Maré de Notícias vem acompanhando planos de conservação, que seguem sem implementação pela Prefeitura
Por Jorge Melo e Hélio Euclides, em 10/03/2022 às 07h. Editado por Edu Carvalho
Gangorra com madeira rachada, escorregador faltando degrau, balanço sem a cadeirinha, além de bancos e mesas de cimento deterioradas. Essa é a realidade das praças cariocas. Na Maré, moradores desistiram de esperar o poder público e se uniram para reformar os espaços e criar novos brinquedos para as crianças.
A última grande obra em praças da Maré ocorreu em 2012, no Salsa e Merengue. Ocorreu a revitalização por meio da Secretaria de Conservação e Serviços Públicos, equipes da Coordenadoria Geral de Conservação, Rioluz e Comlurb. Em 2021, o Maré de Notícias realizou uma matéria que abordava a questão das praças, com destaques para Marcílio Dias e para ciclovia do Conjunto Pinheiros. Passados seis meses, as praças continuam na mesma situação. No início de 2022, Pedro Paulo, secretário de fazenda e planejamento visitou a favela de Marcílio Dias e anunciou a revitalização. A promessa é que ainda em março seja iniciada a reforma da praça perto da associação de moradores e construção de uma outra em um espaço subutilizado da favela.
“Nós não temos equipamento de lazer para as crianças. É descaso em cima de descaso. A favela é sempre enganada com promessas. Espero que neste ano eleitoral, as coisas possam mudar. Quem sabe a prefeitura se comprometa com os moradores”, questiona Walmyr Junior, professor, militante do Movimento Negro Unificado e presidente da Associação de Moradores de Marcílio Dias. Ele sabe na ponta da língua o que os moradores desejam. “Precisamos de um espaço que integre diversão, lazer e entretenimento, uma praça na qual as crianças e adolescentes possam brincar, praticar uma atividade lúdica e esportiva”, completa.
Para entender quem é responsável pela conservação dos espaços públicos, por decreto Nº 28.981, desde 2008 a Fundação Parques e Jardins mantém-se responsável pelo planejamento, paisagismo, projetos, arborização, reflorestamento e administração dos parques, assim como pelas normativas relativas às praças, parques e podas. Já à COMLURB cabe a responsabilidade pela conservação, manutenção e reformas de todos os canteiros, praças e parques da Prefeitura, bem como as podas das árvores.
Números da Prefeitura do Rio de 23/03/2011 a 30/04/14 sobre as solicitações de poda e remoção de árvores apontam para 85.356 pedidos, dos quais 67.921 (79,6%) correspondem à poda e 11.435 (20,4%) à remoção. Dos 160 bairros da cidade, 158 possuem solicitações destes serviços, tendo a Área de Planejamento 3, que compreende a Zona Norte, o maior número de solicitações, com 39%. No período a Maré solicitou 83 podas e remoções, o que corresponde a 0,3% do número total da cidade.
Além dos brinquedos, as praças precisam de árvores e plantas. Para isso foi criado em 2016 o Plano Diretor de Arborização Urbana da Cidade do Rio de Janeiro – PDAU Rio, um documento técnico que define as diretrizes necessárias para a implantação, monitoramento, avaliação, conservação e expansão da arborização urbana. Representa a primeira consolidação do planejamento da arborização da cidade do Rio de Janeiro. O documento está estruturado em dois capítulos: Diagnóstico e Planejamento, no qual constam os programas e as respectivas ações que devem nortear a gestão da arborização para os próximos dez anos.
Uma melhoria aguardada
Em entrevista ao RJ2, da TV Globo na última terça-feira (8/3), Eduardo Cavaliere, secretário municipal de meio ambiente da cidade, disse que a população vai sentir uma melhora nas praças em 2022, com o aumento do orçamento. Ele dá como exemplo o investimento de R$ 40 milhões para a Fundação Parques e Jardins.
Perguntada sobre os planos para a região, a Fundação Parques e Jardins informou que na Maré há projetos para duas reformas que aguardam liberação de recursos: na Praça Nova Holanda e Praça do Parque União na Rua Esperança. Afirmou que as ações obedecem a um planejamento e as praças da Maré fazem parte deste circuito. Ressaltou que vistorias serão realizadas neste setor da cidade no próximo mês, a fim de se traçar um diagnóstico e iniciar um plano de intervenção nas praças da Maré. Sobre a praça na ciclovia do Conjunto Pinheiros, prometeu que ainda esse mês ocorrerá vistoria para tomar-se as medidas possíveis. Já em Marcílio Dias a fundação assegurou que a praça, alguns campos e quadras foram vistoriados e que estão aguardando licitações.
Já a Companhia de Limpeza Urbana (Comlurb) informou que as pracinhas da Maré recebem limpeza e roçada de acordo com a necessidade. Destacou que atualmente a equipe responsável está atuando na Praça Buraco do Sargento, na Rua Caetés, no Morro do Timbau. Que a área está recebendo pintura, quatro bancos extensivos, dois jogos de mesa, manutenção do alambrado, amarração de tela, reparo na tela do corrimão da subida da escada, entre outros serviços. A empresa prometeu vistoriar outras praças e que os serviços de reparo podem entrar na programação.
Sistema de participação da sociedade para conservar bem público
Para não depender unicamente de orçamento, a Prefeitura lançou em 2014 o programa Adote.Rio. A proposta é que bens públicos de uso tenham participação de empresas, associações de moradores e cidadãos na gestão ambiental da cidade, por meio da adoção de áreas públicas como praças, jardins e canteiros. Dessa forma, o programa busca estimular a apropriação dos espaços públicos pelos cidadãos e promover melhores dinâmicas de uso destes importantes espaços do Rio de Janeiro.
Em São Paulo, no ano de 2017, a Prefeitura apresentou o programa Adote Uma Praça, com o objetivo de aumentar a conservação de áreas verdes na capital. Até novembro de 2021, foram 1.126 praças adotadas. A iniciativa privada é responsável pelos serviços de manutenção e conservação da área, limpeza, poda de árvore, revitalização de plantas rasteiras e o paisagismo completo.
Dandaiana de Freitas, moradora do Conjuntos Pinheiros, faz parte de um grupo de 15 amigos que estão engajados no projeto de adoção de forma informal à praça da ciclovia local. O grupo colabora com alguns materiais e mão de obra. Com a pandemia, quase não saía de casa, então levava as crianças para os brinquedos da pracinha. Com a utilização do espaço as mães sentiram a necessidade de limpar o ambiente e deixar organizado um lugar que estava abandonado. “Percebemos que podemos fazer até mais que os órgãos públicos competentes”, resume.
Apesar da mobilização, o grupo não quer substituir os órgãos públicos. “Eu acredito que a Prefeitura pode dar a população de comunidade uma área de lazer com mais estrutura e presença de profissionais que conservem o local e façam a manutenção dos equipamentos. As praças fora da favela são mais bem estruturadas e conservadas, o cuidado poderia ser o mesmo nos dois locais”, diz. Ela ainda reclama que há poucos espaços de lazer na Maré.
O grupo pretende fazer cavalinhos de pneus, pula-pula, trepa-trepa, enfeites para plantas e outros brinquedos para as crianças. Para essa ação, necessitam de doação de tintas sintéticas de várias cores, pincéis e rolinhos. Quem desejar ajudar pode entrar em contato pelo WhatsApp: 98906-8648.