Maré de Educação: secretário fala sobre propostas elencadas para o conjunto de favelas

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Renan Ferreirinha falou sobre as recomendações da Carta que tratam dos impactos da violência na vida dos alunos das 46 escolas municipais localizadas na Maré

Adriana Pavlova e Hélio Euclides

Um mês após a finalização da Carta para a Educação da Maré, o documento elaborado coletivamente pelos participantes do 4º Seminário de Educação da Maré foi entregue em mãos ao secretário Municipal de Educação, Renan Ferreirinha, pela diretora da Redes da Maré Andréia Martins. Dentro da série de reportagens sobre Educação na Maré iniciada este mês pelo Maré de Notícias, os repórteres do jornal entrevistaram o secretário sobre as recomendações da Carta que tratam dos impactos da violência na vida dos alunos das 46 escolas municipais localizadas na Maré. Abaixo as respostas de Ferreirinha. 

MN: Como garantir de fato que os 200 dias letivos previstos por lei sejam efetivados nas escolas municipais da Maré? É importante levar em conta que aulas online ou demais dispositivos educativos virtuais não são uma opção efetiva para a população da favela, por conta da instabilidade da internet e da falta de acesso a equipamentos eletrônicos.

Renan Ferreirinha: O cumprimento dos 200 dias letivos é essencial para o nosso projeto pedagógico, mas a segurança e a vida dos nossos alunos e da nossa comunidade escolar precisa ser nossa prioridade. Hoje, a SME faz uma análise diária, na Maré e em outras comunidades, sobre a situação dos confrontos, para saber se é possível ter aulas. É surreal que essa prática seja parte da rotina de uma Secretaria de Educação. A gente tem um projeto pedagógico complexo e completo, muito bem elaborado, que, infelizmente, é impactado frequentemente por conta da rotina de confrontos armados.

MN: Existe algum tipo de diálogo do governo municipal e SME com representantes da segurança pública do governo do Estado do Rio de Janeiro para romper com o repetido ciclo de impedimento de funcionamento das escolas por conta das operações policiais?

Ferreirinha: Temos uma comunicação integrada com a Polícia Militar e as demais forças de segurança pública e pedimos sempre para que os horários escolares e os entornos de nossas escolas sejam preservados e respeitados. Infelizmente, isso ainda não acontece de maneira ideal, mas, da parte da SME, os esforços são intensos para que a gente alinhe e aproxime cada vez mais a comunicação e o principal: garanta a segurança para as nossas escolas.

MN: Uma das propostas da Carta para a Educação da Maré é a necessidade de se levar em conta os impactos da violência no território no planejamento do cotidiano escolar nas 46 escolas da Maré. Há algum projeto concreto no sentido de prever apoio psicológico e planejamento pedagógico durante e após as situações de conflitos armados e operações policiais?

Ferreirinha: Nós temos o Núcleo Interdisciplinar de Apoio às Unidades Escolares, com mais de 200 profissionais que prestam apoio psicossocial para as nossas unidades escolares. A orientação pedagógica é que seja dada continuidade ao conteúdo o máximo possível e que a escola foque no acolhimento socioemocional.

MN: Outra proposta da Carta para a Educação da Maré é a criação de uma CRE específica para o território, por se tratar de um conjunto de 16 favelas, com 140 mil habitantes e 46 escolas, além de muitas particularidades. É possível vislumbrar uma CRE Maré a curto prazo?

Ferreirinha:  Há dez anos, houve a subdivisão da 4ª CRE, que originou a 11ª CRE, justamente com objetivo de aumentar o foco nas unidades da Maré e de toda a região (com a subdivisão, as escolas da Maré permaneceram na 4ª CRE). Hoje, temos uma CRE bem estruturada e integrada à área. O desafio central que enfrentamos hoje é de segurança pública.

Para que as 42 recomendações da Carta para a Educação da Maré sejam amplamente conhecidas, no dia 14 de setembro, às 15h, o Eixo de Educação da Rede da Maré apresentará o documento no Centro de Artes da Maré.

Propostas da Carta para a Educação da Maré:
– Garantir condições para efetivar os 200 dias letivos.
– Promover a ampliação de diálogo entre educação e segurança pública, para  romper o repetido ciclo de impedimento de funcionamento das escolas por conta de operações policiais em horário escolar. Governos estadual e municipal devem trabalhar de forma articulada para pôr fim a essa e outras violações de direitos.
– Incorporar e considerar no planejamento do cotidiano escolar os impactos da (in)segurança pública no processo de escolarização. Criar ações de apoio psicológico e de planejamento pedagógico durante e após as situações de conflitos armados e operações policiais.

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