Crescimento rápido do vírus pode sobrecarregar os hospitais
Maré de Notícias #111 – abril de 2020
Flávia Veloso
O Brasil, hoje, tem de correr contra o tempo para evitar que o coronavírus se espalhe descontroladamente, impedindo o controle da doença – a COVID-19. Em uma das entrevista coletivas que deu, o Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse que o crescimento de casos da doença “depende diretamente do comportamento das pessoas”. É verdade que os devidos cuidados com a higiene têm de ser tomados, mas faltam ações dos governos para o controle da epidemia. As principais delas são planos para evitar aglomeração de pessoas e testagem em massa da COVID-19, conforme recomendações da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Contudo, os testes estão sendo feitos somente em casos graves da infecção e ainda se via, na primeira semana, conduções lotadas de trabalhadores que não foram liberados para a quarentena. Isso se reflete no registro de contágio: no 3º dia de recomendação de quarentena (18/03), havia 55 infectados na cidade do Rio; no 8º dia (22/03), o número subiu para 168 e no 22º dia (06/04), o número alcançou a marca de 1461 infectados, segundo a Secretaria de Saúde do Estado (SSE).
Muitos trabalhadores que não foram autorizados a ficar em casa moram em favelas, correndo alto risco de contrair o vírus e transmiti-lo aos seus familiares. A realidade de casas em que moram muitas pessoas com poucos cômodos também não faz parte das preocupações do Estado.
Estudos da Universidade de Brasília (UnB) indicam que o aumento do contágio está em constante aumento. No caso do novo coronavírus, cada pessoa infecta três, três infectam nove, nove infectam 27 e assim por diante. Com a falta de testagem em massa na população, muitos casos podem não ser notificados e não haverá controle da transmissão do vírus.
Medidas de controle e prevenção
Alguns países, principalmente asiáticos, têm sido modelos a serem seguidos na questão do controle da epidemia. Japão e Cingapura não esperaram uma explosão de casos para isolar contaminados e incentivar a falta de contato entre as pessoas. China e Coreia do Sul, que já apresentavam milhares de casos, conseguiram controlar a situação com alto número de testes, rastreamento e isolamento daqueles que tiveram contato com infectados, toque de recolher, bloqueio de transportes e distanciamento social.
Medidas mais próximas das que a OMS tem recomendado estão sendo tomadas pelos governadores João Dória (São Paulo) e Wilson Witzel (Rio de Janeiro), estados com primeiro e segundo maior número de casos registrados, respectivamente, já com mortes causadas pela COVID-19. Até agora, Witzel determinou fechamento de shopping centers, cancelamento de eventos e suspensão de aulas; reduziu a frota de transportes públicos, proibiu a lotação de bares, fez recomendações para que as praias sejam evitadas, dentre outras medidas. Desde o dia 21 de março, a cidade do Rio foi isolada do restante da Região Metropolitana, proibindo a circulação de ônibus intermunicipais e limitando o uso de barcas, trens e metrôs. Apenas pessoas que trabalham em serviços essenciais estão sendo liberadas, após comprovar a sua atividade. Em âmbito municipal, o prefeito Marcelo Crivella determinou que os ônibus só podem circular com passageiros sentados.