Maré no rugby? Esporte inglês cresce e mira quebra de paradigmas

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Apesar de ainda pouco conhecido no Brasil, rugby é o segundo esporte mais praticado no planeta; praticantes mareenses compartilham suas trajetórias

Por Daniele Figueiredo (*), em 28/10/2022 às 16h

O Rugby foi criado na Inglaterra em 1823 por Willian Webb Elis, mas, segundo o historiador Paulo Várzea, o esporte chegou no Brasil através do atleta Charles Miller, que organizou o primeiro o time de rugby brasileiro, em São Paulo, em 1895: o Clube Brasileiro de Futebol Rugby. Em 1925, o esporte passou a ser praticado regularmente no Campo dos Ingleses, pertencente ao São Paulo Athletic Club, no bairro de Pirituba, na capital paulista. O rugby é o segundo esporte mais praticado no planeta, atrás apenas do futebol. 

Contudo, diferentemente do futebol, o esporte ainda não é muito popular no país. O rugby é comparado ao futebol americano, sendo que existem diferenças grandes entre os dois esportes. A diferença mais básica consiste no passe com as mãos, que pode ser para frente no futebol americano, ao contrário do rugby, que o passe é feito para o jogador que está na mesma linha da bola ou atrás dela. Seu objetivo é levar a bola até a linha de gol do rival, o máximo de vezes possível. 

Como outros esportes, o rugby pode abrir portas para as crianças e jovens moradores de favelas, ingressarem no profissional. A ideia é pôr em prática os cinco pilares que apoiam o rugby: integridade, paixão, solidariedade, disciplina e respeito. 

Bandeira do time de rugby da Uerj ao centro | Foto: Arquivo pessoal

“Nunca pensei que estaria jogando contra os caras da seleção em alto nível, viajando para outros estados do Brasil pra jogar rugby. Como morador, sair da Maré para jogar rugby representando a seleção do Rio de Janeiro, é muito bom. É sair da Maré para o Mundo. Algo que o rugby me proporcionou e eu acho que se mais crianças, mais pessoas tiverem essa oportunidade, nossa, iria ser muito incrível”, afirma Celso Candido (21), estudante de Ciências Sociais e morador da Maré:

Diferentemente de Celso, que conheceu o esporte quando entrou na universidade, outro morador da Maré, Leonardo Carneiro (19) pratica desde o início da adolescência. “Conheci o esporte com 12 anos, após minha mãe me matricular no Profesp/CPOR (Programa Forças no Esporte / Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro). Já pensei em ser referência em um campo mais amplo. Quando mais novo, no período que passei junto à seleção brasileira, eu pensava em poder ser referência para as futuras gerações do esporte dentro do estado do Rio. Já pude representar as cores do Rio em 3 torneios de rugby sevens, e agora estou tendo minha primeira experiência em um torneio de XV nacional.”

Mulheres no rugby

Os primeiros times femininos só foram criados setenta anos depois, desde que o esporte chegou ao Brasil. O Barra Rugby Clube e o Desterro Rugby Clube, que já tinham categorias masculinas, abriram espaço para as mulheres em 1997, em Florianópolis, capital de Santa Catarina. 

O rugby abre portas para mulheres e meninas, além de ser uma ferramenta importante tanto para o bem-estar físico quanto psicológico. “Em momentos complicados, era somente o rugby que me mantinha focada e conseguia me teletransportar para longe dos problemas. Foi ele que me ensinou sobre comprometimento, amizade, persistência, foco, determinação e muitas lições que eu sempre vou levar comigo. O rugby é uma parte de quem eu sou, um pedaço de mim”, conta a atleta Larissa Aguiar Rangel (23) que também é estudante de Letras da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

Integrantes da equipe feminina de rugby da Uerj. Alessandra Dias é a terceira jogadora de pé (da esquerda pra a direita) | Foto: Arquivo pessoal

Sobre o primeiro contato com o esporte, a estudante de história da Uerj, Alessandra Dias (32) explica que seu primeiro contato com o esporte foi através do cinema. “Eu assisti ao filme Invictus (2009), que conta como Nelson Mandela utilizou a Copa do Mundo de Rugby XV de 1995 para unir a África do Sul, após o apartheid e a sua eleição como presidente”.

Para essas mulheres, o rugby representa a possibilidade de praticar um esporte de contato, saindo do senso comum “de que as mulheres são frágeis”. E oferece um espaço de confraternização entre as equipes nas quais as diferenças são colocadas de lado, valorizando a diversidade.  O rugby  é um esporte de força que estimula o desenvolvimento de capacidade de liderança e a competitividade, ampliando a visão estratégica e facilitando o trabalho em equipe.

(*) Daniele Figueiredo é a aluna da primeira turma do Laboratório de Jornalismo do Maré de Notícias.

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