Nova Holanda: a favela que nunca dorme

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Remoções e lutas por reconhecimento marcaram as seis décadas de vida da Nova Holanda

Maré de Notícias #152 – setembro de 2023

A favela da Nova Holanda nasceu em 1962, agregando moradores de vários lugares da cidade. Uma população diversificada que formou uma favela única, como uma colcha de retalhos. A população foi fundamentalmente formada por moradores removidos de outros territórios como as favelas Macedo Sobrinho, Praia do Pinto, Morro da Formiga, Morro do Querosene e Morro do Esqueleto. Os moradores sofriam com a perseguição à população mais pobre e com as políticas de erradicação de favelas levadas a cabo pela gestão do governador Carlos Lacerda (1960-1965), do então Estado da Guanabara.

A Nova Holanda foi concebida como um Centro de Habitação Provisória (CHP).  Era um local de triagem, construído dentro de um programa que visava muito mais retirar favelados de áreas nobres da cidade do que resolver o problema habitacional.

As unidades eram erguidas em madeira, segundo dois projetos: simples e em dois pavimentos (conhecidos como duplex), hoje chamada de Tijolinho. Os alojamentos deveriam ser temporários; no entanto, as casas transitórias de madeira acabaram por se tornar definitivas.

Madeira de obra

Arides Menezes, de 72 anos, é famoso na Nova Holanda graças à sua trajetória no futebol no Campo da Paty. Ele chegou à Maré em 1955: “A favela não foi criada de uma só vez. Antes de morar na Nova Holanda, meus pais eram do Parque Maré, que crescia com as madeiras que eram levadas da obra de construção do CHP.”

Segundo ele, “nesse período o número de palafitas aumentava. Esse crescimento só parou com a construção da Linha Vermelha, em função da ECO 92. Depois, foi criada uma equipe de apoio, que não permitia novas construções no local”.

Alguns moradores foram transferidos para a Cidade de Deus e Vila Kennedy, mas retornaram para a Nova Holanda, pois a favela tinha ônibus para todo lugar e ficava mais perto do trabalho. 

“A Nova Holanda é a Torre de Babel e, ao mesmo tempo, o começo de muitas comunidades. Quando a Vila do João nasceu, parte dos moradores das palafitas da Nova Holanda foi para lá. Depois, com a construção da Vila dos Pinheiros, o restante foi removido”, lembra Arides. 

Seu amigo Hélio Vieira, de 73 anos, chegou à Maré em 1953 e recorda com carinho do passado. “A Rua Teixeira Ribeiro era famosa, tinha poucos barracos, mas muito movimento por causa do comércio. Ela era a nossa Rua da Alfândega. Existiam muitos campos, como o do Ouro Negro e o do Oriente. O futebol mandava e a vida da criançada era a escola e o campo”, conta.

Associação de moradores

Em 1984, Arides trabalhou em uma quermesse e chamou a atenção de Eliana Sousa Silva, fundadora e hoje diretora da Redes da Maré, que o chamou para compor a Chapa Rosa para a eleição da associação de moradores. 

“Ela era conhecida como Eliana do Armarinho e venceu a eleição concorrida contra o Totonho, da Chapa Azul. Naquele tempo era mais difícil, não tínhamos salários e poucos moradores pagavam mensalidade. Um dos nossos avanços foi colocar nomes nas ruas, que antes tinham letra e número”, conta. 

Para Arides, “foi um mandado bom. Quando víamos os pontos críticos, ou nos mobilizávamos em mutirão para resolver o problema ou fazíamos ofícios ao poder público”.

A mobilização da associação conseguiu muitas vitórias e melhorias, como a construção de casas de alvenaria por meio de financiamento de material, a reforma de casas atingidas por incêndios e a canalização do valão que passava por onde hoje está a praça da Nova Holanda. 

No nosso próximo encontro descobriremos como nasceu a Praia de Ramos. Até lá!

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