Maré de Notícias #39

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[toggle title=”Jorginho é bom”]

Músico da Maré faz sucesso por todo o Rio

Por Fabíola Loureiro

José Jorge Teixeira, de 57 anos, o Jorginho de Bonsucesso, é um sambista nato. Quando era pequeno, sua mãe cantava nos coretos das praças em Minas Gerais e Jorginho fazia paródias e poesias na escola, o que deixava sua antiga professora de Português admirada.

Aos 12 anos, Jorginho veio para o Rio de Janeiro, onde morou em um barraco na Rua Almirante Tamandaré, no Parque Maré, e atualmente vive na Vila do João. Seu primeiro CD foi com o Grupo Comunicasamba e contou com a participação do pandeirista Merildo Peçanha e outros bambas do samba, todos moradores da Maré. Além de cantor, Jorginho toca cavaquinho e há 30 anos é compositor da GRES Estação Primeira de Mangueira.

Durante a semana, o cantor trabalha como torneiro mecânico, mas nos fins de semana sempre faz shows. Costuma marcar presença nas rodas de samba dos grupos Já é e Lá Samba, na Maré, dando uma “canja”. Nas noites de quinta-feira canta no Sublime Relicário, que fica na Lapa; e às sextas, no restaurante Severina, em Laranjeiras.

“Meu estilo musical é o samba e minhas músicas falam do dia-a-dia da população. Tenho feito show todas as sextas no Severina e lá são vendidos os meus CDs. Sambista eu sou desde sempre, mas com 13 anos eu comecei a escrever letras de músicas e não parei mais. O meu terceiro CD está bem eclético, com sambas homenageando a Mangueira, músicas que falam do nosso cotidiano e uma até que fala sobre a Região dos Lagos. Também já está sendo vendido, mas estou vendo um local para fazer o lançamento oficial”, conta o sambista.

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[toggle title=”Da lata para o livro”]

Fotografia e literatura são os fios condutores do projeto Mão na Lata, que lança seu segundo livro. A obra reúne fotos e textos produzidos por 15 jovens da Maré

Por Rosilene Miliotti

Uma lata com um pequeno furo, fita isolante e histórias para ler e narrar. Fonte de inspiração, os contos de Machado de Assis serviram de base para compor o ensaio fotográfico e as narrativas próprias. O resultado é uma leitura particular do Rio de Janeiro de hoje e o Rio de Janeiro que um dia abrigou Machado e suas histórias no livro “Cada dia meu pensamento é diferente”.

Jonas Willami Ferreira, 15 anos, responsável pela frase-título do livro, diz que “cada dia não sou eu, sou eus. Cada dia eu me sinto único. Quando abro os olhos pela manhã, ouço o silêncio dos meus pensamentos”.

“Queríamos um título capaz de ressaltar a qualidade cambiante do pensamento reflexivo, conquistado pelos alunos, após um prolongado processo de  criação”, explica a fotógrafa e designer Tatiana Altberg, coordenadora do projeto Mão na Lata.

Além de registrar em fotos os locais citados na obra de Machado de Assis, o projeto une literatura, fotografia, geografia urbana, história, pesquisa e arte, dando ao leitor a oportunidade de viajar no tempo e no espaço e conhecer a dinâmica de uma cidade e de uma sociedade que se desenvolvem em ritmo acelerado.

“Os meninos vão aprendendo a pensar as histórias e a gostar de seus personagens, sem se dar conta disso. Construir imagens faz com que eles se envolvam de tal maneira que a resistência em relação à leitura é quebrada aos pouquinhos, e nesse lugar nasce o gosto pela criação, ao invés do medo da prova”, comemora Tatiana.

“Machado de Assis trabalha de um modo imperceptível, como uma formiguinha, não entrega tudo”, diz Juliana de Oliveira, 14 anos. Já Nicole Cristina da Silva, 12 anos, define sua experiência com a fotografia dizendo que “o bom da câmera é que a gente escolhe a nossa janela”.

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[toggle title=”Mães artesãs da Maré”]

Conversas, trocas, risos e artesanato unem mulheres que aproveitam material reciclado para produzir peças criativas

Por Fabíola Loureiro

Com o objetivo de trabalhar a auto-estima das mulheres da Maré e proporcionar geração de renda para as participantes, foi criado em julho de 2010 o projeto Mães da Maré, que desenvolve técnicas artesanais para produzir bijuterias indígenas, crochê e peças com aproveitamento de garrafas pet e tampinhas de plástico. Atualmente o projeto é formado por oito mulheres. Este ano, o grupo foi o responsável por confeccionar os ornamentos (colares e cocares) da comissão de frente da Mangueira para a Sapucaí.

A coordenadora do projeto, Twry Pataxó, explica que o grupo não é apenas uma sala de artesanato, mas também um local de conversas, terapia e troca de experiências. “Muitas mulheres chegam sem saber nada e no grupo aprendem um pouco de cada técnica. Contamos piadas, rimos, choramos. Nos encontros as mulheres despertam para o mundo, como foi o caso da Kelly, que era apenas dona de casa, mas sentiu necessidade de voltar a estudar e foi fazer o Curso Pré Vestibular na Redes”, afirma.

Maria Silvina de Oliveira, 58 anos, moradora do Parque Rubens Vaz, participa desde o início do projeto. Ela conta que na época estava desempregada, ficava em casa sem fazer nada e não achava trabalho por causa da idade. Não sabia fazer nada de artesanato, mas viu alguns trabalhos prontos e teve vontade de aprender.

“Estava quase entrando em depressão por causa dos problemas, mas ao vir para o grupo comecei a ficar animada, pois a convivência com as mulheres é muito boa, a gente brinca e se alguém pensa em desistir a gente ajuda a perseverar. O artesanato não dá muito lucro. A gente vai atrás de tecido, garrafa, tampa e tudo que pode ser reaproveitado. Tem que saber fazer direito, caprichado, pois artesanato é algo que dá trabalho de fazer”, disse Maria.

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[toggle title=”Sem saída”]

Roquete Pinto pede passagem em direção ao centro da cidade

Por Silvia Noronha

Roquete Pinto perdeu uma importante via de saída, que dava acesso rápido à Avenida Brasil em direção ao centro. É que a Rua Santo Adalardo, que contorna a comunidade, virou mão única, servindo somente a quem vem da Ilha do Governador em direção à zona norte. O contrário não é mais permitido desde outubro, quando a prefeitura revitalizou a via. Com o asfalto liso e o trânsito em mão única, os veículos passaram a trafegar pelo local em alta velocidade. Para piorar a situação, não há como chegar à Escola Municipal Tenente General Napion sem atravessar a rua, que não tem sinal ou quebra – molas em toda a sua extensão.

“Tem gente que se arrisca. Às vezes vem um caminhão atrás do outro, fico até 10 minutos esperando. Depende do dia. Os  carros correm muito”, conta o adolescente Rodrigo Jhallys, estudante da General Napion. Seu colega Vanderson Simão da Silva também não gosta de enfrentar o trânsito. “Mas não tem como escapar. Tenho que atravessar”, conta ele.

Altemir Cardoso, presidente da Associação de Moradores de Roquete Pinto, faz um apelo à prefeitura para que, ao menos, instale sinal de trânsito na via. Mas o que ele reivindica mesmo é uma via de acesso rápido à pista da Av. Brasil em direção ao centro. “Peço à prefeitura que analise a situação, pois atualmente damos uma volta enorme. Precisamos sair em direção à zona norte, pegar o elevado da Penha e a Av. Lobo Júnior para então acessar o outro lado da Av. Brasil. Não tem outro caminho. Além disso ficou impossível chegar rapidamente ao Hospital Federal de Bonsucesso”, preocupa-se ele.

No final do ano, os moradores tiveram que implorar aos policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) para passar por dentro do antigo 24° Batalhão de Infantaria Blindada (BIP). É que duas crianças haviam sido atropeladas dentro da comunidade e os moradores queriam chegar rápido ao hospital para socorrer as meninas.

Por falar em Bope, o batalhão deve migrar totalmente para Roquete Pinto no meio do ano. Com isso, moradores que estavam construindo casas de alvenaria coladas ao muro da unidade foram impedidos de continuar suas obras. São 32 casas ameaçadas de demolição. “Estamos lutando pela permanência de todas as casas”, defende Altemir.

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