Artigo: O impacto da qualidade do ar e as mudanças climáticas na Maré

Data:

Por Laerte Breno – Campanha Climão, em 26/04/2021 às 10h

O ar que respiramos recebe grandes quantidades de gases e partículas líquidas e sólidas, que, apesar de serem bem pequenas, provocam um grande impacto ambiental e põe nossa saúde em risco. Por exemplo, quando levamos em consideração que a favela da Maré é localizada entre as três principais vias expressas do município do Rio de Janeiro (Linha Amarela, Linha Vermelha e Av. Brasil) os veículos que passam por elas liberam o SO2, um composto químico altamente tóxico e a sua inalação pode ser fortemente irritante. Além disso, a falta de árvores e a proximidade das casas dificultam o ar de circular e refrescar a região.


Maria de Fátima, moradora da Maré, trabalha como diarista em bairros da zona sul do Rio de Janeiro, reconhece bem a diferença de respirar aqui na favela e e no Jardim Botânico, “O clima lá (Jardim Botânico) é bem diferente da favela. Aqui onde moramos é muito mais quente. Eu trabalho no Jardim Botânico e sinto uma diferença enorme. É muito triste vivermos nessa situação”. A moradora reconhece que com o crescimento populacional no território, muitas árvores tiveram que ser cortadas, o que alterou a sensação de bem-estar na localidade. “A Maré quando foi construída, boa parte das casas tinham árvores em frente aos portões. Era pra ter deixado as árvores, pois teríamos um ar mais puro e mais fresco”.


Esses exemplos de poluição do ar são conhecidos como Poluição Atmosférica e estão ligados intimamente com as mudanças climáticas, pois se reduzirmos as poluições no ar, também amenizaremos e estaremos cuidando do clima dentro e fora da nossa favela. Esse ar poluído atinge não só os pulmões, mas pode provocar mortes precocemente. Logo, percebe-se que a situação acarretada pelas mudanças climáticas já exibe danos severos para os pequenos. De acordo com dados da Redes Maré, em 2018, foram 30 óbitos em crianças de até 5 anos por doenças respiratórias.


Além disso, o excesso de calor, dificuldade de circulação do ar e as doenças pulmonares causadas pelas mudanças climáticas, atualmente, estão sendo somadas com a pandemia do novo coronavírus, pondo em risco, de forma ainda mais forte a nossa saúde respiratória
A favela da Maré, por exemplo, é privilegiada em relação às demais favelas do município do Rio de Janeiro por conter uma enorme área florestal, o Parque Ecológico, conhecido na comunidade como “Mata”.

A localidade conserva diversas espécies de plantas há anos e pode ser uma excelente proposta para refrescar o ambiente e deixar o ar que respiramos mais fresco. Porém, apesar da existência de um espaço tão importante, o local vem sofrendo degradação e só se mantém viva graças a atuação de preservação dos moradores e garis comunitários. Por isso, é importante mobilizar as entidades locais e seus vizinhos para pensar a revitalização do espaço e multiplicar o local com mais verde.

O cuidado com o ar também deve estar nas nossas casas. Evite tonalidades muito escuras, pintar as paredes de branco ou numa cor clara pode aumentar a sensação de conforto térmico. Além disso, na Vila do João e na feira da Teixeira Ribeiro, existe pessoas que vendem mudas de plantas num precinho bem acessível, compre algumas para o seu lar e cuide delas, trazer o verde para dentro de casa é uma excelente opção para melhorar a saúde de nós, moradores, e principalmente pela capacidade das espécies de filtrar os poluentes. Você estará não só amenizando os impactos destrutivos do meio ambiente, mas também fortalecendo a economia local.

Compartilhar notícia:

Inscreva-se

Mais notícias
Related

Por que a ADPF DAS favelas não pode acabar

A ADPF 635, em julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF), é um importante instrumento jurídico para garantir os direitos previstos na Constituição e tem como principal objetivo a redução da letalidade policial.

Redução da escala 6×1: um impacto social urgente nas Favelas

O debate sobre a escala 6x1 ganhou força nas redes sociais nas últimas semanas, impulsionado pela apresentação de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que propõe a eliminação desse regime de trabalho.