Símbolo da festa de final de ano sai da sala e agora ocupa ruas e escola
Por Hélio Euclides, em 17/12/2020, às 09h40
Editado por Edu Carvalho
Este ano, a tradicional Árvore de Natal da Lagoa, zona sul do Rio e que anualmente conduzia moradores de diversas partes do Rio à região, não será montada. Mas os moradores, pelo menos na Maré, não ficaram órfãos do símbolo gigante envolto de adornos e enfeites. Além de árvores iluminadas pelas ruas das 16 favelas, há também um grande letreiro trazendo uma mensagem de esperança no alto do Morro do Timbau e da Praça do Dezoito, na Baixa do Sapateiro, com suas grades recheadas de inúmeras lâmpadas. É dessa forma que o clima natalino na Maré vai sendo fortalecido, com a presença de um grande pinheiro artificial na entrada da Vila do João, em cima de um contêiner. E a novidade trazida para este ano é uma árvore feita de garrafa pet, dentro do terreno do Ciep Hélio Smidt, no Rubens Vaz.
O símbolo das festas natalinas tem sua origem com várias versões. Para alguns, tudo começou com os povos pagãos da região dos países do nordeste do Continente Europeu. Depois tentou associar a tradição e a religião. Há quem diga também que foi o alemão Martinho Lutero quem, encantado com a beleza de pinheiros cobertos de neve, reproduziu, em 1530, uma versão enfeitada com algodão. Apenas no século XX essa tradição chegou à América Latina.
Na Vila do João, o artefato surge por meio do patrocínio da NHJ Contêiner, com o apoio da associação de moradores. “É maravilhoso e gratificante ter uma árvore de Natal na entrada da comunidade, pois é um símbolo que nos remete às comemorações das festividades de um ano que se vai. Representa uma comemoração das famílias reunidas, de um momento espiritual, de uma época que esquecemos as desavenças e rugas do passado, para nos unir. O Natal é a aproximação das pessoas”, conta Valtemir Messias, conhecido como Índio, presidente da Associação de Moradores da Vila do João. Ele garante que pretende providenciar outra árvore para dentro do território.
Uma árvore de Natal ecológica no Ciep
No terreno do Ciep Hélio Smidt, na favela Rubens Vaz, está sendo construída uma árvore gigante feita de garrafas pet. A ideia tem o apoio da direção da escola e da 4ª Coordenadoria Regional de Educação e é realizada pelo Projeto Encontro das Artes. A árvore de Natal é composta de aproximadamente 7.000 garrafas pet, com 14 metros de altura e 28 metros de circunferência. O projeto da árvore envolve cerca de 20 pessoas, com carga horária de mais ou menos 12 horas diárias. Serão 30 dias de trabalho para montar a árvore, que será inaugurada no dia 19 de dezembro, às 16h.
A construção da árvore vai virar um documentário, que conta tudo sobre a primeira de outras intervenções artísticas que o grupo pretende fazer. O objetivo também é agregar egressos que virão do Instituto Penal Vicente Piragibe para participar da produção. “A parceria veio para melhorar o ambiente escolar, pois a diretoria da escola não pode trabalhar sozinha, é preciso o apoio de instituições e moradores. Também temos que lembrar que a pandemia não parou com a criatividade e que desejamos um mundo sustentável. Por fim, não se pode ver jovens caírem no buraco [e não fazer nada]. Um dia caímos no buraco da criminalidade, mas somos exemplos de que é possível levantar, buscar a liberdade e querer trabalhar”, expõe Alexsander Laurindo, artesão e escultor.
A ideia veio dos componentes do Encontro das Artes, projeto que nasceu na Escola Estadual Henrique de Souza Filho – Henfil, que fica dentro do complexo penitenciário de Bangu, na zona oeste do Rio. Após obterem a liberdade, os participantes do projeto colocaram em prática os ofícios que aprenderam no sistema penitenciário. “Muito bom não se sentir sozinho. Esta iniciativa da árvore tem a ajuda do comércio local, familiares e moradores. Todos com o pensamento de que educação e cultura andam juntas”, conta um dos fundadores e presidente do projeto, Odir dos Santos, que é desenhista e artista plástico. O projeto conseguiu doação de garrafas pet, lanche e materiais, como arame, lâmpadas e fios.
O grupo tem o atelier na escola, mas com o apoio de Vilmar Gomes, o popular Magá, presidente da Associação de Moradores do Rubens Vaz, Gilmar Júnior, presidente da Associação de Moradores da Nova Holanda e a Ângela Viana, presidente da Associação de Moradores do Parque Maré foi possjível a criação do escritório do projeto na favela.
O próximo passo do grupo é a realização de oficinas artísticas, com aulas de pintura a óleo sobre tela, grafite, talha em madeira, trabalhos manuais e artes em geral. As oficinas serão direcionadas para o público infantil, que muitas vezes não tem opção de lazer e conhecimento. “Não tem dinheiro que pague ver essa árvore, fruto da união de pessoas que querem o melhor para a favela”, conclui Vando Fernandes, morador da Nova Holanda. Quem desejar conhecer mais sobre o projeto, visite a página no Instagram @oficialencontrodasartes e acompanhe a produção do grupo.