Maré de Notícias #64

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[toggle title=”Em busca de um sonho”]

Por Rosilene Miliotti

Roberto Custódio, morador da Nova Holanda, sonha com a medalha nos Jogos Pan-Americanos

O boxeador Roberto Custódio, 27 anos, morador da Nova Holanda, é titular na seleção brasileira na categoria meio médio (até 69kg) e em julho estava participando do seu primeiro Pan-Americano, em Toronto, no Canadá. A parada é dura. “Os cubanos são muito fortes nesta competição. Meu adversário mais forte foi três vezes campeão Olímpico”, explica.

Roberto conta que tudo que conquistou na vida foi graças ao boxe e que mantém a família com o que ganha como atleta. “O Roberto é da paz e nasceu para o boxe”, é assim que a esposa, Alexandra Oliveira Custódio de Queiroz, 26 anos, o define. Eles se conheceram ainda adolescentes no Luta Pela Paz, estão juntos há 10 anos e têm uma filha de 6. Aliás, no período da gravidez, Roberto foi para São Paulo treinar com a seleção brasileira de boxe e desde então fica no vai e vem entre Rio e São Paulo a cada 15 dias.

Ser atleta ou não?

Roberto, que pratica boxe desde os 13 anos, teve que renunciar muita coisa para estar na seleção brasileira. “No início só queria aprender a me defender e adorava ir para casa com a mão enfaixada com atadura, mas as pessoas perguntavam se eu estava machucado. Aí eu dizia que não, que estava fazendo boxe. Queria me mostrar”, lembra ele, que também queria ser reconhecido na comunidade por lutar bem, já que via que outros colegas eram reconhecidos por isso. “Vou ser lutador pra geral me conhecer também”.

Na seleção, além dele, há mais dois atletas de favelas do Rio, ambos do Vidigal. “A gente fala que o boxe é o patinho feio dos esportes, tem muitos moradores de periferias do Brasil. A diferença são os sotaques e as gírias”, comenta.

Antes da primeira competição, ele caiu de moto e quebrou o braço, o que retardou o início de sua participação nos eventos esportivos. “Em 2006, fiz a primeira viagem para competir. Minha esposa, na época companheira de equipe, também viajou. Fomos para a Irlanda do Norte. A gente não ganhava nada para lutar e de todos que viajaram, só eu que continuei no boxe. Por muitas vezes pensei em desistir, principalmente quando minha namoradora (agora esposa) engravidou. Meu treinador me orientou e falou para eu não servir ao quartel e continuar no esporte ‘porque eu era bom’. Respondi dizendo que gostava do boxe, mas eu não ganhava nada, e perguntei como faria para levar minha namorada pra sair? Lutador duro?!”, brinca.

O treinador, para convencê-lo, disse que se ele ganhasse a competição em São Paulo, conseguiria uma bolsa para ele. Roberto pediu dispensa do quartel, foi para a competição e perdeu. “Caraca, era pra ter ficado no quartel. Perdi e fiquei todo doido. Voltamos e comecei a treinar. Eu frequentava baile funk e voltava pra casa com o dia claro, mas para me dedicar ao esporte comecei a voltar às 3h, até que não fui mais.”

Em 2007, o boxeador voltou ao campeonato em São Paulo, o Luva de Ouro, e ganhou por três anos consecutivos. Agora acumula uma série de medalhas. “Tinha muita coisa no treinamento que eu achava chato, mas que fez muita diferença para eu chegar à seleção”, confessa ele. Custódio sabe que a vida atleta é curta e quer se formar e voltar ao projeto Luta Pela Paz para trabalhar como professor dando aula de boxe.

 

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[toggle title=”Academia José Aldo lotada”]

Como é comum nessa idade, Felipe, de 6 anos, e Mateus, de 7, não gostam de acordar cedo para quase nada. A exceção fica por conta das aulas de judô, que começam às 8h na Associação de Moradores do Conjunto Esperança. “Não tem cansaço, não tem dor; e se eu disser que não posso levá-lo, ele chora para ir”, conta Monique Cândido, mãe de Mateus.

Os dois fazem parte de um grupo de 300 crianças e jovens que praticam esportes na Escola de Lutas José Aldo, a primeira instalada em uma comunidade ocupada pelas forças de segurança, segundo o presidente da Associação de Moradores, Pedro Francisco dos Santos. “Estamos tentando ampliar o número de vagas, porque inauguramos a academia em 1º de junho e rapidamente lotou. Vieram alunos de várias comunidades vizinhas, como Vila do João e Pinheiro”, conta ele.

A escolinha é uma iniciativa do campeão peso-pena do UFC, José Aldo, em parceria com o governo do estado e a associação. “Gosto de assistir, vibro com meu neto aprendendo”, diz a avó de Felipe, Tânia Lúcia Teixeira e Silva, ao lado da mãe do menino, Priscila, moradoras do Conjunto Esperança.

Escola de lutas Judô, boxe, jiu jitsu e luta olímpica.

Horários: de segunda a sexta, manhã e tarde.

Local: Quadra da Associação de Moradores do Conjunto Esperança

OBS: Aguarda ampliação das vagas para novas matrículas

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[toggle title=”Policiais acusados de atear fogo em uma casa”]

Desde a desocupação das Forças Armadas, a Maré tem recebido quase diariamente operações policiais realizadas pela Companhia de Cães, Batalhão de Choque e Bope. Na manhã da quarta, 8 de junho, policiais militares fizeram buscas em várias comunidades.

Moradores contaram que PMs arrobaram uma residência fechada na Rua Castelo Branco, no Parque Maré, e colocaram fogo na casa. Bombeiros foram chamados e com ajuda de moradores extinguiram o fogo. O resultado do incêndio foi perda total. O morador estava trabalhando quando tudo aconteceu.

A casa ao lado também foi atingida e teve azulejos e pintura danificados. “Na casa estavam minha esposa e filho de um ano e seis meses, que saíram do banho correndo de toalha. Eles ainda respiraram a fumaça. Meu sentimento é de revolta”, conta o vizinho. Testemunhas disseram que policiais gritaram: “morador é tudo bandido”. As testemunhas não sabem dizer se os PMs eram do Bope ou do Choque.

Contatada no fim da tarde, a assessora de imprensa da Polícia Militar informou que iria apurar o caso. Nas ações desse mesmo dia, um jovem de 23 anos foi atingido no braço por uma bala perdida na Nova Holanda e não corre risco de morte. Desde o início da ocupação militar, o Maré de Notícias contabiliza 24 homicídios em diferentes circunstâncias nas favelas locais.

O defensor público Daniel Lozoya se colocou à disposição dos moradores que queiram entrar com ação de responsabilidade civil contra o governo do Estado. Diferentemente de um processo criminal, o objetivo da ação civil é buscar uma indeniza- ção para reparar danos financeiros enfrentados pelas vítimas.

Defensoria Pública: Rua México, 11/15º andar, Centro. De 10h às 18h.

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[toggle title=”Sem Terra pede melhorias”]

Área do Parque União onde hoje moram 10 mil pessoas precisa de investimentos públicos

Por Silvia Noronha

O casal Dione Gonçalves e Carlos Alberto Pereira, o Beto Flamenguista, é de um tempo em que os próprios moradores se uniam para fazer melhorias urbanas na favela. Poucos anos atrás, Beto, morador do Parque União (P.U.) desde 1961, tentou juntar os vizinhos para comprar e instalar tubulação de esgoto no Sem Terra, para onde se mudou com a família há 17 anos. Até então, ele morava na Rua Larga.

“Hoje em dia dependemos do governo; antes os moradores botavam a mão na massa, tudo era na base da colaboração”, diz ele, que foi um dos primeiros a ocupar o Sem Terra, onde hoje estima-se haver mais de 10 mil pessoas, segundo a Associação de Moradores do Parque União.

“Vim porque imaginava que seria melhor, por ser mais próximo da Avenida (Brigadeiro Trompowsky)”, conta ele. Dione adora o lugar. “Muita tranquilidade”, relata ela. Os problemas ficam por conta da falta de rede coletora de esgoto e do estado da fiação, um verdadeiro emaranhado que coloca a população em risco.

O presidente da Associação de Moradores, Edilmo Batista dos Santos, diz que o Sem Terra é a localidade do P.U. que mais precisa da atenção do poder público. A própria associação vem investindo em melhorias, como construção de praças, e cobra das concessionárias de luz e telefonia a organização dos fios e do governo o sistema de esgotamento sanitário. “Já pedi mas ainda está só na promessa”, afirma.

A falta de tubulação de esgoto faz com que as ruas alaguem quando chove, tanto que Dione e Beto subiram recentemente o nível da própria casa para que a água não invada mais. O casal mora na Rua Manoel Pereira da Silva, nome do tio de Beto, que também foi morador e hoje é falecido. A poucos metros da casa, tem um dos mais perigosos emaranhados de fio da localidade.

Mas como nem tudo é problema, a qualidade de vida no Sem Terra já ganhou muitos pontos com o asfaltamento pela prefeitura e a construção de novos espaços de lazer pela associação. Ao final da Rua Manoel Pereira da Silva, têm brinquedo para crianças e área coberta com mesa para os adultos jogarem baralho. No Portal da Ilha, tem uma nova quadra, em fase final de construção. “Vamos manter a ideia de homenagear as pessoas daqui. A quadra vai se chamar Paiva, que era morador da praça. Acontece o mesmo com as ruas do Sem Terra; quase todas têm nome de exmorador”, conta Edilmo.

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