Mulheres lésbicas terão espaço de acolhimento dentro da Maré

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Espaço será também o primeiro em território de favela a contar com abrigo temporário para lésbicas faveladas

Por Hélio Euclides, em 05/04/2022. Editado por Jéssica Pires

A laje da Casa Resistências ficou pequena para receber as cerca de 50 mulheres que estavam em festa para a inauguração do espaço localizado na Vila dos Pinheiros. A Casa Resistências será a sede da Coletiva Resistência Lésbica da Maré, formado por cerca de 15 mulheres, que atua desde 2016. O espaço será também o primeiro em território de favela a contar com abrigo temporário para lésbicas faveladas que foram expulsas de suas casas por lesbofobia. Além do lugar de acolhimento, a casa será um pólo de produção de arte e cultura, com viés na produção de direitos humanos para lésbicas de favela. 

O evento teve mesa de abertura com mediação de Paloma Marins, integrante da Coletiva Resistência Lésbica da Maré. Participaram da conversa Lazana Guizzo, arquiteta; Dayana Gusmão, coordenadora da Casa Resistências; Beatriz Adura, psicóloga e coordenadora de acolhimento da Casa Resistências; Flavinha Cândido, educadora e coordenadora do grupo de trabalho do mandato da deputada estadual Renata Souza; Mãe Lenira D’Óxum, matriarca da Casa Resistências e Camila Felippe, integrante da Coletiva Resistência Lésbica da Maré e coordenadora de segurança alimentar da Casa Resistências. A festa contou com a presença da vereadora Mônica Benício, viúva da também vereadora Marielle Franco.

Nos discursos, ficou evidente a necessidade de mulheres lésbicas de favela se organizarem para lutar por seus direitos. “Percebemos que a unidade de pessoas lésbicas de favela é forte. No Brasil, faltam casas como essa, pois quando se pensa em acolhimento, às existentes são fora da favela. Essa casa veio para mostrar que a favela é acolhedora, que ninguém precisa sair do seu território para ser cuidada”, diz Beatriz Adura. Para Paloma Marins, a inauguração é a realização de um sonho coletivo. “Juntas foi possível criar um espaço só nosso, da mulher lésbica. Um local onde uma vai cuidar da outra, sendo uma casa que vai ser o pontapé inicial na vida dessa mulher”, conta.

No evento também foi mencionado que toda mulher lésbica de favela que queira somar na luta é bem-vinda. “Pelo que sabemos, essa é a primeira casa de acolhimento lésbica numa favela na América Latina. Acolheremos preferencialmente as mulheres trans, mas também as cis. Hoje realizamos um sonho de uma casa com felicidade, esperança e afetividade”, lembra Camila Felippe. A casa terá infraestrutura onde as acolhidas terão um cômodo escritório para criação de currículo e estudo. “Não será uma casa só de afeto, mas de cuidado com alimentação e a saúde da mulher A união é prioridade, pois sabemos que para as mulheres pretas, pobres e lésbicas a vida é muito mais difícil”, comenta.

Colaborar para a casa continuar de braços abertos

A casa tem a capacidade de receber até oito mulheres, como um domicílio de passagem onde a mulher permanece pelo período de seis meses. “A ideia nasceu na pandemia de uma demanda que recebemos de muitas. Aqui, após sair de casa, vão ser acolhidas para fazer algo mais objetivo e prático. Um local de apoio para superar o momento, mas não só isso, aqui é um espaço de resistência cultural”, expõe Dayana Gusmão. A integrante da Coletiva Resistência Lésbica da Maré, Marcela Ferreira, moradora do Parque Maré, estava contente com a conquista. “É uma vitória da favela que agora me sinto representada por essa casa que vai acolher e abraçar essa mulher lésbica que passa por um momento difícil”, conclui.

Todas as mulheres presentes deixaram claro que a manutenção da casa só será possível com a ajuda de todo mundo. O imóvel está alugado e apesar da inauguração ainda precisa de reformas. No futuro, o grupo pensa na compra do local. Para todos esses objetivos, foi idealizada uma vaquinha na internet. Quem desejar conhecer a Casa Resistências, pode fazê-lo pelo Instagram: @resistencialesbica ou fazendo uma visita ao local, que fica na Via A/1, número 91, na Vila dos Pinheiros. Para ajudar é só acessar: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/nascimento-da-casa-resistencias.

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