. A ação aconteceu no dia 27 de outubro e reuniu cerca de 300 agentes da Polícia Civil, 5 blindados e dezenas de viaturas.

Pela Redação em 27/10/2020 às 19h20, atualizada em 07/12/2020 ás 19h32

Era por volta de 5h da manhã do dia 27 de outubro, terça-feira, quando 300 agentes da Polícia Civil em dezenas de viaturas e cinco blindados estacionaram na Avenida Brasil. Minutos depois, o grupo entrou numa das favelas da Maré, o Parque União. Segundo moradores, houve registro de tiros. Havia viaturas estacionadas na Avenida Brasil desde a passarela 8, na altura da Baixa do Sapateiro, até depois da passarela 10, altura do BRT, estação Maré, o que fez com que a via fosse interditada no sentido Zona Oeste.

A ação também aconteceu nas favelas Rubens Vaz, Nova Holanda e Parque Maré. Às 11 horas houve uma incursão pela Baixa do Sapateiro e Morro do Timbau, e registros de tiros na Rua do Serviço no fim da manhã e na Vila dos Pinheiros no meio da tarde. A operação terminou por volta das 17h, durando por 11 horas, de maneira silenciosa, com poucos registros de tiros. Em coletiva de imprensa, foi explicado que a operação policial foi consequência de uma força tarefa da inteligência da Polícia Civil, que envolveu cinco delegacias e uma investigação de três meses, que mapeou 100 pessoas com mandado de prisão supostamente escondidos na Maré. Segundo a nota da assessoria de imprensa da Polícia Civil, foram apreendidos fuzis, granadas, silenciadores, e carros e motos que seriam roubadas. Dezenove pessoas, entre adultos e adolescentes, foram presas/apreendidas na operação.

Foto: Douglas Lopes

Um dos mandados, segundo a polícia, foi para o suposto autor do assassinato do menino Leônidas Augusto da Silva Oliveira, de 12 anos, que morreu após ser atingido na cabeça um confronto na Avenida Brasil, no dia 09 de outubro. A polícia não apresentou nenhum registro  que comprove a informação do autor da morte do menino.

Apesar da operação policial ter sido realizada junto ao setor de Inteligência da Polícia, os moradores da Maré continuam sofrendo com os impactos da ação. O Maré de Direitos, projeto da Redes da Maré que oferece atendimento sociojurídico, identificou seis invasões a domicílio, quatro danos ao patrimônio e um caso de subtração de pertences, onde, segundo a moradora, os agentes da Polícia Civil furtaram R$300,00 de sua casa.

Maiara Oliveira da Silva estava feliz com a gravidez de seu primeiro filho.
Foto: Reprodução das redes sociais

Duas pessoas ficaram feridas, incluindo uma jovem de 19 anos grávida de 4 meses que foi atingida na barriga no Parque União. Segundo relato dos moradores, a jovem saía de casa quando foi atingida por um grupo de policiais que estavam na laje de uma casa vizinha. A jovem foi encaminhada para o Hospital Municipal Evandro Freire, passou por uma cirurgia, ficou internada no Centro de Terapia Intensiva (CTI) em estado grave por dias. A bala atingiu o pulmão, rim e bexiga. A jovem Maiara Oliveira da Silva estava com quatro meses de gestação do seu primeiro filho, que morreu no dia 28 de outubro, no dia seguinte da operação.

Nesta segunda, 07 de dezembro, depois de 40 dias de internação, Maiara teve alta e foi recebida com alegria pelos moradores.

Maiara chegando em casa após 40 dias internada.

Operações policiais e pandemia

Mesmo com a pandemia de covid-19, os agentes durante a operação, não usaram Equipamentos de Proteção Individual. Após votação no Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2020, uma das medidas da Arguição De Descumprimento De Preceito Fundamental 635 (popularmente conhecida como ADPF das Favelas) foi a suspensão de operações policiais durante a pandemia devido à crise sanitária que a população vive. As operações poderiam acontecer em casos excepcionais mediante justificativa por escrito pela autoridade competente e sendo comunicada ao Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A ADPF 635 prevê também que um promotor de plantão acompanhe a operação. A equipe do Maré de Direitos entrou em contato com o Ministério Público, mas até o momento não foi informada a identificação do promotor que acompanhou a operação de hoje. 

Durante a operação policial, as Clínicas da Família CF Augusto Boal, Diniz Batista dos Santos  e Jeremias Moraes da Silva não funcionaram.

No final de julho foi lançado o Conexão Saúde – De Olho no Covid-19, que é um projeto em parcerias com diversas organizações para o enfrentamento da pandemia na Maré e em Manguinhos. O projeto oferece o acesso à testagem, telemedicina e ao programa de isolamento seguro. Devido à operação policial do dia 27, pelo menos 110 testes para covid-19 deixaram de ser realizados no Centro de Testagem da Maré. Da mesma forma, pessoas com casos de covid-19 ativo acompanhadas pela Redes da Maré no Programa de Isolamento Seguro e que necessitam de auxílio alimentação para a garantia do isolamento domiciliar durante o período de infecção não puderam receber o Kit alimentação disponibilizado pelo programa.

Além da Maré, aconteceram operações policiais em Acari e no Jacarezinho no final de outubro. Também no dia 27, duas pessoas foram mortas durante operação no Complexo do Lins.

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