Profissional da Maré fala do seu trabalho, que exige, como “habilidade essencial”, a capacidade de amar e cuidar do próximo
Maré de Notícias #101 – junho de 2019
Hélio Euclides
Apesar das particularidades de cada carreira, é imprescindível que o enfermeiro goste de gente e que considere seu maior prêmio a recuperação de um paciente. Mais que cuidar das feridas, das dores e das doenças, a Enfermagem restaura a integridade e a dignidade humana. Apesar do não reconhecimento que merece, é um agente transformador, que luta pela redução das injustiças sociais, a partir de seu trabalho. Atualmente, não existe hospital que possa fazer medicina de ponta se não contar com um corpo de Enfermagem bem-preparado.
Álvaro dos Santos, de 44 anos, além de ser morador de Marcílio Dias, é um dos oito enfermeiros que trabalham na Clínica da Família Jeremias Moraes da Silva, na Nova Holanda. “Fui vendo o trabalho das parteiras e acabei amadurecendo a ideia de atuar na Saúde. Em 1998, fiz o curso de Técnico de Enfermagem e gostei”, conta. Seu primeiro trabalho foi com os Médicos sem Fronteiras em 2004. Depois, em 2007, no Centro Municipal João Cândido, ambos como Técnico e na favela onde mora. Foram 12 anos de trabalho em Marcílio Dias.
Ele detalha que não é fácil se formar em Enfermagem, pois são cinco anos de estudos, e depois vem a Pós-Graduação, que Álvaro fez em Saúde da Família e Obstetrícia. “Na faculdade, a adesão ao curso é pequena. A minha turma começou com 60 alunos e terminou com 20. No meu caso, foi cansativo, trabalhava de dia e estudava à noite. Agradeço à minha mãe, que foi meu porto seguro, me deu um superapoio”, lembra. Álvaro só lamenta que se formou em dezembro de 2016 e a mãe faleceu um mês depois. “Eu via a dificuldade de minha mãe, então estudei para cuidar dela, que era cardiopata”, confessa.
Depois que concluiu os estudos, Álvaro foi trabalhar no Ciep Samora Machel. “Foi um desafio, com pessoas diferentes, mais atribuições e responsabilidades. Quando cheguei aqui encontrei um mundo novo, pois vinha de um local pequeno. Me assustei e me perguntei: O que eu vim fazer aqui? Me acostumei e hoje gosto muito da Maré, e não vejo dificuldade em trabalhar aqui. Na colação de grau fiz um juramento de ser fiel à profissão e todo dia me lembro disso”, exalta. Para ele, o profissional precisa se identificar com a carreira, trabalhar com vontade, fazer o que gosta.
É importante também que todos saibam as atribuições do médico e as dos enfermeiros – questão que, por vezes, leva a mal-entendidos. “Temos os nossos limites. Nós transcrevemos as receitas, fazemos um exame físico e avaliamos a medicação. Tendo algum problema, ele volta para o médico”, explica. Ele só fica chateado com os comentários de que o enfermeiro almeja ser médico. “Respondo que fiz minha escolha e desejo ser enfermeiro até o último dia da minha vida. É linda a profissão, até o nome soa bonito. Nós trabalhamos com pessoas, sem o enfermeiro não há atenção básica. Atuamos no indivíduo e não na doença”, exalta. Ele comenta que o agradecimento na Enfermagem, muitas vezes, vem com um sorriso ou como fez o Arlindo Cruz, que compôs uma canção, em 2016. Arlindo, que é filho e irmão de enfermeiros, fez a música atendendo a um pedido de sua madrinha, Beth Carvalho. A música foi finalizada durante os 45 dias em que o artista esteve internado em função de uma operação no joelho. Confira.
Anjos de Branco
Autor: Arlindo Cruz
Anjos de branco,
Sempre abençoadas sejam suas mãos.
Irmãs de santos, irmãs de Calcutá,
Freiras companheiras
Anjos de branco,
Mensagem de esperança e fé.
Mas que encantadas,
Sempre dedicadas, são guerreiras.
Nem tudo são flores,
No caminho que Ana Neri ensinou.
De cabeça erguida,
Secando feridas,
Salvando vidas com amor.
Você sabia?
ODia Internacional da Enfermagem e do Enfermeiro é comemorado em 12 de maio. Trata-se de uma homenagem a Florence Nightingale, que nasceu neste dia, em 1820. Florence foi uma destacada enfermeira, que atuou em guerra e criou a primeira Escola de Enfermagem da Inglaterra. No Brasil, a Enfermagem tem em Ana Néri (1814-1880) sua pioneira. A enfermeira prestou serviços voluntários nos hospitais militares durante a Guerra do Paraguai, que durou de 1864 a 1870.