No seu dia, professores falam sobre o amor e os desafios da profissão

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No último domingo (13), centenas de professores caminharam e correram em duas competições pelas ruas da cidade do Rio de Janeiro. Na camisa, os dizeres: Educadores vão além da sala de aula. Um desabafo de um profissional que durante todo o ano leva conhecimentos às pessoas, mas muitas vezes não encontra o seu reconhecimento. Hoje, mais do que comemorar o Dia dos Professores, os mestres querem também lembrar do pensamento do educador Paulo Freire, que a educação não transforma o mundo, mas muda pessoas, que assim transformam o mundo. 

Para homenagear todos os educadores, o Maré de Notícias entrevistou três professores de segmentos diferentes no ensino municipal. No Centro de Educação de Jovens e Adultos (CEJA/Maré), localizado próximo ao Conjunto Bento Ribeiro Dantas, Luciana Getirana de Santana, de 60 anos, leciona a disciplina de matemática a quem deseja aprender sem pensar na idade. Outra profissional é Simone Werneck Matias, de 46 anos, que atua no primeiro segmento do ensino fundamental na Escola Municipal Professor Paulo Freire, na Vila dos Pinheiros. Já na Praia de Ramos, a professora Raquel Mattos, de 49 anos, trabalha com as criancinhas no Espaço de Desenvolvimento Infantil (EDI) Armando de Salles Oliveira.

Maré de Notícias: Como surgiu na sua vida a escolha da profissão?

Luciana: Acho que surgiu no momento em que decidi fazer Matemática. Tinha por volta de 13 anos, estudava em uma escola municipal e ficava encantada com as aulas da professora Ângela, ela ensinava matemática de uma forma que todos os estudantes aprendiam. Mais tarde, quando cursava Matemática na UFRJ, encontrei a professora Ângela de novo, ensinando para os graduandos.

Simone: A escola Normal, unidade que formava professores, era ao lado da minha casa e eu era muito nova para estudar longe. Então a orientação que minha mãe deu foi essa. Logo no primeiro ano de formação já estava apaixonada pela profissão.

Raquel: Minha mãe foi professora e diretora e por isso eu já conhecia a rotina da profissão. Embora no início tenha escolhido ser professora apenas para pagar as contas e não quisesse seguir carreira, a profissão me ganhou. Tanto que já estou prestes a me aposentar.

Maré de Notícias: Há quanto tempo atua como professora e quanto nesta unidade escolar?

Luciana: Trabalho como professora desde 1986. Já fazem 28 anos. No CEJA Maré, comecei a trabalhar em 2012, quando a escola foi inaugurada. E estou lá até hoje.

Simone: Sou professora há 28 anos e estou no município há 25 anos. Na Maré comecei numa escola chamada de Classe Cooperação Baixa do Sapateiro, que funcionava na associação de moradores. 

Raquel: Atuo há 24 anos e 6 meses. Esse tempo todo na mesma escola, que antes era escola do primeiro segmento do ensino fundamental e agora é EDI.

Maré de Notícias: O que é ser professora?

Luciana: Difícil pergunta. Acho que sou uma trabalhadora da educação que compartilha saberes, que gosta do objeto que ensina. Como o objeto do meu trabalho que é ensinar matemática, gosto de trocar com os estudantes os processos de matematizar. Assim, me defino como professora, mas não sei se ser professora é isso.

Simone: Ser professora é se tornar referência para o outro de algum modo. Às vezes, é referência de postura, conhecimento, amizade ou de muitas outras formas. Não me vejo em outro lugar que não seja a sala de aula. É a profissão que permite uma troca intensa o tempo todo. Ensino aprendendo e aprendo ensinando.

Raquel: É minha profissão, meu sustento e o prazer de passar para outras gerações o conhecimento. É maravilhoso ver cada avanço no desenvolvimento das crianças. É um prazer ter ex-alunos trazendo seus filhos e entregando nas minhas mãos com todo amor e carinho. Amo demais.

Maré de Notícias: O que acredita que pode melhorar ou mudar nessa sociedade com o seu trabalho?

Luciana: Acredito que possibilitar às pessoas a compreensão de que elas possuem saberes tão ou mais importantes do que os que eu possuo ajuda a reconstruir uma sociedade em que não importa a profissão, somos trabalhadores de diferentes setores que precisamos ser reconhecidos e remunerados de forma digna. Assim, possibilitar o diálogo, o respeito e a solidariedade em minhas aulas contribuem para o empoderamento de todos.

Simone: Estou em sala acreditando nessa mudança, pois é através da educação que podemos formar uma sociedade mais humana. A formação educacional do ser humano, em qualquer etapa da vida, impulsiona para uma mudança de postura, de atitude e política. Alguns dizem que sou sonhadora demais e que pelos anos que tenho como professora já deveria estar cansada, desanimada ou farta de tantas dificuldades que encontramos. Mas ainda entro na sala esperando pelo novo, com orgulho de exercer minha profissão, com o brilho no olhar e com a emoção de ver e acompanhar o crescimento dos meus alunos. Isso é o que mais me importa.

Raquel: A esperança de estar colaborando para que cresçam pessoas de bem, inteligentes, críticas e atuantes na sociedade fazendo um futuro melhor para todos nós. Mas para isso é preciso reverter a falta de valorização do professor, que algumas vezes percebemos em atitudes dos responsáveis e muito mais nas dos governantes. Também faltam investimentos, um exemplo é o EDI Armando de Salles Oliveira, que antes era uma unidade escolar do ensino fundamental e agora de educação infantil, mas a estrutura não foi adaptada.

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