Moradores enfrentam desafios e insegurança para transitar pela Maré

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Com desordenamento urbano, conjunto de favelas vive alerta por causa de acidentes

Por Samara Oliveira 

“Os veículos de maior porte serão sempre responsáveis pela segurança dos menores, os motorizados pelos não motorizados e, juntos, pela integridade dos pedestres”, assim explica o Código Brasileiro de Trânsito (CTB). No entanto, o conjunto de favelas da Maré mostra um cenário bem diferente. Andando pela Rua Principal (Nova Holanda), pela antiga Rua Catorze (Vila do João) ou qualquer outra via principal das 16 favelas, é comum ter pedestres, ciclistas, motoboys e carros disputando os mesmos espaços. Essa competição (que deveria ser, na verdade, o simples e básico direito de ir e vir em segurança) é provocada pelo desordenamento urbano e facilita a ocorrência de acidentes.

A situação fica ainda mais crítica, se levarmos em conta que toda Maré conta apenas com uma única Unidade de Pronto Atendimento (UPA), localizada na Vila do João para o atendimento dos 140 mil moradores dos territórios. De acordo com a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU-RJ) realizou 39 socorros a pacientes vítimas de acidentes de trânsito na Maré entre janeiro e novembro de 2022: acidente de trânsito não especificado (com 22 casos) é a principal ocorrência, seguido de atropelamento (12 casos) e colisões (5 casos). 

Roberta Alves, moradora do Conjunto Pinheiros, está grávida e já se preocupa com o momento em que seu bebê estiver no carrinho. “Complicado o trânsito na favela, os motoristas não respeitam os pedestres. A falta de espaço nas calçadas causa uma competição na rua entre pedestres e motoristas. Os motociclistas raramente dão passagem, sendo assim fico muito tempo esperando para atravessar”, conta. Ela entende que, apesar do grande número de veículos, por sorte todos se entendem: “Parece que há um código, um mundo próprio.”

Mais sinalização

De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio), no início de 2022 foram feitas “intervenções na Maré com implantação de placas e pinturas nas ruas, sinalizando quebra-molas e travessia de pedestres, principalmente no entorno de escolas”. A companhia ressaltou que as melhorias também se deram ao redor das unidades de saúde e da Vila Olímpica. 

A companhia afirmou ainda que “na quarta-feira (21/12) ocorreu uma ação de vários órgãos, com a participação inclusive da CET-Rio, promovida pela Secretaria de Ação Comunitária —  Favela com Dignidade — quando foram feitas novas intervenções”, sem informar quais ruas da Maré foram beneficiadas.

Promessa de ciclovia da Maré

No fim de 2015, as ruas principais da Maré começaram a receber uma pintura para demarcação de ciclofaixas: a promessa era de que a região ganharia uma ciclovia de 18 quilômetros, ligando os territórios à Cidade Universitária e a Bonsucesso. 

Passados oito anos, a tinta do asfalto foi lavada pelas chuvas. Além de na lembrança, a promessa ficou em algumas placas de sinalização, bicicletários nas passarelas e um pequeno pedaço de ciclovia, que liga o Morro do Timbau a Vila dos Pinheiros, embaixo da Linha Amarela (onde as motos dominam o espaço).

O perigo na Maré não é apenas para ciclistas. Com a falta de ordenamento, muitos comerciantes utilizam as calçadas como extensão das suas lojas, empurrando pedestres para as ruas. Na edição número 128 do Maré de Notícias, o morador da Rubens Vaz Felipe Barcelar, de 23 anos, já alertava para os problemas de circulação e a falta que faz a inclusão dos ciclistas no planejamento urbano da Maré.

 “A gente está em um território periférico e o respeito pela bicicleta e pelo ciclista ainda é muito pouco: desde carros parados sobre a ciclovia a comércio que toma conta da calçada para colocar mercadorias e muitas vezes ocupa até mesmo a rua com cones, ferros e cavaletes”, reclama.

Segundo ele, “a Maré é muito grande, é essencial o uso dos espaços para melhor movimentação. As regiões do centro e da zona sul têm um desenvolvimento maior em mobilidade porque contam com espaço planejado e investimento”.

O que fazer em casos de atropelamento e outros acidentes de trânsito? 

SAMU 192
UPA Maré – Rua Nove, nº 4880, na Vila João
Hospital Federal de Bonsucesso – Avenida Londres, nº 616
Hospital Municipal Evandro Freire –  Estrada do Galeão, 2.920 – Ilha do Governador
Hospital Getúlio Vargas – Avenida Lobo Júnior, 2293 – Penha
Atenção: As clínicas da família e os centro municipais de saúde são unidades de atenção básica e não de pronto atendimento, isso é, não atendem casos de emergência.

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