Maré de Notícias #33

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[toggle title=”A ponte que cai”]

Por Hélio Euclides

Depois de cinco meses da reclamação no Maré de Notícias (edição nº 28, de abril de 2012) sobre a necessidade de reforma da ponte que liga as comunidades Salsa e Merengue e Vila do João, pouco foi feito. Apenas um compensado foi instalado no local, que, evidentemente, não vem resistindo bem à chuva, sol e ao grande movimento de pedestres. Essa passagem é a única ainda de madeira na localidade. As  outras cinco já foram reformadas.

“Precisa fazer o piso de cimento, pois além de pessoas que a utilizam, ainda têm bicicletas e motos. Só faltam carros”, ironiza a moradora do Salsa e Merengue, que se identificou como Luzinete. A moradora da Vila do João, Sílvia dos Santos Carneiro, compartilha do mesmo pensamento. “Se não fizerem a base de cimento, depois de pouco tempo vai ficar do mesmo jeito”, observa.
“As pontes que atravessam os valões nos ajudam muito. Antes era muito ruim sem elas”, explica a moradora da Vila do João, conhecida por Nina.

A Associação de Moradores da Vila do João informa que as pontes foram reivindicadas junto à prefeitura, que nunca atendeu os pedidos. A instituição, então, se uniu à iniciativa privada. Espera-se a colocação de piso de concreto até o final de setembro.

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[toggle title=”…até quando?”]

Por Luciana Bento

Operação violenta da PM, em setembro, reforça a importância de a Maré elaborar seu próprio Plano de Direitos Humanos

A coincidência não poderia ser mais triste: no dia em que seria realizada a Conferência Livre de Direitos Humanos da Maré, no sábado, 1º de setembro, a Polícia Militar fez uma operação na favela e matou dois jovens. Com isso, a Conferência foi substituída por uma reunião, no Centro de Artes da Maré (CAM), na Nova Holanda, que discutiu estratégias de mobilização e denúncia de mais um caso de violência policial.

O camburão blindado da Polícia Militar, apelidado de “caveirão”, chegou cedo à Maré. Por  volta das 8h30 já havia troca de tiros na Nova Holanda. Segundo relatos de moradores, a ação policial desconsiderou a presença de pessoas inocentes nas ruas e uma saraivada de balas foi disparada a esmo, atingindo os dois jovens.

Um deles, Fabrício de Souza Melo, de 18 anos, estava indo para o trabalho quando foi atingido por uma bala e colocado em um camburão da Polícia Militar ainda com vida. Ele estava com todos os seus documentos no bolso, segundo relatou sua mãe, Elza de Souza. Mas Fabrício foi registrado, já morto, como indigente no Hospital Federal de Bonsucesso. A mãe, ainda chocada com o fato, foi acolhida no CAM e levada à delegacia, junto com dezenas de pessoas, para registrar queixa.

“Com este acontecimento, a construção de um Plano de Direitos Humanos da Maré ganha ainda mais importância”, ressalta a diretora da Redes de Desenvolvimento da Maré, Eliana Sousa Silva. “Temos que pensar a segurança pública a partir das necessidades dos moradores da favela, que tem que ser respeitados e protegidos como um morador de qualquer outra região da cidade”.

Roubo na casa de D. Deuzenir
Para completar, uma moradora teve sua casa invadida por policiais enquanto ela trabalhava em sua barraca na feira da Maré. A porta estava trancada e foi aberta com uma chave mestra. O cômodo que fica no segundo andar foi revirado e de lá roubados R$ 1.460 da moradora, que estava economizando para realizar uma cirurgia de catarata.

Todos os fatos ocorridos foram registrados na Delegacia de Bonsucesso e seus desdobramentos serão acompanhados por um  advogado contratado pelas entidades organizadoras da Conferência de Direitos Humanos: Instituto de Estudos da Religião (ISER), Luta Pela Paz, Redes e Observatório de Favelas. “Não podemos apenas nos indignar, é preciso reagir a estes absurdos e mostrar que a população não aceita este tipo de comportamento da Polícia, que deveria proteger os moradores”, assinala Eliana.

Nosso Plano de Direitos Humanos

A Conferência de Direitos Humanos seria o momento de revisar e finalizar o texto elaborado por moradores da comunidade durante oficinas de direitos humanos, realizadas desde maio deste ano. A ideia de construir um documento local surgiu após o processo de revisão do Plano de Direitos Humanos Estadual de 2010, realizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com a participação da pesquisadora do Iser, Noelle Resende. Uma das idealizadoras do projeto na Maré, Noelle defende a produção de planos de ação para contextos específicos, mas que dialoguem com uma visão geral da questão no estado do Rio.

O plano será entregue a representantes do governo.Cerca de 200 pessoas estiveram envolvidas na construção do documento, entre elas moradores que participaram das oficinas. “Mais do que fazer um Plano de Direitos Humanos, trata-se de promover as condições para que as favelas escrevam o seu próprio plano. A possibilidade de participar da construção de suas próprias políticas públicas é um direito que deveria ser dado a todos os cidadãos, mas sabemos que não é assim que acontece”, explica Alice de Marchi, coordenadora e oficineira do projeto.

Alice esclarece que o Plano da Maré será um importante instrumento de luta. “Se a comunidade efetivamente se apropriar desse documento, ele pode servir não só para indicar o que precisa ser melhorado e servir de proposta de ação, como também ser uma forma de mostrar a capacidade de organização da população local”, ressalta.

Ela cita exemplos como o do Complexo do Alemão, onde a comunidade escreveu um Plano de Ação antes da entrada das Forças Armadas no final de 2010, e a Vila Autódromo, que apresentou à Prefeitura um Plano de Urbanização, fortalecendo a luta dos moradores para impedir que a favela seja removida em função da Copa e das Olimpíadas, como deseja a prefeitura.

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[toggle title=”E a ética no orçamento público?”]

Artigo escrito a quatro mãos por Luiz Mario Behnken, economista, e Talita Araújo, estudante de economia (UFRJ), do Fórum Popular do Orçamento.

Já há muito associam política, orçamento à corrupção, roubo. Mensalão, escândalo Cachoeira-Delta, privatizações etc., uma sucessão de escândalos sem fim. Em todos os casos foi apresentado o crime como um problema de natureza individual, isto é, o Brasil seria maravilhoso se os nossos governantes fossem éticos. Há ainda um pensamento mais ousado (e perigoso) de que o ideal seria acabar com os políticos, pois estes nasceram apenas para roubar o nosso dinheiro.

Sem querer aliviar nenhum corrupto ou corruptor – cadeia neles! – o problema vai muito além de um desvio de caráter. É preciso compreender que as maiores imoralidades da nossa sociedade são a desigualdade social e a concentração de renda e estas, juntamente com a corrupção e o suborno, são favorecidas pelas instituições e o sistema econômico que nos governam. Ora, não existe corrupção maior do que a política que transfere para os banqueiros a maior parte da riqueza produzida por toda a nação! Então, o quê fazer?

Conhecer, participar e lutar sempre! O Orçamento Público é o melhor instrumento para termos uma cidadania ativa. Na verdade, é na disputa orçamentária que se define como o nosso dinheiro é distribuído. O orçamento cheio de códigos e números parece muito complexo e difícil. E é assim justamente para impedir a participação popular! Desta forma, as negociações obscuras acontecem para que os governantes decidam, por exemplo, gastar em propaganda ao invés da creche ou reduzir os impostos daquele famoso  empresário que contribuiu em sua campanha.

Portanto, é nas decisões orçamentárias que o povo pode e deve saber quem paga e quem recebe o dinheiro público. É preciso exigir que os governos façam seus negócios à luz do dia,  explicando tintim por tintim – o porquê, como e para quê será feito qualquer gasto público. Assim, teremos menos corrupção e escândalos.

Transformar o orçamento num verdadeiro instrumento do povo é o desafio. Preparamos a cartilha “De Olho no Orçamento” para que todos possam participar dessa luta.

Mobilize-se para abalar os alicerces dos poderosos que fazem do orçamento um meio dos ricos ficarem mais ricos e os pobres mais pobres. Sem ética não há mudança e sem mudança não há ética!

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[toggle title=”Rock da MarYEAH!”]

Comunidades cedem cada vez mais espaço para o rock, contribuindo para divulgar as bandas locais

Por Victor Vianna

O rock nunca foi novidade na Maré. Desde anos 1980, o som já tocava por aqui. Isso contribuiu para a consagração do estilo na  comunidade e também serviu de influência para futuras bandas que representam hoje o movimento dentro da favela da Maré. Atualmente existem pelo menos 12 bandas em atividade e vários projetos voltados para a “tribo” do rock.

Henrique Gomes é morador da Maré, guitarrista da banda Café Frio e figura importante na divulgação do rock nas comunidades locais. Para ele, o ritmo sempre teve seu espaço. O predomínio de outros estilos, como o funk, pagode e forró, é que diminuem a visibilidade do rock, mas isso tem melhorado bastante de um ano pra cá, com a retomada dos espaços de apresentação dos grupos em vários pontos do bairro.

“O rock sempre esteve presente dentro da Maré, sempre teve público pra isso. Lembrome do começo dos anos 1990, uma banda muito presente no cenário musical da Maré era a Dartherium”, comenta Henrique. Ele acredita que grande parte do incentivo vem dos próprios moradores que curtem o som e estão sempre presentes nas apresentações.

Um dos instrumentos fundamentais na difusão do estilo e na divulgação das bandas é o Favela Rock, festival mensal organizado pela Lona Cultural Herbert Vianna,a Lona da Maré, evento que também conta com o apoio de Henrique. “No início, o festival ajudou bastante, mas não tinha muito a cara do que acontecia aqui na Maré. Foi quando a produtora da lá me convidou para ajudar na produção da festa. A partir disso fui chamando bandas daqui pra tocar e deixei o festival mais no estilo do que acontece aqui dentro”.

Além dos bares que voltaram a ceder espaço para apresentação das bandas, como o Zé Toré, no Timbau, e do Leandro, no Parque União, ressurgiu mais um point em setembro: a praça da Nova Holanda, onde, no dia 1º, rolou apresentações de rock, grafite e skate. “O evento ‘A Praça é Arte’ significou muito para nós porque os moradores mais jovens puderam se apropriar novamente da praça. Além disso, o skate voltou para cá e localizamos novos artistas na Maré”, ressalta Letícia Sousa, uma das organizadoras.

Há também o projeto Metanóia, onde a galera se encontra pra discutir religião e tocar um rock’n roll ao final dos encontros, entre outros projetos.

Bandas também tocam fora da Maré

Quem tem aproveitado bastante esse período é a banda Algoz, que está em atividade há 10 anos. “Na nossa adolescência tivemos muita influência de pessoas mais velhas que ouviam rock. Isso acabou ajudando na formação da nossa personalidade musical. A vontade de tocar um instrumento veio depois de conhecer o rock; então acabamos nos aproximando para tocar juntos”, conta o guitarrista Diogo Nascimento.

Embora o cenário seja promissor, o grupo conta que, durante esses 10 anos, o número de bandas diminuiu bastante. O pouco retorno financeiro dificulta e faz com que muitos músicos tenham outros trabalhos, mas a animação do público sempre compensa. “Tocamos em vários lugares do município do Rio e fora. Sempre há lugares novos nos convidando. A resposta tem sido muito positiva, mas tocar aqui dentro da Maré é sempre muito mais explosivo, pois o público conhece muito bem nossas músicas, canta junto e vivencia nosso dia a dia, o que acaba sendo muito gratificante para nós”, ressalta Diogo.

Montar uma banda não é fácil, torná-la conhecida pode parecer impossível, mas a Maré tem feito um bom trabalho. Luta e persistência são características importantes do mundo do rock, porque se fosse fácil não seria rock’n roll.

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