Maré

Data:

Maré

substantivo feminino

1.ocn.fís fenômeno cíclico de elevação (preamar) e abaixamento (baixa-mar) das águas do mar, com a respectiva corrente, por atração do Sol e da Lua em suas posições relativas.

2.fig. força que impele as ações humanas, com avanços e recuos, fluxos e refluxos.

“trocou de partido quando percebeu que a m. ia virar”

3.fig. circunstância ou concorrência de circunstâncias; conjuntura, ocasião.

“m. de sorte”

4.fig. estado de espírito ou de ânimo; disposição, humor.

“acordou de boa m.”

5.fig. grande quantidade de pessoas; multidão.

“cresce, a cada dia, a m. dos descontentes”

    

Ana Clara tem 19 anos, nascida e criada na Maré. Descobriu ter Lúpus aos 15 anos, e diz ter um relacionamento estável com a doença. Estudante da escola pública por toda vida, participou da ocupação do Colégio Estadual Mendes de Moraes, onde estudou o ensino médio

Maré, você é um lugar de tantos significados,de tantas histórias e de tantos lamentos.

Quando você perde um dos seus você chora por inteira, do Pinheiro a Ramos, seja por uma criança ou por uma vereadora que nasceu e foi criada aqui.

Marielle via algo mais aqui. Marielle via uma Maré de oportunidade e eu acho que para ela isso era o suficiente. O suficiente pra lutar, não só pela Maré mas por todas as pessoas de todas as favelas, que estão a mercê da violência, não só da violência do tráfico mas a violência do governo. Marielle foi morta por balas do lote vendido à Polícia Federal e, mais uma vez, quem devia nos proteger infelizmente nos matou; mais uma vez. Toda vez que um de nós morre ou quando um jornal nos define como violentos e a favela como um lugar onde só mora ladrão e traficante,um pedaço seu se vai.

Mas deixa-me te contar algo, que se você só tem os jornais de TV como sua fonte de informação, provavelmente você não sabe: AS COISAS AQUI NÃO SÃO BEM ASSIM!

Aqui mora trabalhador, estudante, empresário, micro empresário, professor e muitas outras pessoas com as mais diversas profissões. A Maré é uma favela formada por pessoas de diversos lugares desse país e com pessoas até de outros países; temos uma Cultura diferente em cada esquina,em cada viela.

 A Maré nem sempre é dor e tristeza, me lembro bem da época que eu era um pouco mais nova. Minha época favorita era a de São João, eu não me lembro se já tinha a Redes na época ou não, mas o pedaço onde o prédio central é localizado ficava cheio de barracas, com coisas típicas da época; lembro que vinha gente de outros lugares pra dançar. Lembro que ninguém tinha medo de ir para Vila Olímpica ou de transitar de um lado para o outro. Lembro de brincar na minha rua,com a minha mãe me vigiando da janela; de andar de bicicleta, de uma esquina a outra; sempre esperava minha avó ir para a igreja pra poder rodear. Mas também lembro das coisas ruins, dos tiroteios, na hora que eu estava brincando na rua ou de quando eu estava vindo de algum lugar com os meus pais. Me lembro de ser avisada na escola de que estava tendo um tiroteio e por isso os alunos que moravam na Maré demorariam para serem liberados. Me lembro disso tudo,mas também me lembro que as coisas ruins não definiam a gente.

 

Foto: Elisângela Leite

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Apesar de alegar ‘ação pontual’, operação da PM paralisa escolas e serviços essenciais na Maré

Nas primeiras horas da manhã da última quinta-feira (5), moradores da Nova Holanda e Parque Maré viveram momentos de tensão, medo e incertezas ao acordarem com sons de tiros na região.

Projeto Entre Lugares Maré apresenta dois espetáculos gratuitos

Fundado em 2012, o projeto Entre Lugares Maré apresenta desde então espetáculos proporcionando outra perspectiva de vida aos jovens.

Dezembro Vermelho: HIV não tem rosto

Um dia, Vitor Ramos, influenciador digital estava entre as milhares de pessoas que viviam com HIV, mas ainda não sabia disso. Por conta do diagnóstico tardio, ele sofreu sequelas, no entanto, com tratamento adequada tornou-se indetectável

A favela é um espaço de potência negra

As favelas do Rio de Janeiro - hoje espaços de resistência -, historicamente se formaram como reflexo de um processo de exclusão social e racial, que remonta ao período pós-abolição da escravidão no Brasil.